São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2010

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Mestre do Butô estreita laço com SP

Tadashi Endo prepara bailarinos brasileiros para montagem inspirada em obra do artista plástico Manabu Mabe

Audição na cidade selecionou 12 atores que vão participar da encenação, com estreia prevista para agosto

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O coreógrafo e diretor japonês Tadashi Endo, 62, não é de falar muito. Respostas curtas pontuaram a entrevista concedida por ele à Folha sobre seu próximo trabalho no Brasil, que deve estrear em agosto no Sesc Ipiranga.
Econômico também no gestual, durante a conversa Tadashi apenas movia fortuitamente a cabeça para o seu lado direito, tentando dividir a atenção entre as perguntas e um jogo da Copa, França x México, que passava em um televisor num bar do Bexiga.
A seu pedido, a entrevista foi regada a cerveja, numa mesa de calçada, depois de um ensaio. Com direito a boas tragadas de cigarros tirados de um maço da marca Peter Stuyvesant, comprado na Alemanha.
Residente na cidade germânica de Göttingen, onde mantém um centro de butô, Tadashi agora estreita laços também com São Paulo. Diz que não sabe quantas vezes já esteve na cidade, quase sempre a convite do grupo Lume, de Campinas. Estima que foram quase dez, quem sabe um pouco mais.
O novo espetáculo gira em torno da obra de um conterrâneo que imigrou para São Paulo: o pintor Manabu Mabe. É um ponto de partida ainda, mas que já goteja na mente de Tadashi algumas ideias, principalmente sobre a condição de imigrante.
As cores das pinturas de Mabe representam um campo sensorial a ser pesquisado. Mas, como trabalho coreográfico, a peça se beneficia ainda mais de um movimento do pincel. Para Tadashi, o traço do pintor imprimia à tela marcas simples, várias delas feitas em gestos únicos.

ENSAIOS NO BEXIGA
Nos ensaios, com 12 jovens bailarinos selecionados de um grupo que contava com 240 inscritos, esse ponto de partida apenas resvala em referências ao butô. O principal tecido de cena é a abertura para a expressão do próprio intérprete. Não é uma coreografia que se beneficie de marcação rígida e da contagem de compasso.
As imagens sugeridas por Tadashi -"você está num campo de flores, olhe as flores, apanhe uma flor delicadamente"- apenas emprestam ao dançarino, em orientações quase sempre individuais, uma ferramenta imagética. A partir daquele ponto, o gesto pode experimentar diversos caminhos em direção à abstração.
"Eu não quero falar para vocês o que vocês devem fazer. Quero que vocês me mostrem o que têm para expressar", orientou ao grupo no fim de um ensaio, em uma sala à meia-luz, em um antigo edifício do Bexiga.
O espetáculo, financiado por edital do Proac e beneficiado com o prêmio de Dança Klauss Vianna, vai entrar em cartaz também no teatro Cacilda Becker, em setembro.


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