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"Continuo um otimista", diz Zuenir
Autor nega em debate na Folha que exista melancolia em "1968 - O que Fizemos de Nós" na comparação com livro de 20 anos atrás
Renato Janine Ribeiro diz que protagonistas de 68 dão, hoje, a impressão de que "tudo o que havia para ser feito já foi feito"
DA REPORTAGEM LOCAL
O professor de ética e filosofia política da USP Renato Janine Ribeiro veio com a provocação: "Zuenir, achei seu livro novo um tanto melancólico". Foi a
deixa para o jornalista Zuenir
Ventura, que acaba de lançar
"1968 - O que Fizemos de Nós"
(Planeta), rebater: "Continuo
um otimista incorrigível".
Foi entre dois extremos de
interpretação sobre o ano bissexto que se tornou sinônimo
da rebeldia juvenil que transcorreu o debate realizado na última terça no auditório da Folha. Integraram a mesa ainda
os jornalistas Roberto D'Ávila e
Mário Magalhães (mediador).
Para Zuenir Ventura, ainda é
um mistério aquela "sincronia"
que fez com que em um mesmo
ano, em países diferentes como
França, EUA, Tchecoslováquia
e Brasil, os jovens deixassem o
cabelo crescer, ouvissem as
mesmas músicas, desconfiassem de todos com mais de 30.
"1968 não desaparece e é lembrado como se fosse uma pessoa porque foi um ano com um
caráter, dado pela rebeldia generalizada naquele momento."
Segundo o professor Renato
Janine, "a menina poder transar com o namorado na casa
dos próprios pais tem a ver com
o legado de 1968. Como também tem a ver, claro, a perda do
recato -o piercing nos órgãos
genitais, por exemplo".
"1968 - O que Fizemos de
Nós" é continuação de "1968
-0O Ano que Não Terminou",
do mesmo Zuenir, lançado há
20 anos (os dois livros são comercializados juntos, ao preço
médio de R$ 75).
Janine vê uma nota de melancolia nos depoimentos dos
"meia-oitos" entrevistados por
Zuenir no livro recente, em
oposição à "vida" que aparecia
no de 20 anos atrás. "Achei o
segundo livro pesado. No primeiro, as pessoas que fizeram
1968 ainda eram jovens, cheias
de vida, a coisa toda era muito
viva. Em 2008, parece que tudo
o que havia para ser feito já foi
feito. Os protagonistas de 68
dão a impressão, hoje, de que
aquilo tudo foi arrematado."
O jornalista Roberto D'Ávila
discordou. Lembrou um almoço que teve um dia antes do ataque às Torres Gêmeas, no 11 de
Setembro, com o arquiteto Oscar Niemeyer. "Eu reclamava
de que nada mais acontecia,
que estava tudo chato. E, no dia
seguinte, no entanto..." Segundo D'Ávila, "nada foi arrematado, e morreu aquele papo de
que a história acabou".
"Desdobramentos vivos"
Zuenir Ventura disse ter ficado "chocado" ao escutar que
seu livro poderia ser lido por
um registro melancólico. Segundo ele, os movimentos feminista, negro, homossexual e
ambientalista são desdobramentos vivos de 1968.
"São movimentos diferentes
de 1968? São. Em 1968, a questão gay, por exemplo, não tinha
nem sequer saído do armário",
disse Zuenir. A diferença, paradoxalmente, é que aproxima os
movimentos, já que 1968 foi o
ano em que se consagrou o
princípio libertário, que implica o respeito ao diferente (lembre-se do "É Proibido Proibir").
"É como disse o Caetano [Veloso], quando questionei se 1968
poderia ocorrer de novo: "Para
ser parecido, tem de ser completamente diferente"."
"Eu não acho que só tenha
restado aquela coisa "carpe
diem", do êxtase imediato, do
ecstasy nas raves", afirmou.
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