São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2005

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Livro e CD trazem à luz vida de Xangô da Mangueira

DA SUCURSAL DO RIO

Elton Medeiros diz que está cansado de ver "literatice" sobre samba, por isso não planeja escrever um livro. É uma pena, pois ele tem uma das melhores memórias do ramo, sabe contar causos divertidos e avaliar a trajetória de grandes nomes.
Um desses grandes nomes resolveu contar a sua história. "Xangô da Mangueira -Recordações de um Velho Batuqueiro", livro acompanhado de um CD, registra em textos e fotos os 82 anos de vida de Olivério Ferreira. A obra será lançada na próxima terça-feira, dia 26, às 21h, no Centro Cultural Carioca (r. do Teatro, 37, centro, Rio de Janeiro, 0/xx/21/ 2252-6468), com um show em homenagem a Xangô.
"Acho que Xangô é uma espécie de elo perdido entre os pioneiros do samba, das escolas de samba e os dias de hoje. É muito importante ter a história dele registrada", diz o músico Ricardo Cotrim, autor do projeto ao lado da também música Cristiane Cotrim -que não é sua parente.
Com patrocínio da Petrobras, "Xangô da Mangueira -Recordações de um Velho Batuqueiro" não será vendido comercialmente em sua primeira tiragem (1.500 exemplares). Chegará, segundo os Cotrim, a instituições e bibliotecas públicas.
"O projeto partiu do desejo de Xangô de falar de sua vida. Gravamos vários depoimentos dele e começamos a dividir o livro em partes. Depois entrevistamos pessoas indicadas por ele e convidamos o [compositor e escritor] Nei Lopes para escrever os textos de abertura dos capítulos", conta Ricardo Cotrim. "Ele ficou emocionado ao ver o livro."
Xangô está com 82 anos. Tem problemas de saúde, mas ainda faz alguns shows e visita a sua Mangueira, de onde é diretor honorário de harmonia. Com mestre Fuleiro no Império Serrano, Xangô praticamente inventou nas escolas o conceito de harmonia, ou seja, o entrosamento entre o canto, o ritmo e a dança dos componentes.
"Ele também teve papel fundamental na organização dos desfiles, auxiliando a prefeitura. Quando os desfiles foram para a Marquês de Sapucaí, ele determinou qual era o melhor sentido e como as escolas ficariam na concentração", conta Ricardo Cotrim.
Xangô ainda é um dos maiores partideiros (improvisadores) da história do samba. Ele gravou muitas de suas composições em quatro LPs dos anos 70 que nunca chegaram ao CD (com exceção do comércio pirata). Um de seus partidos-altos mais famosos, "Isso Não São Horas", está no CD produzido por Paulão 7 Cordas (diretor musical de Zeca Pagodinho) para acompanhar o livro. O disco conta com outras nove criações de Xangô e com sua versão para "O Vale do São Francisco", um dos sambas-enredos mais famosos da dupla Cartola/Carlos Cachaça.

Velhas Guardas
Embora os patrocínios não sejam fartos, projetos de recuperação da memória do samba vêm vingando. Também na próxima semana, será lançado o primeiro disco da Velha Guarda Musical de Vila Isabel, apadrinhada por Martinho da Vila. Berço de Noel Rosa e outros grandes compositores, o bairro da zona norte carioca é um ponto fundamental na trajetória do samba.
E ainda neste ano, também produzido por Paulão 7 Cordas, sai o primeiro disco da Velha Guarda do Império Serrano, liderada pelo compositor Zé Luiz, autor de "Todo Menino É um Rei" e outros clássicos.


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