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Mestre do Butô estreita laço com SP
Tadashi Endo prepara bailarinos brasileiros para montagem inspirada em obra do artista plástico Manabu Mabe
Audição na cidade selecionou 12 atores que vão participar da encenação, com estreia prevista para agosto
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O coreógrafo e diretor japonês Tadashi Endo, 62, não
é de falar muito. Respostas
curtas pontuaram a entrevista concedida por ele à Folha
sobre seu próximo trabalho
no Brasil, que deve estrear
em agosto no Sesc Ipiranga.
Econômico também no
gestual, durante a conversa
Tadashi apenas movia fortuitamente a cabeça para o seu
lado direito, tentando dividir
a atenção entre as perguntas
e um jogo da Copa, França x
México, que passava em um
televisor num bar do Bexiga.
A seu pedido, a entrevista
foi regada a cerveja, numa
mesa de calçada, depois de
um ensaio. Com direito a
boas tragadas de cigarros tirados de um maço da marca
Peter Stuyvesant, comprado
na Alemanha.
Residente na cidade germânica de Göttingen, onde
mantém um centro de butô,
Tadashi agora estreita laços
também com São Paulo. Diz
que não sabe quantas vezes
já esteve na cidade, quase
sempre a convite do grupo
Lume, de Campinas. Estima
que foram quase dez, quem
sabe um pouco mais.
O novo espetáculo gira em
torno da obra de um conterrâneo que imigrou para São
Paulo: o pintor Manabu Mabe. É um ponto de partida
ainda, mas que já goteja na
mente de Tadashi algumas
ideias, principalmente sobre
a condição de imigrante.
As cores das pinturas de
Mabe representam um campo sensorial a ser pesquisado. Mas, como trabalho coreográfico, a peça se beneficia ainda mais de um movimento do pincel. Para Tadashi, o traço do pintor imprimia
à tela marcas simples, várias
delas feitas em gestos únicos.
ENSAIOS NO BEXIGA
Nos ensaios, com 12 jovens
bailarinos selecionados de
um grupo que contava com
240 inscritos, esse ponto de
partida apenas resvala em referências ao butô. O principal
tecido de cena é a abertura
para a expressão do próprio
intérprete. Não é uma coreografia que se beneficie de
marcação rígida e da contagem de compasso.
As imagens sugeridas por
Tadashi -"você está num
campo de flores, olhe as flores, apanhe uma flor delicadamente"- apenas emprestam ao dançarino, em orientações quase sempre individuais, uma ferramenta imagética. A partir daquele ponto, o gesto pode experimentar diversos caminhos em direção à abstração.
"Eu não quero falar para
vocês o que vocês devem fazer. Quero que vocês me mostrem o que têm para expressar", orientou ao grupo no
fim de um ensaio, em uma
sala à meia-luz, em um antigo edifício do Bexiga.
O espetáculo, financiado
por edital do Proac e beneficiado com o prêmio de Dança
Klauss Vianna, vai entrar em
cartaz também no teatro Cacilda Becker, em setembro.
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