São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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Repórter busca anônimos na guerra

Documentário de neto de Buñuel mostra a vida de pessoas em meio ao conflito entre Israel e palestinos

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Difícil ser original quando o assunto é o conflito entre palestinos e israelenses, que se arrasta há 60 anos numa overdose de notícias e versões.
Em busca de um olhar novo sobre a disputa, o correspondente de guerra Diego Buñuel, neto do cineasta Luis Buñuel, mergulhou no cotidiano da Terra Santa para captar os aspectos mais inusitados da (sobre) vida humana na região.
O resultado é o documentário "Zonas de Guerra: Terra Santa", que vai ao ar hoje à noite no canal National Geographic, encerrando uma série que acompanhou os passos de Buñuel em cinco países, incluindo Afeganistão, Colômbia e Coréia do Norte.
Considerado por alguns críticos como o melhor da série, o capítulo que tem o Oriente Médio como tema retrata com sutileza e humor -e sem tomar partido- a vida que se desenvolve na região longe dos clichês do noticiário de massa. O foco do documentário, construído como um "road movie" bem ritmado, está nas pequenas histórias anônimas e no absurdo tragicômico de um dia-a-dia que transcende a guerra.
O condutor da trama é o próprio Diego Buñuel, que aparece em praticamente cada tomada, contextualizando suas andanças em linguagem despojada ou trocando figurinhas com a população local.
Em Gaza, Diego Buñuel apresenta figuras como o empresário Rashid, que ganha a vida imprimindo cartazes dos mártires locais, e os MCs Hamed e Nazim, que animam as noites da juventude cantando em árabe um melancólico rap de gueto.
A poucos quilômetros dali, ele relata o pânico permanente dos moradores de Sderot, cidadezinha israelense que é alvo constante dos mísseis palestinos Qassam -ao menos três por dia caem no local, onde até os pontos de ônibus têm abrigo antiaéreo.
Em Hebron, Buñuel acompanha um passeio turístico de israelenses que nunca haviam pisado em solo palestino. Na pequena Taybeh, enclave cristão perto de Ramallah, o jornalista visita a primeira e única fábrica de cerveja palestina.
E nos confins da Cisjordânia ocupada, o jornalista descobriu Lucy Fensom, uma ex-aeromoça inglesa que cuida de asnos maltratados pela guerra.
Com apenas 33 anos, Buñuel, que diz só ter recebido do ilustre avô ensinamentos sobre a vida dos insetos e o tiro com pistola (!), revela talento para um jornalismo humanista cada vez mais escasso.
Sem ceder ao sentimentalismo, "Terra Santa" diverte e esclarece, provando que tragédias também podem ser tratadas com leveza.


ZONAS DE GUERRA: TERRA SANTA
Quando:
hoje, às 21h
Onde: no National Geographic



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