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DOCUMENTÁRIO
Lêdo Ivo mistura terra e água em versos
LUCIANA ARAUJO
DA REDAÇÃO
Se o documentário "Imagem
Peninsular de Lêdo Ivo" fosse
uma fotografia, seu título seria
uma legenda para cegos. A imagem que fica do poeta neste filme
dirigido por Werner Salles Bagetti
em 2004 e exibido amanhã, às 21h,
pela STV, é exatamente a de uma
península: cercada de água por
todos os lados, menos um, pelo
qual se liga a outra terra.
A água é o universal na obra do
escritor, mas a ela ele mistura sua
terra. Aos 80 anos, é o próprio Lêdo Ivo quem diz pertencer à linhagem "dos alagoanos que emigram", ao contar que deixou a peninsular Maceió quando tinha 18
anos, rumo ao Rio de Janeiro, onde vive até hoje, para cursar direito. Mais adiante, ele completa: "O
porto sempre foi um signo de evasão". E registra em verso: "Minha
pátria são os apitos dos navios".
Por outro lado -aquele ligado
à terra-, o poeta parte, mas carrega consigo a cidade onde nasceu. "Minha vida haveria de
transcorrer longe de minha terra
natal, embora, dada a minha condição de poeta, eu estivesse aparelhado para levar minha terra na
forma de lembrança, na forma de
linguagem", diz Lêdo Ivo.
Assim, o universal em Ivo se dá,
como sugere Tolstói, falando de
sua aldeia. A célebre frase do escritor russo é citada no documentário pelo ensaísta Ivan Junqueira,
que destaca a presença de Alagoas
nos escritos de Ivo como marca
de memorialismo, em detrimento
do regionalismo.
Junqueira situa ainda Lêdo Ivo
na geração de 45, na qual o poeta
parece não se encontrar. "Eu sempre fui visto como um estranho
no ninho", afirma Ivo. "A gente
começa geração e termina solidão. No meu caso, começo solidão e termino solidão", avalia.
Entre outros lugares, como Recife e seu oposto João Cabral de
Melo Neto, que fazem parte da
trajetória de Lêdo Ivo, o filme destaca também a polêmica causada
por outro ninho, o romance "Ninho de Cobras" (1973), este sobre
os alagoanos que não emigraram.
Imagem Peninsular de Lêdo Ivo
Quando: amanhã, às 21h, na STV
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