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Televisão / Crítica
Russos da pesada protagonizam filmes
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Às vezes, a Rússia parece um
país muito estranho. Nos damos conta disso vendo "Dr. Jivago" (Futura, 1h30, não indicado para menores de 12 anos),
por exemplo. O romance de Boris Pasternak foi publicado em
1958, com direito a Nobel e tudo mais, e esteve no coração da
Guerra Fria. Soou aos olhos do
mundo ocidental a prova final
dos horrores do comunismo.
Tanto mais que o autor não
era um antirrevolucionário ou
algo assim. Caíra em desgraça
durante a era de Stálin -e pouca gente restou para contar a
história. Pasternak foi um deles. O certo é que a Rússia tradicionalmente viveu sob o peso
do autoritarismo, desde o tempo dos czares, e que seus intelectuais há muito tempo eram
uma força de resistência.
Assim, persistiram, quando
puderam. Não conheço o livro,
mas a versão filme, embora imponente, sofre de excessivo
sentimentalismo. Parece, na
verdade, que David Lean não
estava muito aí para a Guerra
Fria ou o comunismo.
Eis que os russos ressurgem
na era pós-comunista, na qualidade de gângsteres. Gângsteres, no caso de "Senhores do
Crime" (amanhã, TC Premium, 22h, 16 anos), é uma espécie de eufemismo. O personagem de Armin Mueller-Stahl, o chefão, puxa um bando
de seres monstruosos. São mutantes, bem ao gosto de David
Cronenberg, mas não há mais
mutações genéticas (como em
filmes anteriores), e sim culturais, neste filme admirável.
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