DA REPORTAGEM LOCAL

A Folha promove hoje à noite a leitura da peça "Românticos da Idade Mídia", do dramaturgo e diretor amazonense Francisco Carlos. No texto, apresentado como uma "tragédia-pastiche", a freira Adele Fatal foge do convento depois de ter o corpo queimado durante um banho sagrado. Instalada na metrópole, abre uma casa de massagem em que espartilhos e apetrechos sadomasoquistas dividem espaço com rituais místicos.
Por ali vão circular figuras como Miss Blair, a filha adotiva feita prostituta por Adele, o adolescente Ângelo, um reverendo, um punk falastrão, um repórter televisivo e um coveiro de "Hamlet". A certa altura, o grupo fará um piquenique num bosque mal-assombrado.
Marca da obra de Carlos, a sobreposição de referências clássicas e pop surge com força aqui. Ao lado de citações a Shakespeare, Baudelaire e Goethe e trechos decalcados da filosofia de Guattari, Nietzsche e Baudrillard, há acenos ao "Blade Runner" de Ridley Scott.
Mas a base de tudo foi a leitura de "A Viagem na Irrealidade Cotidiana", de Umberto Eco, em meados dos anos 80: "Gosto da ideia de que vivemos uma nova Idade Média. Como naquela época, a arte hoje é feita mais de colagens do que de um estilo próprio. O medo de viver também é semelhante. A síndrome do apocalipse ganhou nova forma, no temor da violência urbana", diz Carlos. Participam da leitura dramática os atores Gustavo Machado, Maria Manoella, Sergio Guizé, Guta Ruiz, Hércules Morais, Mariah Teixeira, Flavio Tolezani, Anderson Faganello, Eros Valério, Cristiano Karnas e Ernani Sanchez.