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MÚSICA
Com standards do jazz e clássicos da bossa nova, "North and South" encerra ciclo que inclui MPB e poesia americana
Luciana Souza conclui sua trilogia sonora
CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Depois de ser indicada para o
Grammy com o CD "Duos" (na
categoria jazz vocal), Luciana
Souza fecha um ciclo musical. A
cantora e compositora paulista
lança nos EUA "North and
South", seu quinto disco -uma
espécie de síntese de sua carreira.
"Foi uma trilogia planejada",
disse Luciana à Folha, referindo-se aos álbuns "The Poems of Elizabeth Bishop and Other Songs" (2000) e "Duos" (2002). "Esses
projetos foram concebidos como partes de um todo. Eles refletem
meu interesse musical nos últimos anos e o fato de eu ter agora
uma vida menos acadêmica", explica a ex-professora de música da
Unicamp (SP) e da Berklee College of Music (EUA).
Com um repertório centrado em standards do jazz e clássicos
da bossa nova, "North and South"
reafirma a identidade artística de
Luciana, que enfocou o universo
da música popular brasileira em
"Duos", depois de musicar poemas da poeta norte-americana
Elizabeth Bishop -em ambos os
casos com abordagens criativas e
essencialmente jazzísticas.
"Sinto-me ajustada na cultura
norte-americana, assim como na
brasileira. Tenho tanta afinidade
com o samba, como tenho com o
swing. As duas línguas, em termos de poesia e texto, me atraem.
Hoje minha casa é São Paulo e
Nova York", diz a cantora, que já
viveu quase metade de seus 35
anos nos Estados Unidos.
Depois de ser acompanhada no
disco anterior pelos violões do pai
Walter Santos e de Romero Lubambo, Luciana decidiu retornar
ao instrumento que usa para
compor. "Adoro escrever para
piano. É uma orquestra inteira em
88 notas", diz a cantora, que convocou três talentosos pianistas:
Fred Hersch, Bruce Barth e Edward Simon. O grupo se completa
com Scott Colley (baixo acústico),
Clarence Penn (bateria) e Donny
McCaslin (sax tenor).
A afinidade de Luciana com o
piano se revela no inusitado contraponto melódico escrito por ela
para "Chega de Saudade" (Tom
Jobim e Vinícius de Moraes), que
abre o disco. "Corcovado" (Jobim) e "Se É Tarde me Perdoa"
(Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli)
também ganham interpretações
inspiradas e bem jazzísticas.
Lirismo e uma certa melancolia
se fundem em suas belas versões
para dois standards da canção
norte-americana. Tanto em "All
of Me" (Seymor Simons e Gerald
Marks), como em "When Your
Lover Has Gone" (Einar Swan),
ela improvisa sobre a melodia original, sem abrir mão da letra.
Demonstrando estar cada vez
mais madura como compositora,
a cantora exibe duas inéditas. "I
Shall Wait" traz uma introdução
com um certo sabor de gospel e
improviso vocal. "No Wonder", a
faixa mais eufórica, chama atenção pela invenção melódica.
Luciana diz que a sua indicação
para o Grammy não alterou o
conceito original ou mesmo as
gravações do álbum. "Não senti
pressão porque o disco já estava
concebido antes de janeiro, quando fui nomeada. Mas acredito que
o Grammy vai aumentar a curiosidade das pessoas."
Completada essa trilogia, Luciana já decidiu qual será seu próximo passo. Revela que pretende fazer outro álbum inspirado na literatura, musicando poemas de Pablo Neruda. "Já tenho algumas
traduções liberadas. Estou compondo nas horas livres e planejo
gravar no fim do ano", diz.
Carlos Calado é crítico musical e autor
de "O Jazz como Espetáculo", entre outros livros
NORTH AND SOUTH. Artista: Luciana
Souza. Lançamento: Sunnyside. Quanto:
R$ 43, em média (importado).
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