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TEATRO/CRÍTICA
"Alice Através do Espelho" e peça de Antunes dialogam em festival
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Um festival não é só vitrine de
novidades: serve para rever
espetáculos que ganham novo
sentido ao ladearem outros.
O público do festival de Rio Preto tem a oportunidade, por exemplo, de assistir ao sóbrio "Foi Carmem Miranda", de Antunes Filho, em seguida ao contagiante
"Alice Através do Espelho", da
Armazém Cia de Teatro. São peças complementares, de virtudes
diferentes, mas com a infância como eixo, e, de certa forma, uma
ilumina a outra.
"Alice..." leva o público por um
torvelinho de sensações: a sensualidade sem culpa, a capacidade de
se reinventar no imaginário, o
prazer de se lançar no escuro.
A peça acompanha por espaços
mágicos essa menina-moça perdida em uma encruzilhada da vida, que Liliana Castro faz com delicadeza e garra, tirando partido
de sua beleza. Mas não deixa de
compartilhar a aventura, pois ao
seu lado estão atores como Patrícia Selonk, que faz um lisérgico
Chapeleiro Maluco; a poderosa
rainha, Simone Mazzer; e Sérgio
Medeiros, um Lewis Carroll emocionante na sua fragilidade.
A adaptação de Paulo de Moraes tira partido do País das Maravilhas fazendo pontes com temas
atuais ao apresentar o adolescente
diante do fascínio pelo sexo, pelas
drogas, pela loucura. Sob o maravilhamento com os cenários múltiplos, o figurino e as canções, vibra uma angústia subterrânea.
Em "Foi Carmem Miranda", a
angústia está nua, em cima do
palco. A partir do tema enganadoramente exaltativo, a brasilidade de exportação, o que vai para a
berlinda é o próprio conceito de
espetáculo teatral. Aqui a distância entre o palco e a platéia é mantida em seu ponto mais frio. Vemos três viúvas e uma menina,
com precisão beckettiana, ouvirem Carmem cantar.
Não se vê a cantora ainda, e é como se a platéia se contemplasse a
si mesma, tomando consciência
sem pressa do patético de sua
condição.
Quando Carmem se materializa, é como uma entidade de candomblé, no butô de Emily Sugay,
ou no impactante samba trágico
de Arieta Corrêa, forte em sua fragilidade. Juliana Galdino discursa
em fonemol, a língua imaginária
do CPT, satirizando com desenvoltura os efeitos retóricos das
biografias oficiais, e Paula Arruda,
em contraste com a tristeza reinante, enche o palco com sua ingenuidade sábia, menina sonhando em ser Carmem Miranda.
A infância, nas duas peças, é a
pedra de toque que protege contra a dureza do real. Por caminhos
paralelos, celebram a capacidade
de se maravilhar, ponto de honra
do teatro.
O crítico Sergio Salvia Coelho e a repórter-fotográfica Lenise Pinheiro viajaram a convite da organização do Festival Internacional de Rio Preto
Foi Carmem Miranda:
Alice Através do Espelho:
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