São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2007

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Tânia Maria diz que ainda se sente "exilada"

Cantora e pianista radicada na França inicia temporada de shows em São Paulo

Artista abandonou o Brasil em 1974; show atual foi formatado nos EUA e na Europa e terá participação de Edmundo Carneiro


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dois anos atrás, ela interrompeu um hiato de três décadas sem se apresentar no Brasil. Quem teve o privilégio de assistir ao show que marcou a volta de Tânia Maria encontrou uma artista carismática. Não é à toa que, desde os anos 70, essa cantora e pianista radicada na França vem conquistando platéias pelo mundo, em festivais e clubes de jazz.
Apesar da emoção que sentiu ao retornar aos palcos brasileiros, ela afirma que ainda não deixou de se sentir "exilada". "Isso não muda da noite para o dia", diz Tânia, que abandonou o país em 1974, após ser detida e agredida verbalmente por policiais, ao sair da boate onde tocava, no Rio de Janeiro. "Depois daquilo eu não podia ficar mais aqui", justifica.
O fato de hoje ser pouco conhecida em seu próprio país é encarado por ela "quase como um desafio". "Aqui ainda preciso me apresentar, dizer quem eu sou, mas, em vez de me encabular, isso me estimula", afirma a maranhense crescida no Rio, que inicia hoje uma temporada de duas semanas no teatro Fecap, em São Paulo.
"Desta vez vou mostrar um trabalho que comecei há pouco tempo, nos Estados Unidos e na Europa, com piano e percussão. Não fiz adaptações para apresentá-lo no Brasil. É exatamente isso que passa hoje pela minha cabeça, pelo meu corpo, por minha alma", diz. Nos oito shows, a cantora e compositora terá a companhia do percussionista Edmundo Carneiro.

Convidado
Adepta do improviso, Tânia não descarta a possibilidade de também contar com eventuais convidados nessa temporada.
"Estou esperando um telefonema do Ed Motta", diz, revelando que o músico carioca e ela planejam um álbum em parceria. "Já conversamos algumas vezes, na Europa. Antes de eu ir embora, vamos acertar algo."
No repertório dos shows, além de alguns de seus sucessos de outras épocas, ela inclui faixas de "Intimidade", seu ótimo álbum lançado em 2005 pelo selo norte-americano Blue Note (EMI), que aqui só pode ser encontrado em edição importada. "Nesse disco, reuni composições minhas e outras músicas que remetem ao aspecto da intimidade. Algumas pessoas pensam que intimidade se refere a sexo, mas intimidade, para mim, tem a ver com amor. Você não pode amar ninguém, sem uma certa intimidade", explica a cantora.
Além de exibir composições próprias, como "Chorinho Brasileiro" e "Canto", nesse álbum, Tânia inclui criativas releituras do samba "Água de Beber" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), do frevo "Evocação" (Nelson Ferreira) e do bolero "Besame Mucho".
Tânia também conta que está preparando repertório para um projeto que promete dar o que falar: o retorno de seu trio de jazz com o baixista Eddie Gómez e o baterista Steve Gadd, em uma longa turnê que começa em outubro.
"Acho que esse trio vai fazer um barulhinho por aí. Se todo mundo do rock está voltando, nós também podemos voltar", ela conclui, rindo.


TÂNIA MARIA
Quando:
de quinta a sábado, às 21h; domingos, às 19h; até dia 1º
Onde: Teatro Fecap (av. Liberdade, 532, tel. 0800-551902)
Quanto: R$ 5 e R$ 10 (só às quintas); R$ 15 e R$ 30


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