Versão em DVD de "Dalva e Herivelto" traz os números musicais na íntegra, não vistos durante exibição na TV

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

S erá que o público espera fidelidade de documentário quando assiste a uma minissérie baseada em vidas e fatos reais? É mesmo importante, em entretenimento televisivo, que a verdade esteja à frente de tudo? Em caso afirmativo, "Dalva e Herivelto - Uma Canção de Amor", programa que foi ao ar pela Globo na primeira semana do ano e que ganha agora edição em DVD, naufraga antes mesmo de sair do cais.
Sobretudo porque a base do roteiro de Maria Adelaide Amaral é o livro "Minhas Duas Estrelas", relato de Pery Ribeiro, filho mais velho de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, o casal em questão. Não há ali grandes pesquisas. Muito menos imparcialidade. Apenas as memórias apaixonadas de um menino que não se dava muito com o pai e era apaixonado pela mãe. E a nossa memória, todos sabemos, não tem qualquer compromisso com os outros, com o real.
É por isso que, passadas as mais de quatro horas de filme, o espectador é levado a conclusões um tanto duvidosas, como "esse Herivelto era um crápula" ou "coitada da Dalva, não merecia a vida que levou". Tudo em tintas bem carregadas. Mas e se, ao contrário das biografias com bases jornalísticas, são exatamente as cores fortes dessas tintas que importam para que o público se prenda à história? Nesse caso, "Dalva e Herivelto" acerta em cheio. É folhetim, é novela das oito.
No papel de Dalva, Adriana Esteves arranca lágrimas encarnando a mulher que faz qualquer coisa para manter o interesse do marido -é capaz, veja bem, até de traí-lo. Mais Nelson Rodrigues impossível. Fábio Assunção, o Herivelto, vai fundo nessa estética e chega a resvalar na canastrice em cenas mais densas. Aqui, cabe. Acima do que é invenção ou realidade, restam os números musicais, as grandes canções criadas por um e interpretadas pela outra. E o interesse popular que a série devolveu a elas.
No DVD, aliás, esses números musicais são mostrados na íntegra -e só isso já valeria o investimento. Mesmo para quem já viu o novelão na TV.