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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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MÚSICA

Com standards do jazz e clássicos da bossa nova, "North and South" encerra ciclo que inclui MPB e poesia americana

Luciana Souza conclui sua trilogia sonora

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de ser indicada para o Grammy com o CD "Duos" (na categoria jazz vocal), Luciana Souza fecha um ciclo musical. A cantora e compositora paulista lança nos EUA "North and South", seu quinto disco -uma espécie de síntese de sua carreira.
"Foi uma trilogia planejada", disse Luciana à Folha, referindo-se aos álbuns "The Poems of Elizabeth Bishop and Other Songs" (2000) e "Duos" (2002). "Esses projetos foram concebidos como partes de um todo. Eles refletem meu interesse musical nos últimos anos e o fato de eu ter agora uma vida menos acadêmica", explica a ex-professora de música da Unicamp (SP) e da Berklee College of Music (EUA).
Com um repertório centrado em standards do jazz e clássicos da bossa nova, "North and South" reafirma a identidade artística de Luciana, que enfocou o universo da música popular brasileira em "Duos", depois de musicar poemas da poeta norte-americana Elizabeth Bishop -em ambos os casos com abordagens criativas e essencialmente jazzísticas.
"Sinto-me ajustada na cultura norte-americana, assim como na brasileira. Tenho tanta afinidade com o samba, como tenho com o swing. As duas línguas, em termos de poesia e texto, me atraem. Hoje minha casa é São Paulo e Nova York", diz a cantora, que já viveu quase metade de seus 35 anos nos Estados Unidos.
Depois de ser acompanhada no disco anterior pelos violões do pai Walter Santos e de Romero Lubambo, Luciana decidiu retornar ao instrumento que usa para compor. "Adoro escrever para piano. É uma orquestra inteira em 88 notas", diz a cantora, que convocou três talentosos pianistas: Fred Hersch, Bruce Barth e Edward Simon. O grupo se completa com Scott Colley (baixo acústico), Clarence Penn (bateria) e Donny McCaslin (sax tenor).
A afinidade de Luciana com o piano se revela no inusitado contraponto melódico escrito por ela para "Chega de Saudade" (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), que abre o disco. "Corcovado" (Jobim) e "Se É Tarde me Perdoa" (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli) também ganham interpretações inspiradas e bem jazzísticas.
Lirismo e uma certa melancolia se fundem em suas belas versões para dois standards da canção norte-americana. Tanto em "All of Me" (Seymor Simons e Gerald Marks), como em "When Your Lover Has Gone" (Einar Swan), ela improvisa sobre a melodia original, sem abrir mão da letra.
Demonstrando estar cada vez mais madura como compositora, a cantora exibe duas inéditas. "I Shall Wait" traz uma introdução com um certo sabor de gospel e improviso vocal. "No Wonder", a faixa mais eufórica, chama atenção pela invenção melódica.
Luciana diz que a sua indicação para o Grammy não alterou o conceito original ou mesmo as gravações do álbum. "Não senti pressão porque o disco já estava concebido antes de janeiro, quando fui nomeada. Mas acredito que o Grammy vai aumentar a curiosidade das pessoas."
Completada essa trilogia, Luciana já decidiu qual será seu próximo passo. Revela que pretende fazer outro álbum inspirado na literatura, musicando poemas de Pablo Neruda. "Já tenho algumas traduções liberadas. Estou compondo nas horas livres e planejo gravar no fim do ano", diz.


Carlos Calado é crítico musical e autor de "O Jazz como Espetáculo", entre outros livros

NORTH AND SOUTH. Artista: Luciana Souza. Lançamento: Sunnyside. Quanto: R$ 43, em média (importado).



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