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RÉPLICA
Teatros, arquitetura e cidadania
CELSO FRATESCHI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em relação à reportagem
"Arquiteto ataca alteração
em teatros de São Paulo" (Ilustrada, pág. E7, 15/5):
1 - Fui procurado pelo repórter
para uma reportagem sobre os
teatros nos Centros Educacionais
Unificados (CEUs). Em nenhum
momento fui informado que a
pauta da reportagem seria sobre
as contestações pessoais de um
funcionário, membro de uma
equipe numerosa de técnicos das
mais variadas áreas que estão envolvidos nesse programa. Se soubesse o teor da reportagem, poderia fornecer informações para um
texto mais completo. Creio ser direito do entrevistado o preceito
ético de estar informado sobre o
assunto em que estará envolvido.
2 - Consideramos o programa
dos CEUs de enorme relevância,
pois a cidade está construindo 21
equipamentos multidisciplinares.
Trata-se de uma experiência matricial, inédita, capitaneada pela
Secretaria Municipal de Educação
e que envolve também a Secretaria Municipal de Esportes e a Secretaria Municipal de Cultura, entre outras. Nesses equipamentos
estão sendo construídos 21 teatros
com duas salas cada um, perfazendo um total de 42 novas salas
de espetáculos. Para ter uma idéia
do impacto desse programa, até
hoje o município conta com só sete teatros distritais sendo que
quatro deles muito singelos. Esses
espaços estão sendo construídos
nas regiões mais periféricas da cidade, onde os índices sociais e de
qualidade de vida são alarmantes.
Pensei que essa seria a pauta.
3 - Quanto à questão desenvolvida pela reportagem, gostaria de
esclarecer o seguinte: a discussão
sobre o significado político do espaço cênico estava presente desde
o início da participação da Secretaria Municipal de Cultura. Solicitamos aos arquitetos um espaço
de múltiplo uso que pudesse contemplar as áreas de teatro, dança,
cinema, música popular e erudita,
(cada CEU contará com uma orquestra de cordas, uma big band e
coral), além de festas comunitárias. Essas sugestões foram desde
sempre aprovadas pela Secretaria
Municipal de Educação e por todos os envolvidos. Esse desafio,
infelizmente, não havia sido
equacionado. O que nos foi apresentado foram apenas estudos
que propunham que o cinema
fosse realizado ao ar livre!
Ora, vivemos em uma cidade
que alterna período de chuvas
com período de baixas temperaturas. Dentro desse limite, jamais
poderíamos ter uma programação regular de cinema. Além disso, estamos no século 21, em que o
cinema exige condições técnicas
básicas para sua fruição. Não é a
nossa intenção tratar o morador
da periferia com discriminação.
Por que só as classes médias e altas devem ter o direito ao conforto? As soluções para o espaço interno dos teatros resultavam no
mesmo preconceito. A solução de
arquibancadas retráteis com cadeiras soltas, além de ser contra
todas as regras de segurança, impunha aos frequentadores um extremo desconforto. No escopo
inicial, propomos a discussão do
espaço cênico para não limitarmos a criatividade da produção
local nos moldes do teatro burguês. A solução que esperávamos
não poderia ser pré-burguesa.
4 - Este governo visa o cidadão e
sua qualidade de vida. Os CEUs
não são uma experiência prospectiva. São 17 equipamentos que serão inaugurados em agosto e mais
quatro até o final do ano nos lugares mais carentes da cidade. Trabalhamos para transformar o
quadro de extrema carência da
população. Esse é nosso compromisso coletivo de governo. Não é
um projeto que tem uma autoria
única. Os arquitetos descontentes
sabiam disso, pois são servidores
públicos. Criar e construir em
conjunto faz parte de nosso ofício.
5 - Para atender às demandas
coletivas desse programa, contratamos o cenógrafo J.C. Serroni,
um dos melhores especialistas do
país. As soluções apresentadas
acabaram por atender ao escopo
inicial, garantindo para a população da periferia um espaço democrático de criação e difusão de espetáculos. Teremos dois espaços
de espetáculos. Um de 450 lugares
que preserva a relação mais tradicional entre palco e platéia, mas
que foge do desenho do palco italiano, aproximando essa relação
pela sua conformação arquitetônica. Esse espaço permite tanto
ensaios das diversas áreas como
uma programação permanente
de cinema, teatro, dança, música
de todos gêneros e atividades comunitárias. Outro de 150 lugares,
com o palco e a platéia móveis, reservado para todo tipo de experiências.
6 - Além das salas de espetáculo,
cada CEU possui um complexo
cultural com uma biblioteca com
capacidade para 30 mil volumes,
uma escola municipal de iniciação artística, ateliê de artes plásticas, teatro, dança, estúdio de rádio e TV e gravação de CDs.
Trata-se de uma ação pública
inédita e de muita ousadia da qual
nos orgulhamos muito de participar. Todos os que acreditam e
apostam na reconstrução dessa
cidade e deste país também terão
motivo para se orgulhar. Afinal,
sabemos que, se necessitamos de
salas de extrema qualidade como
a Sala São Paulo, a cidade reclama
que a nossa periferia também seja
contemplada com a qualidade.
Sabemos que só com ações desse tipo seremos capazes de mudar
o quadro de desigualdade que nos
assola. A importância cultural dos
CEUs aponta concreta e definitivamente para atingirmos a nossa
cidadania.
Celso Frateschi é secretário municipal da Cultura
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