São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

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"Cinema" de Hirsch cria ambiente transformador

Peça retrata uma sala de cinema de arte com personagens em cenas curtas Espetáculo, lançado em Curitiba, estreia em São Paulo na sexta; som e iluminação criam separação entre atores e público

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Atores da Sutil Companhia de Teatro em cena da nova montagem do diretor paranaense, que recria uma antiga sala de exibição

GUSTAVO FIORATTI
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

O diretor Felipe Hirsch apareceu no hall do teatro Guairinha, em Curitiba, como se estivesse em sua própria casa, para receber as 80 pessoas que iriam assistir a estreia de "Cinema". "Por aqui, gente", apontou ele a uma porta que dava para os fundos do espaço. "Bem-vindos aos calabouços do teatro Guaíra", brincou, acentuando um quê de mordomo.
O caminho passava por trás da plateia e dava diretamente sobre o palco, que estava dividido em duas partes. De um lado, uma arquibancada improvisada, para o público sentar-se. Do outro, espelhado, um auditório cenográfico, trabalho de Daniela Thomas que cria o ambiente de um cinema decadente, com poltronas de couro vermelho, algumas rasgadas, onde a Sutil Companhia de Teatro encenou, dias 18 e 19, uma das peças até então mais comentadas pelo público do festival.
Contou Hirsch, em entrevista, que as poltronas vieram de um cinema do interior paulista cujo teto desabou. É o mesmo cenário que vai ao teatro do Sesi, em São Paulo, a partir do dia 26. Na temporada paulista, no entanto, o diretor abre mão desse intimismo cênico criado sobre o palco, e o público assiste à montagem de seus lugares.
É dessa primeira imagem -uma plateia, pura e simples- que Hirsch extrai uma série de pequenas cenas, encaixadas de forma a construírem uma espécie de fractal. Um casal se beija num canto. Uma menina dubla cenas de Elvis Presley do outro lado. Um tarado passa se esfregando nas costas de quem encontra pela frente. E uma mão misteriosa aparece por trás das fileiras distribuindo bilhetes.
Uma colagem de áudios de filmes (dá para reconhecer diálogos de "Manhattan", de Woody Allen, e de "O Vampiro", de Carl Theodor Dreyer, entre outros) e a iluminação de Beto Bruel criam uma fina separação entre as plateias cenográfica e real, a fronteira onde, supõe-se, estaria a tela de projeção. Nós os vemos do lado de cá, eles não nos enxergam do lado de lá, a não ser em um breve momento, um dos mais poéticos, lá pelo fim da peça.
Para Hirsch, essas pequenas cenas não estão soltas. "Existe uma camada por trás delas. Aquele cinema é um espaço capaz de transformações. Existe um todo transformador por trás de cada imagem."
Não é a primeira vez que essa ideia é colocada em cena. Em 2005, o Sesc levou à São Paulo "Cinema Cielo", espetáculo de um grupo italiano que propunha o mesmo jogo de espelhos. A diferença era a referência a uma sala de filmes pornôs.
Hirsch acha que o espaço retratado na peça é uma sala de cinema de arte. "Dá para notar que é um lugar de rua, desses que ficam meio vazios, e que estão desaparecendo. Com certeza não é num shopping."


O jornalista GUSTAVO FIORATTI viajou a convite do Festival de Teatro de Curitiba

CINEMA
Quando: estreia sexta; de qui. a sáb., às 20h; dom., às 19h
Onde: Teatro do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 0/xx/11/3146-7000)
Quanto: grátis (qui. e sex.) e R$ 10 (sáb. e dom.)
Classificação: livre


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