São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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Ivo Perelman tenta espaço no Brasil

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Gravar 27 álbuns e conquistar alto prestígio no restrito circuito de jazz de vanguarda norte-americano não foi o mais difícil para o saxofonista Ivo Perelman. O que esse músico paulista, radicado nos EUA desde a década de 80, ainda tenta, sem sucesso, é ser convidado para tocar em seu país.
"Até na Hungria já me apresentei, mas nunca fui convidado para tocar no Brasil. Antes ficava mais ansioso com isso. Agora, fico na espera de que um dia aconteça. E garanto que não se trata de problemas com cachê", disse Perelman, de sua casa no Brooklin.
Enquanto o saxofonista não recebe o esperado convite, a gravadora Atração promete dar a chance de os brasileiros ouvirem Perelman em ação em um de seus mais representativos trabalhos.
No próximo mês, está programado para chegar às prateleiras do país um dos mais importantes discos de Perelman, "Sad Life". Originalmente gravado em 1996 pelo selo britânico Leo Records e já fora de catálogo, "Sad Life" traz Perelman acompanhado do baixista William Parker e do baterista Rashid Ali -lenda do free jazz e o último a tocar ao lado de John Coltrane (1926-1967).
Até mesmo a revista americana "Down Beat" já se rendeu, há tempos, a seu trabalho. "Uma das mais imponentes e distintas vozes que surgiram no sax-tenor nos últimos anos", avalizou. Seu primeiro CD, "Ivo" (1989), recebeu quatro estrelas e meia das disputadas cinco estrelas da revista.
Ivo já trabalhou com conhecidos músicos brasileiros radicados nos EUA, como o percussionista Airto Moreira, a pianista Eliane Elias e a cantora Flora Purim. "Mas essa fase, permeada de elementos mais brasileiros, passou."
Apesar de lamentar a pouquíssima exposição de seu trabalho no Brasil, Perelman, que deixou o país em 1981 e se fixou definitivamente nos EUA em 1986, reconhece a dificuldade em fazer com que o free jazz alcance um público mais amplo onde quer que seja.
"Mesmo aqui nos EUA é assim. Creio que menos de 1% dos músicos esteja realmente envolvido com o free jazz. A distribuição [dessa música] é complicada. Esses discos são como certos livros de poesia. E talvez seja melhor que continue assim", diz.
Perelman conta que o lendário clube nova-iorquino CBGB passou a abrigar, uma vez por semana, apresentações de músicos ligados ao free jazz. "Há muita gente mais jovem descobrindo o potencial dessa música."
O lançamento prometido pela Atração vem se somar aos únicos outros três discos do músico que podem ser encontrados (com algum esforço) nas prateleiras em distribuição nacional. Dentre esses, ainda dá para se deparar com "Sieiro" (2000), que traz uma formação no mínimo inusitada: sax, baixo, bateria e violoncelo.
Interessado em novas sonoridades, Perelman utilizou, em "Suite for Helen F." (2003), uma formação que chamou de "duplo trio": sax, dois baixos e duas baterias.

Em ação
O saxofonista, de 44 anos, acabou de gravar mais um CD. Dessa vez, um incomum duo com o baixista nova-iorquino Dominic Duval -conhecido por seus trabalhos com o pianista Cecil Taylor-, ainda sem data definida para ser lançado.
Sem deixar a música de lado, Perelman passou a desenvolver também um trabalho paralelo como pintor. Apoiado em técnicas de "drip painting" e "action painting", ele acaba de expor em uma galeria no Brooklin.
Suas criações plásticas começam a ganhar reconhecimento. A rede de lojas Abercrombie & Fitch soltaram no mercado uma linha de camisetas estampadas com pinturas de Perelman.
"Também aguardo a oportunidade de expor meus quadros no Brasil. A pintura tem ganhado cada vez mais relevo para mim e ocupado espaço dentro de meu processo criativo", afirma.


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