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JOÃO PEREIRA COUTINHO
O idiota útil
Os idiotas úteis continuam entre nós; um dos exemplos é Jimmy Carter
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COMO SOBREVIVEM as ditaduras? Sim, uma máquina repressiva é importante. E alguma propaganda para consumo
doméstico costuma ajudar. Mas nenhuma ditadura sobrevive sem uma
certa complacência internacional,
normalmente promovida por "intelectuais" ou "jornalistas" que negam
a realidade.
Foi Lênin quem, alegadamente,
teria percebido a importância dos
"idiotas úteis" para a sobrevivência
da União Soviética. Para esse gênio
da estratégia revolucionária, os
"idiotas úteis" eram todos aqueles
que, depois de conhecerem in loco a
violência e a desumanidade do comunismo, regressavam para os respetivos países e continuavam a defender o indefensável. Por estupidez, ignorância ou má-fé. Os idiotas
úteis continuam entre nós.
Um dos últimos exemplos é
Jimmy Carter, provavelmente o
pior presidente americano de todo o
século 20. Segundo sei, Carter regressa ao ataque em Damasco, na Síria, para "conversações" com o líder
do Hamas. Ponto prévio: o Hamas é
reconhecido como organização terrorista, não apenas por Israel ou pelos Estados Unidos, mas pela esmagadora maioria da comunidade internacional, União Européia
inclusa.
Mas não na cabeça infantil de Carter. Para ele, uma organização terrorista que nega a existência de Israel e
aposta, incondicionalmente, na destruição da "entidade sionista", talvez esteja disposta a negar a sua natureza. Carter deseja que o Hamas
não seja o Hamas.
Essa espécie de raciocínio é típica
do personagem. James Earl Carter,
Jr., nascido na Geórgia em 1924,
chegou à Casa Branca em circunstâncias atípicas. Basta olhar para os
antecessores. Lyndon Johnson era a
memória do Vietnã. Richard Nixon
partira em desgraça, depois de Watergate. A figura beata de Carter era
tudo aquilo que a América precisava. E derrotar Gerald Ford era o menor dos problemas: em debate televisivo, Ford cometeu suicídio ao vivo ao duvidar que o Leste da Europa
fosse dominado por Moscou. Carter
riu alto.
Foi o fim de Ford e o início de Carter. Mas um início que durou apenas
um mandato. Não só porque a economia doméstica, com inflação e desemprego galopantes, mostravam
aos americanos a incompetência do
presidente. Mas porque, em política
externa, Carter revelava a ingenuidade que o define até hoje.
A invasão soviética do Afeganistão, por exemplo, seria impensável
se o Kremlin não tivesse percebido a
tibieza da administração americana.
Mas o pior estaria para vir: em
1979, "estudantes" iranianos tomavam de assalto a embaixada americana em Teerã, um ato de gravidade
extrema que durou 444 dias. A incapacidade de Carter para lidar com a
agressão explica-se, uma vez mais,
pelo seu idealismo criminoso: para
Carter, talvez Khomeini, uma espécie de "Gandhi iraniano", fosse parceiro possível para conversações
de paz.
A farsa só terminou quando Reagan era o senhor que se seguia na cadeira presidencial. Carter partia
com uma América de rastos, econômica e estrategicamente falando. A
paz firmada entre Israel e o Egito em
1978 foi o único milagre do seu governo. Não por mérito de Carter.
Mas pela nobreza de Menachem Begin e Anwar Sadat. Pelo gesto de reconhecer a "entidade sionista", Sadat pagaria com a própria vida.
E depois da Presidência? Depois,
Carter continua a evangelizar o
mundo, alimentando a sua megalomania. Um dos exemplos mais eloqüentes foi a amizade com Arafat,
que culminou no livro "Palestine:
Peace Not Apartheid". O livro foi escrito em 2006, ou seja, depois de
Arafat ter recusado os acordos de
Camp David seis anos antes. Em
2000, o israelense Barak estava disposto a tudo: a devolver os "territórios ocupados", a compartilhar Jerusalém e a reconhecer um Estado
palestino independente.
Arafat enterrou a oferta ao exigir o
regresso dos "refugiados" palestinos, não à Palestina, mas a Israel. No
fundo, Arafat não desejava dois Estados para dois povos. Arafat desejava dois Estados para um único povo.
Desejava o fim de Israel pela força
da demografia. A atitude de Arafat,
que horrorizou até os seus próprios
parceiros árabes, só não horrorizou
Carter.
Um aspecto, porém, merece ser
salvo na biografia do homem:
Jimmy Carter foi o único presidente
americano a preencher um formulário da força aérea, como é da praxe,
para relatar o avistamento de um
óvni.
Não riam, leitores. Acreditar em
extraterrestres é o lado mais simpático e inofensivo de Carter.
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