São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2011

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Livro traz filme não realizado de Kubrick

"Napoleon", projeto-fetiche do diretor, é recuperado por meio roteiro, figurinos, estudos e fotos de locações

"Pretendo dirigir o melhor filme de todos os tempos", afirmava o cineasta, sobre longa que jamais concretizou

BRUNO GHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Pretendo dirigir o melhor filme de todos os tempos." Assim mesmo, sem modéstia nem medo de soar presunçoso, Stanley Kubrick (1928-1999) se referia a "Napoleon", seu projeto-fetiche.
Ele morreu sem produzir o longa, mas o filme parecia estar completo na mente do cineasta, que, ao longo de anos, reuniu um riquíssimo material de pesquisa e fez vários esboços para sua "obra-prima" em potencial.
Praticamente tudo o que Kubrick fez de concreto sobre o filme acaba de ser reunido no pomposo livro "Napoleon: The Best Movie Never Made" [o melhor filme que nunca foi feito, em tradução livre], lançado agora (em inglês) pela Taschen.
Se o cineasta de "Laranja Mecânica" faria mesmo o tal "melhor filme" da história, ninguém jamais saberá, mas os fãs de Kubrick podem fantasiar à vontade a partir do vistoso material que traz a obra: são correspondências, estudos de figurinos, fotos de prováveis locações, páginas de roteiro e entrevistas, além do acesso a uma base de dados com mais de 17 mil imagens relacionadas a Napoleão Bonaparte (1769-1821).
A edição evidencia que o estrategista francês baixote tinha no cineasta americano taciturno um rival à altura em termos de ambição e meticulosidade; ambos eram personalidades fascinantes.

FONTE RECORRENTE
O projeto "Napoleon" começou a ser esboçado em 1967, mas só ganhou corpo após "2001, uma Odisseia no Espaço" (1968). Em 1969, Kubrick finalizou a primeira versão do roteiro, e o filme seria seu projeto seguinte.
Mas dificuldades financeiras e logísticas o impediram de dirigir o longa, forçando-o a se dedicar a outras obras.
Por não poder filmá-lo, ele se debruçou, por exemplo, sobre "Laranja Mecânica" (1971) e "Barry Lyndon" (1975), dois dos pontos altos de sua carreira.
Sem nunca abandonar completamente o projeto, ele usou em vários de seus filmes alguns dos elementos que tinha originalmente concebido para "Napoleon".
"Barry Lyndon" foi o mais beneficiado, até por ser uma obra que se passa no mesmo período histórico (século 18): as cenas iluminadas apenas à luz de velas (possibilitadas pelas objetivas Zeiss Planar, desenvolvidas pela Nasa), por exemplo, tinham sido pensadas para "Napoleon".
Para protagonista, o diretor cogitou Jack Nicholson, e para o papel de Josephine, primeira mulher de Napoleão, Kubrick chegou a chamar Audrey Hepburn, que recusou gentilmente - à época, ela estava afastada das telas. O diretor, volta e meia desengavetava o projeto, adaptando-o à nova realidade; nos anos 90, por exemplo, cogitou fazer de "Napoleon" uma série de TV, mas a ideia não foi adiante.

EXPOSIÇÃO
O livro surge na carona de uma retrospectiva completa do diretor na Cinemateca de Paris. "Desde a abertura da mostra, a Cinemateca tem tido um afluxo de público. Kubrick ainda cativa o interesse das pessoas, mesmo as jovens", diz Serge Toubiana, diretor-geral da instituição.
Além dos filmes, a mostra traz uma exposição com fotos tiradas por Kubrick quando era fotógrafo da revista "Look", roteiros originais e peças e artefatos como o vestidos das gêmeas de "O Iluminado" e as fantasias dos Australopitecos de "2001". Uma parte, claro, é reservada a "Napoleon", a obra mais representativa do espírito de Kubrick, ainda que nunca tenha existido.

STANLEY KUBRICK'S NAPOLEON: THE BEST MOVIE NEVER MADE

AUTOR Edição de Alison Castle
EDITORA Taschen
QUANTO 49,90 euros (cerca de R$ 108, na amazon.com ou na taschen.com)


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