|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Filme-catástrofe beira o realismo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O filme "blockbuster" tem
uma sabedoria que muitas vezes nos escapa. Quando "Independence Day" foi feito, na segunda metade dos anos 90, enunciava a paranóia americana diante da perspectiva de um
ataque alienígena (isto é, estrangeiro) -e o pânico das pessoas em Nova York, no 11 de Setembro, não era assim tão diferente do que se via no filme.
Nem o pânico, nem o sentimento. Não faltaram pessoas
para dizer que, naquele dia,
sentiram-se como se estivessem dentro de um filme.
O sentimento pode ser mais
profundo. Se "Titanic" foi o sucesso que foi, isso não se deve
tanto ao fato de contar uma história acontecida no começo do
século 20, mas à sensação que
James Cameron conseguiu
transmitir aos espectadores de
-tanto num caso como no outro- um mundo à deriva, andando para frente, soberbo,
mas sem saber aonde vai.
Há três anos, quando foi feito
"O Dia Depois de Amanhã"
(Fox, 22h), podia-se ter a ilusão
de que a invasão de uma cidade
pelas águas fosse uma ficção
tão longínqua quanto a invasão
da Terra pelos extraterrestres
de "Independence Day".
Ao contrário de "Titanic" ou
"Independence Day", que se
baseiam em intuições notáveis,
"O Dia Depois de Amanhã" baseia-se em dados que, sabemos
hoje, já existiam há muito tempo. Só não lhe dávamos atenção. E continuamos a não dar.
O filme se vende como uma ficção científica. É quase um caso
clássico de realismo.
Texto Anterior: Bia Abramo: Nair Bello sabia rir de si mesma Próximo Texto: Novelas da semana Índice
|