São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2005

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CINEMA/ESTRÉIAS

Para diretor do novo "A Fantástica Fábrica de Chocolate", filme original era "água com açúcar"

"O mundo infantil pode ser sombrio", afirma Tim Burton

LOUISE JURY
DO "INDEPENDENT"

Para gerações de crianças, Willy Wonka sempre foi Gene Wilder. O maluco dono da fábrica de chocolate criada por Roald Dahl foi encarnado por Wilder na tela grande em 1971, e o filme se tornou um clássico do cinema infantil, amado pelas crianças.
Assim, a reação foi de calafrios quando se anunciou que Johnny Depp, com seu rosto escultural, iria assumir o papel sob a direção de Tim Burton, criador de "Edward Mãos de Tesoura". O próprio Wilder acusou os produtores do novo filme de só pensar em dinheiro. "São apenas algumas pessoas sentadas por aí, pensando: "Como podemos faturar mais um pouco?'", disse o ator em entrevista amarga concedida no mês passado. "Não vejo para quê voltar atrás e fazer tudo de novo."
No entanto, Felicity (conhecida como Liccy) Dahl, a viúva de Roald Dahl, e outros membros da família do escritor acreditam que o novo "Fantástica Fábrica de Chocolate" teria conseguido a bênção de Dahl e que poderá superar a versão açucarada de 1971. "Ele a teria adorado", disse Liccy, após assistir ao novo filme. Consta que Dahl teria ficado decepcionado com o filme original, entre outras razões porque queria que o mais excêntrico Spike Milligan fizesse o papel de Wonka.
As sugestões anteriores de refazer o filme sempre caíram diante dos obstáculos difíceis erguidos pelos herdeiros de Dahl, que, num indicativo do poder que possuem, tiveram direito pleno de aprovação dos novos diretor, roteiro e atores principais. A Warner Brothers já detinha os direitos sobre a refilmagem havia oito anos, mas foi só quando Tim Burton, Johnny Depp e Freddie Highmore (o ator mirim aclamado por "Em Busca da Terra do Nunca"), no papel de Charlie, uniram suas forças que a família deu luz verde ao novo projeto.
É claro que a perspectiva de ter Tim Burton na direção era interessante. Com seu catálogo passado de filmes sombrios e heterodoxos, como "O Estranho Mundo de Jack" e "Os Fantasmas se Divertem", o diretor parecia estar mais próximo a Roald Dahl, em espírito, do que era Mel Stuart três décadas atrás. Aliás, Johnny Depp descreveu Tim Burton e Roald Dahl como "uma união acordada no céu".
Mais importante ainda, Amanda Conquy, responsável pelo patrimônio literário de Dahl, insiste que os herdeiros não vêem o novo filme como remake do primeiro. "Nós o vemos como um novo filme baseado no livro "A Fantástica Fábrica de Chocolate'", diz ela.
A Warner ainda vende o DVD de "A Fantástica Fábrica de Chocolate" original, que é imensamente bem-sucedido, especialmente nos EUA, onde é cult entre o público infantil. Segundo Conquy, porém, é hora de esse livro clássico ganhar uma nova versão para o cinema: "O filme já tem mais de 30 anos, e o livro tem 40. É hora de ele ser reinterpretado. O que gostamos em Tim Burton é que ele é muito criativo. Seu senso visual é fantástico, e isso é algo que a fábrica de chocolate exigia."
Fontes sugerem que o orçamento muito maior do filme atual -teria ficado entre 50 milhões e 80 milhões de libras (entre R$ 205 milhões e R$ 328 milhões)- tornou possível à nova versão ser mais fiel ao livro original. Os sets de filmagem foram maiores e incluíram um rio de 192 mil galões de chocolate derretido criado com efeitos especiais. Em 1971, os criadores do primeiro filme substituíram por uma máquina os esquilos da fábrica de chocolate que classificavam as nozes, mas Burton mandou treinar 40 esquilos reais durante semanas para que pudessem quebrar nozes e colocá-las na esteira transportadora.
"Não quero jogar os sonhos infantis de ninguém por terra", disse Burton, "mas a verdade é que o filme original era água com açúcar. Eu curti "Charlie and the Chocolate Factory" porque respeitava o fato de que crianças podem ser adultos. Foi uma das primeiras vezes em que se viu uma obra de literatura infantil mais sofisticada e que tratava de questões e sentimentos mais sombrios. Existem coisas muito sinistras que fazem parte da infância."


Tradução de Clara Allain

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