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Garfo, faca e rock´n roll
Chega ao Brasil livro que narra as aventuras gastronômicas de Alex Kapranos, vocalista e guitarrista do Franz Ferdinand
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
"Mordidas Sonoras" ganhou
esse nome porque é um livro
sobre comida escrito por uma
estrela do rock. Em princípio, a
iniciativa soa desafinada, indigesta, já que a gastronomia não
costuma ser uma arte praticada
por roqueiros. "Mordidas Sonoras" é uma excelente surpresa porque seu autor, Alex Kapranos, não é o roqueiro idealizado por Rita Lee -não tem cara de bandido; tem cara de
gourmet. E escreve bem à beça.
O inglês Kapranos é vocalista
e guitarrista do Franz Ferdinand, bem-sucedida banda que
já lançou dois discos e que no
festival Motomix, em São Paulo, realizou um dos mais animados shows que aportaram no
Brasil no ano passado.
Aos 35 anos, em sua estréia
literária, conta as experiências
gastronômicas por que passou
quando estava na estrada com
seu grupo, excursionando pelo
mundo, além de relembrar os
tempos em que era ajudante de
chef e entregador de restaurante indiano em Glasgow.
"Mordidas Sonoras" compila
as colunas que Kapranos escreveu para o caderno de comida
do jornal britânico "The Guardian", entre 10 de setembro de
2005 e 25 de agosto de 2006,
acrescido de alguns textos inéditos. Chegou às livrarias inglesas em novembro passado.
Impressionista, nada sóbria,
a escrita vibrante de Kapranos
percorre desde um mercado de
aves em rua de Hong Kong até o
estrelado La Broche, em Madri.
"A delicada precisão da comida está nos limites da minha
compreensão. As sardinhas
vêm defumadas, com um ovo
frito crocante. (...) A comida
não é sofisticada: é quase rústica. Salsichas de porco e vitela
com feijão branco, risoto de
queijo Idiazábal (queijo de ovelha defumado): é como se a culinária rural espanhola tivesse
sido concentrada, refinada e reduzida à sua essência. Eu nunca
tinha comido em um lugar premiado com as estrelas do Michelin antes. Não é normal. É
abstrato, como ouvir um disco
de Frank Zappa -interessante,
mas qualquer melodia reconhecível figura apenas como
referência irônica."
As alusões ao mundo da música estão aqui e ali. O que interessa mesmo para o roqueiro-escritor-gourmet são os modos
e costumes de cada lugar que
visita, ou a reação de seu companheiro de banda, o baterista
Paul Thomson, à primeira ostra, ou descobrir que os melhores fast food do mundo estão
nas ruas de Atenas. Ou relembrar os tempos em que depenava e decapitava faisões em um
restaurante da Escócia.
Nesse sentido, tem o mesmo
espírito curioso e aventureiro
de "Em Busca do Prato Perfeito", a saga do chef Anthony
Bourdain que passou tanto por
saborosas bibocas do Vietnã
como pelo sofisticado French
Laundry, na Califórnia.
E, como o Franz Ferdinand
passou pelo Brasil, em um dos
capítulos de "Mordidas Sonoras" Kapranos narra seu encontro com uma picanha no rodízio carioca Porcão.
"O facão
do garçom fatia a camada exterior, de aparência caramelada,
revelando o vermelho profundo e suculento. (...) É boa."
Música
Após o livro, Kapranos voltou as atenções para sua banda.
Na semana passada, o Franz
Ferdinand fez show pequeno
em Nova York, onde tocou as
novas "Anyone in Love", "New
Thrill", "An English Goodbye",
"Favourite Lie" e "Turn It On".
O terceiro disco do grupo deve
sair entre o final deste ano e o
começo do próximo.
MORDIDAS SONORAS
Autor: Alex Kapranos
Tradução: José Júlio do Espírito Santo
Editora: Conrad
Quanto: R$ 34,90 (144 págs.)
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