São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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BIA ABRAMO

Nair Bello sabia rir de si mesma


Com exceção das novelas de Lombardi, era subaproveitada no programa "Zorra Total"

ABUSADA, DESBOCADA e extremamente engraçada, Nair Bello era aquele tipo (raro) de comediante capaz de rir de si mesma. Paulistana de sotaque italianado, ela não hesitava em exagerar ao limite da caricatura quando estava em cena.
Nair tinha e sabia provocar o riso fácil, prazenteiro. Suas personagens, em regra mulheres de meia-idade sem papas na língua e capazes de disparar motes irônicos com extrema agilidade, tinham a marca do humor sem peias e sem-vergonha.
Ao seu lado, até a "grande dama" Hebe Camargo, de quem era amicíssima, ficava mais leve e recuperava algo de uma graça mais descompromissada. A atriz, rápida no improviso, fazia suas cenas divertindo-se enormemente, ao que parece: muitas vezes, era-lhe quase impossível conter as risadas. Sem seus desaforos e suas observações ácidas, a TV fica um pouco menos divertida.
 
Nair era sempre escalada por Carlos Lombardi, que a deixava à vontade para fazer o que bem entendesse em suas novelas -muitas vezes, como a mãe comicamente dominadora de bonitões sem camisa, papel que fazia à perfeição. Com exceção das novelas de Lombardi, a comediante era subaproveitada no programa "Zorra Total".
Como ela, outros comediantes talentosos -Agildo Ribeiro, Paulo Silvino, Jorge Dória- marcam passo no programa.
É pena que esse humor parente da chanchada e esquetes radiofônicos esteja confinado a um programa com caráter tão popularesco. Baseado em tipos fixos, esse humor é o da repetição e da caricatura, mas isso não significa prescindir de um excelente trabalho de roteiro. É preciso ter muita idéia boa para manter um tipo vivo. Os humorísticos comandados por Jô Soares e Max Nunes, nos anos 70 e 80, faziam isso bem, com mais criatividade nas situações e diálogos, além de uma direção, ao que parece, mais rigorosa. No "Zorra Total", parece vigir uma regra de "quanto mais bobo, melhor".
 
Até tu, Gilberto Braga? Quando até o noveleiro-que-leu-Balzac é obrigado a alavancar a audiência inventando uma cena de agressão física entre mulheres -agora é a vez de Maria Fernanda Cândido, cuja personagem Fabiana vai levar uma surra de Ana Luísa (Renée de Vielmond) -, é que há algo de podre no reino das novelas. Não especificamente em "Paraíso Tropical", mas em todas.

biaabramo.tv@uol.com.br


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