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BIA ABRAMO
Nair Bello sabia rir de si mesma
Com exceção das
novelas de Lombardi, era subaproveitada no programa "Zorra Total"
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ABUSADA, DESBOCADA e extremamente engraçada, Nair Bello era aquele tipo (raro) de
comediante capaz de rir de si mesma. Paulistana de sotaque italianado, ela não hesitava em exagerar ao
limite da caricatura quando estava em cena.
Nair tinha e sabia provocar o riso
fácil, prazenteiro. Suas personagens,
em regra mulheres de meia-idade
sem papas na língua e capazes de
disparar motes irônicos com extrema agilidade, tinham a marca do humor sem peias e sem-vergonha.
Ao seu lado, até a "grande dama"
Hebe Camargo, de quem era amicíssima, ficava mais leve e recuperava
algo de uma graça mais descompromissada.
A atriz, rápida no improviso, fazia
suas cenas divertindo-se enormemente, ao que parece: muitas vezes,
era-lhe quase impossível conter as
risadas. Sem seus desaforos e suas
observações ácidas, a TV fica um
pouco menos divertida.
Nair era sempre escalada por Carlos Lombardi, que a deixava à vontade para fazer o que bem entendesse
em suas novelas -muitas vezes, como a mãe comicamente dominadora de bonitões sem camisa, papel que
fazia à perfeição. Com exceção das
novelas de Lombardi, a comediante
era subaproveitada no programa
"Zorra Total".
Como ela, outros comediantes talentosos -Agildo Ribeiro, Paulo Silvino, Jorge Dória- marcam passo
no programa.
É pena que esse humor parente da
chanchada e esquetes radiofônicos
esteja confinado a um programa
com caráter tão popularesco. Baseado em tipos fixos, esse humor é o da
repetição e da caricatura, mas isso
não significa prescindir de um excelente trabalho de roteiro. É preciso
ter muita idéia boa para manter um
tipo vivo. Os humorísticos comandados por Jô Soares e Max Nunes,
nos anos 70 e 80, faziam isso bem,
com mais criatividade nas situações
e diálogos, além de uma direção, ao
que parece, mais rigorosa. No "Zorra
Total", parece vigir uma regra de
"quanto mais bobo, melhor".
Até tu, Gilberto Braga? Quando
até o noveleiro-que-leu-Balzac é
obrigado a alavancar a audiência inventando uma cena de agressão física entre mulheres -agora é a vez de
Maria Fernanda Cândido, cuja personagem Fabiana vai levar uma surra de Ana Luísa (Renée de Vielmond) -, é que há algo de podre no reino das novelas. Não especificamente em "Paraíso Tropical", mas
em todas.
biaabramo.tv@uol.com.br
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