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"Macanudo" estreia hoje entre HQs da Ilustrada
Tirinha do cartunista argentino Liniers será publicada entre segunda e sexta
Entre os personagens estão o Misterioso Homem de Negro, a menina Enriqueta e o gato Fellini, pinguins e duendes voadores
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA
O ano era 2002. A Argentina
atravessava uma aguda crise
política e econômica. Para piorar, lá fora, o panorama não se
apresentava menos sombrio.
Havia poucos meses, as Torres
Gêmeas tinham sido derrubadas no ataque terrorista à Nova
York que espalhou uma onda
de tensão mundial.
Não parecia ser o melhor momento para fazer piadas. Mas
foi justamente para quebrar esse clima de pessimismo que o
cartunista argentino Ricardo
Liniers, 35, resolveu lançar
uma série de tirinhas humorísticas, e a elas deu o nome de
"Macanudo" (gíria que significa
"bacana" ou "supimpa").
A Ilustrada passa a publicar,
de segunda a sexta, o trabalho
que Liniers começou a fazer na
época. "Os jornais argentinos
estavam pessimistas. Pensei
que, no meio de manchetes deprimentes como "caem as Bolsas", ou "EUA vão invadir o Afeganistão", o leitor poderia receber uma pequena carícia", disse
em entrevista à Folha.
Por indicação da colega Maitena, as tiras de Liniers passaram a sair no "La Nacion".
O mundo de "Macanudo" é
povoado por personagens melancólicos, reflexivos e algo trágicos. A menina Enriqueta e
seu gato Fellini, o Misterioso
Homem de Negro, duendes e
pinguins são os principais.
Sobre o sentimentalismo
presente nas piadas que, paradoxalmente, às vezes dão vontade de chorar, Liniers diz:
"Meus quadrinhos têm uma alma meio tangueira, uma coisa
argentina de alimentar frustrações. Queremos ser pentacampeões, e isso nunca acontece.
Queremos ter políticos honestos, e eles não aparecem".
Os primeiros personagens a
surgir foram os pinguins. "São
simpáticos, do sul e do frio como nós", explica. Já Enriqueta
é às vezes comparada à Mafalda, do veterano Quino. Liniers
discorda: "Não dá para fazer
outra Mafalda, é como tentar
repetir o gol do Maradona contra os ingleses".
Por isso, fez de sua Enriqueta
uma menina ensimesmada,
cheia de questões existenciais
que divide apenas com o gato
Fellini e o urso Madariaga.
O sucesso do Misterioso Homem de Negro surpreende o
autor. "Fiz num dia em que estava me sentindo esquisito, pus
nele capa e chapéu, para ficar
elegante, mas não achava que
iam gostar, porque suas histórias não se fecham. Pelo visto,
há algo atraente em sua figura."
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