São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2005

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"CABRA-CEGA"

Nova MPB nasce sem imaginação

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se Fernanda Porto representa -como quer se fazer crer- uma "nova" MPB, esta já nasce repetitiva e sem imaginação. Em cerca de cinco anos, a cantora/ compositora/multiinstrumentista tornou-se ponta-de-lança de um novo movimento dentro da música brasileira: o samba eletrônico, a bossa com drum'n'bass.
Apesar de relativamente recente, a fórmula já soa primária e repetitiva (talvez sejam caraterísticas de nascença), apesar de razoavelmente popular. O mercado, esperto, já gerou os genéricos, como o Kaleidoscópio (quem se lembra de "tem que valer, valer, viver"?).
Agora, depois de dois álbuns autorais, Fernanda Porto ressurge nas lojas com a trilha do filme "Cabra-Cega", de Toni Venturi. Além de compor os temas pontuais, que recebem nomes como "Tiago Deprê" e "Marijuana", ela aparece recriando canções emblemáticas da época em se passa o filme: o começo dos anos 70, com seu pesado clima político. Aparecem composições como "Teletema", o teminha à Francis Lai de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, cantada aqui por Ná Ozzetti.
A trilha não é de todo má. A compositora consegue criar ao piano (e até com detalhes eletrônicos variados) algumas músicas simples e singelas, ainda que sem sal, como convém a uma trilha.
Mas existem os equivocados momentos de arroubo -representando os momentos elétricos do personagem-, com constrangedores sons "distorcidos" de guitarra. Nas canções-releituras, então, dá tudo errado. Como era de esperar, todas as versões são extremamente inferiores às originais e pouco acrescentam a elas.
"Roda Viva", de Chico Buarque, com participação do próprio, vem com alguns bons elementos, como um belo groove de piano e baixo e um detalhe de violino, mas tudo cai por terra quando surge a infame batida. "Sinal Fechado", de Paulinho da Viola, é cantada em dueto com Toni Garrido -o que dizer mais? Pelo menos não entra nada eletrônico. "Construção", também de Chico, não tem a mesma sorte. No lugar do drum'n'bass surge um ritmo quebrado, mais guitarras "distorcidas" e vocal "raivoso" da cantora. O resultado é muito ruim.
Mas, afinal, uma artista como Fernanda Porto não deve (ou não deveria) se preocupar com a crítica. Esta estará sempre pronta a malhá-la sem dó. Que ela concentre esforços em manter o que tem de mais valioso -o respaldo do público. Porque sem isso... (RE)


Cabra-Cega
 
Artista: Fernanda Porto
Lançamento: Distribuidora Independente Trama
Quanto: R$ 30


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