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Ivo Perelman tenta espaço no Brasil
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Gravar 27 álbuns e conquistar
alto prestígio no restrito circuito
de jazz de vanguarda norte-americano não foi o mais difícil para o
saxofonista Ivo Perelman. O que
esse músico paulista, radicado
nos EUA desde a década de 80,
ainda tenta, sem sucesso, é ser
convidado para tocar em seu país.
"Até na Hungria já me apresentei, mas nunca fui convidado para
tocar no Brasil. Antes ficava mais
ansioso com isso. Agora, fico na
espera de que um dia aconteça. E
garanto que não se trata de problemas com cachê", disse Perelman, de sua casa no Brooklin.
Enquanto o saxofonista não recebe o esperado convite, a gravadora Atração promete dar a chance de os brasileiros ouvirem Perelman em ação em um de seus mais
representativos trabalhos.
No próximo mês, está programado para chegar às prateleiras
do país um dos mais importantes
discos de Perelman, "Sad Life".
Originalmente gravado em 1996
pelo selo britânico Leo Records e
já fora de catálogo, "Sad Life" traz
Perelman acompanhado do baixista William Parker e do baterista Rashid Ali -lenda do free jazz
e o último a tocar ao lado de John
Coltrane (1926-1967).
Até mesmo a revista americana
"Down Beat" já se rendeu, há
tempos, a seu trabalho. "Uma das
mais imponentes e distintas vozes
que surgiram no sax-tenor nos últimos anos", avalizou. Seu primeiro CD, "Ivo" (1989), recebeu
quatro estrelas e meia das disputadas cinco estrelas da revista.
Ivo já trabalhou com conhecidos músicos brasileiros radicados
nos EUA, como o percussionista
Airto Moreira, a pianista Eliane
Elias e a cantora Flora Purim.
"Mas essa fase, permeada de elementos mais brasileiros, passou."
Apesar de lamentar a pouquíssima exposição de seu trabalho no
Brasil, Perelman, que deixou o
país em 1981 e se fixou definitivamente nos EUA em 1986, reconhece a dificuldade em fazer com
que o free jazz alcance um público
mais amplo onde quer que seja.
"Mesmo aqui nos EUA é assim.
Creio que menos de 1% dos músicos esteja realmente envolvido
com o free jazz. A distribuição
[dessa música] é complicada. Esses discos são como certos livros
de poesia. E talvez seja melhor
que continue assim", diz.
Perelman conta que o lendário
clube nova-iorquino CBGB passou a abrigar, uma vez por semana, apresentações de músicos ligados ao free jazz. "Há muita gente mais jovem descobrindo o potencial dessa música."
O lançamento prometido pela
Atração vem se somar aos únicos
outros três discos do músico que
podem ser encontrados (com algum esforço) nas prateleiras em
distribuição nacional. Dentre esses, ainda dá para se deparar com
"Sieiro" (2000), que traz uma formação no mínimo inusitada: sax,
baixo, bateria e violoncelo.
Interessado em novas sonoridades, Perelman utilizou, em "Suite
for Helen F." (2003), uma formação que chamou de "duplo trio":
sax, dois baixos e duas baterias.
Em ação
O saxofonista, de 44 anos, acabou de gravar mais um CD. Dessa
vez, um incomum duo com o baixista nova-iorquino Dominic Duval -conhecido por seus trabalhos com o pianista Cecil Taylor-, ainda sem data definida para ser lançado.
Sem deixar a música de lado,
Perelman passou a desenvolver
também um trabalho paralelo como pintor. Apoiado em técnicas
de "drip painting" e "action painting", ele acaba de expor em uma
galeria no Brooklin.
Suas criações plásticas começam a ganhar reconhecimento. A
rede de lojas Abercrombie &
Fitch soltaram no mercado uma
linha de camisetas estampadas
com pinturas de Perelman.
"Também aguardo a oportunidade de expor meus quadros no
Brasil. A pintura tem ganhado cada vez mais relevo para mim e
ocupado espaço dentro de meu
processo criativo", afirma.
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