São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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"O Guarani" ganha versão futurista com DJ e projeções

Ópera de Carlos Gomes é montada em "espetáculo-festa" para atrair público novo e fã de eletrônica à música erudita

Maestro Fábio Oliveira e DJ Mau Mau são responsáveis pelo novo formato musical do clássico, baseado no livro de José de Alencar

Filipe Redondo/Folha Imagem
Cena da versão eletrônica de "O Guarani", que será apresentada hoje e amanhã em São Paulo


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao final de "O Guarani", livro de José de Alencar (1829-1877) transformado em ópera por Carlos Gomes (1836-1896), o índio Peri abre mão de suas crenças para se tornar cristão em nome do amor de Ceci.
Guardadas as proporções, é uma conversão semelhante que os criadores da releitura de "O Guarani", misturando música eletrônica à ópera, esperam do público que for ao Tom Brasil, em São Paulo, hoje e amanhã, para assistir ao espetáculo.
A transformação da célebre ópera de Carlos Gomes -usada na abertura do programa estatal de rádio "Voz do Brasil"- em um espetáculo multimídia é o tipo de inovação que costuma gerar olhares tortos dos puristas tanto do lado erudito quanto do eletrônico.
"Já ouvi muita bobagem, gente questionando meu "direito moral" de fazer esse tipo de trabalho", diz à Folha o maestro Fábio Oliveira, que rege a nova versão da obra e divide a direção musical com o DJ Mau Mau, que cuida da eletrônica.
"Respondo que meu direito moral é o mesmo que tive quando restaurei uma ópera que estava jogada havia mais de cem anos, sem patrocínio, em mais de seis anos de trabalho."
Oliveira refere-se à "Joanna de Flandres", também de Carlos Gomes, cuja restauração rendeu-lhe a medalha que leva o nome do maestro, outorgada pela cidade de Campinas, terra natal do compositor.

Novo público
O objetivo do projeto, segundo os envolvidos, é atrair a atenção dos fãs de música eletrônica para uma forma de arte que não lhes é familiar, a ópera. Para isso, além da fusão dos gêneros, a encenação conta com projeções de vídeo, cenografia e narração modernas -esta última a cargo do diretor-geral, Coy Freitas.
O cenário é marcado por seis blocos retangulares divididos em dois andares, cada um com uma persiana que serve de tela para as projeções, a cargo da artista plástica e fotógrafa Bia Guedes.
Há inovações como a transformação da luta entre Peri e Gonzáles em uma disputa de videogame, além de duetos entre cantores reais e virtuais. Também foi feita uma grande redução no tempo da ópera original (de 2h40 para 1h) e no tamanho da orquestra, restrita a quatro músicos.
O maestro diz que sua maior preocupação foi não desvirtuar a música original. "Não se mexe uma vírgula do que está na partitura, em termos do que está sendo cantado."
Para isso, conta-se com os cantores líricos como a soprano Julianne Daud (Ceci) e o tenor Eduardo Pinho (Peri). O projeto, que custou R$ 5,7 milhões, teve autorização para captar até R$ 3,7 milhões por meio da Lei Rouanet.

Festa
A encenação de "O Guarani" acontece em um conceito de "espetáculo-festa" -além da versão da ópera, haverá DJs tocando antes e depois.
Hoje, os responsáveis pelo som são Nego Moçambique e o próprio Mau Mau. Amanhã, tocam o norte-americano Derrick Carter e o coletivo brasileiro Jamanta Crew. Abrindo a festa, nos dois dias, está o DJ Cesar Alvarenga.
Apenas a apresentação de amanhã é aberta ao público e, até o início da tarde de ontem, metade das 4.000 entradas já tinha sido vendida.

O GUARANI
Quando:
hoje, 21h, e amanhã, 23h
Onde: Tom Brasil (r. Bragança Paulista, 1.281, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 2163-2000)
Quanto: R$ 50


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