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"CABRA-CEGA"
Nova MPB nasce sem imaginação
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se Fernanda Porto representa
-como quer se fazer crer-
uma "nova" MPB, esta já nasce
repetitiva e sem imaginação. Em
cerca de cinco anos, a cantora/
compositora/multiinstrumentista tornou-se ponta-de-lança de
um novo movimento dentro da
música brasileira: o samba eletrônico, a bossa com drum'n'bass.
Apesar de relativamente recente, a fórmula já soa primária e repetitiva (talvez sejam caraterísticas de nascença), apesar de razoavelmente popular. O mercado, esperto, já gerou os genéricos, como
o Kaleidoscópio (quem se lembra
de "tem que valer, valer, viver"?).
Agora, depois de dois álbuns
autorais, Fernanda Porto ressurge
nas lojas com a trilha do filme
"Cabra-Cega", de Toni Venturi.
Além de compor os temas pontuais, que recebem nomes como
"Tiago Deprê" e "Marijuana", ela
aparece recriando canções emblemáticas da época em se passa o filme: o começo dos anos 70, com
seu pesado clima político. Aparecem composições como "Teletema", o teminha à Francis Lai de
Antônio Adolfo e Tibério Gaspar,
cantada aqui por Ná Ozzetti.
A trilha não é de todo má. A
compositora consegue criar ao
piano (e até com detalhes eletrônicos variados) algumas músicas
simples e singelas, ainda que sem
sal, como convém a uma trilha.
Mas existem os equivocados
momentos de arroubo -representando os momentos elétricos
do personagem-, com constrangedores sons "distorcidos" de
guitarra. Nas canções-releituras,
então, dá tudo errado. Como era
de esperar, todas as versões são
extremamente inferiores às originais e pouco acrescentam a elas.
"Roda Viva", de Chico Buarque,
com participação do próprio,
vem com alguns bons elementos,
como um belo groove de piano e
baixo e um detalhe de violino,
mas tudo cai por terra quando
surge a infame batida. "Sinal Fechado", de Paulinho da Viola, é
cantada em dueto com Toni Garrido -o que dizer mais? Pelo menos não entra nada eletrônico.
"Construção", também de Chico,
não tem a mesma sorte. No lugar
do drum'n'bass surge um ritmo
quebrado, mais guitarras "distorcidas" e vocal "raivoso" da cantora. O resultado é muito ruim.
Mas, afinal, uma artista como
Fernanda Porto não deve (ou não
deveria) se preocupar com a crítica. Esta estará sempre pronta a
malhá-la sem dó. Que ela concentre esforços em manter o que tem
de mais valioso -o respaldo do
público. Porque sem isso...
(RE)
Cabra-Cega
Artista: Fernanda Porto
Lançamento: Distribuidora Independente Trama
Quanto: R$ 30
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