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CINEMA/ESTRÉIAS
Para diretor do novo "A Fantástica Fábrica de Chocolate", filme original era "água com açúcar"
"O mundo infantil pode ser sombrio", afirma Tim Burton
LOUISE JURY
DO "INDEPENDENT"
Para gerações de crianças, Willy
Wonka sempre foi Gene Wilder.
O maluco dono da fábrica de chocolate criada por Roald Dahl foi
encarnado por Wilder na tela
grande em 1971, e o filme se tornou um clássico do cinema infantil, amado pelas crianças.
Assim, a reação foi de calafrios
quando se anunciou que Johnny
Depp, com seu rosto escultural,
iria assumir o papel sob a direção
de Tim Burton, criador de "Edward Mãos de Tesoura". O próprio Wilder acusou os produtores
do novo filme de só pensar em dinheiro. "São apenas algumas pessoas sentadas por aí, pensando:
"Como podemos faturar mais um
pouco?'", disse o ator em entrevista amarga concedida no mês passado. "Não vejo para quê voltar
atrás e fazer tudo de novo."
No entanto, Felicity (conhecida
como Liccy) Dahl, a viúva de
Roald Dahl, e outros membros da
família do escritor acreditam que
o novo "Fantástica Fábrica de
Chocolate" teria conseguido a
bênção de Dahl e que poderá superar a versão açucarada de 1971.
"Ele a teria adorado", disse Liccy,
após assistir ao novo filme. Consta que Dahl teria ficado decepcionado com o filme original, entre
outras razões porque queria que o
mais excêntrico Spike Milligan fizesse o papel de Wonka.
As sugestões anteriores de refazer o filme sempre caíram diante
dos obstáculos difíceis erguidos
pelos herdeiros de Dahl, que,
num indicativo do poder que possuem, tiveram direito pleno de
aprovação dos novos diretor, roteiro e atores principais. A Warner Brothers já detinha os direitos
sobre a refilmagem havia oito
anos, mas foi só quando Tim Burton, Johnny Depp e Freddie Highmore (o ator mirim aclamado por
"Em Busca da Terra do Nunca"),
no papel de Charlie, uniram suas
forças que a família deu luz verde
ao novo projeto.
É claro que a perspectiva de ter
Tim Burton na direção era interessante. Com seu catálogo passado de filmes sombrios e heterodoxos, como "O Estranho Mundo de
Jack" e "Os Fantasmas se Divertem", o diretor parecia estar mais
próximo a Roald Dahl, em espírito, do que era Mel Stuart três décadas atrás. Aliás, Johnny Depp
descreveu Tim Burton e Roald
Dahl como "uma união acordada
no céu".
Mais importante ainda, Amanda Conquy, responsável pelo patrimônio literário de Dahl, insiste
que os herdeiros não vêem o novo
filme como remake do primeiro.
"Nós o vemos como um novo filme baseado no livro "A Fantástica
Fábrica de Chocolate'", diz ela.
A Warner ainda vende o DVD
de "A Fantástica Fábrica de Chocolate" original, que é imensamente bem-sucedido, especialmente nos EUA, onde é cult entre
o público infantil. Segundo Conquy, porém, é hora de esse livro
clássico ganhar uma nova versão
para o cinema: "O filme já tem
mais de 30 anos, e o livro tem 40. É
hora de ele ser reinterpretado. O
que gostamos em Tim Burton é
que ele é muito criativo. Seu senso
visual é fantástico, e isso é algo
que a fábrica de chocolate exigia."
Fontes sugerem que o orçamento muito maior do filme atual
-teria ficado entre 50 milhões e
80 milhões de libras (entre R$ 205
milhões e R$ 328 milhões)- tornou possível à nova versão ser
mais fiel ao livro original. Os sets
de filmagem foram maiores e incluíram um rio de 192 mil galões
de chocolate derretido criado
com efeitos especiais. Em 1971, os
criadores do primeiro filme substituíram por uma máquina os esquilos da fábrica de chocolate que
classificavam as nozes, mas Burton mandou treinar 40 esquilos
reais durante semanas para que
pudessem quebrar nozes e colocá-las na esteira transportadora.
"Não quero jogar os sonhos infantis de ninguém por terra", disse Burton, "mas a verdade é que o
filme original era água com açúcar. Eu curti "Charlie and the Chocolate Factory" porque respeitava
o fato de que crianças podem ser
adultos. Foi uma das primeiras
vezes em que se viu uma obra de
literatura infantil mais sofisticada
e que tratava de questões e sentimentos mais sombrios. Existem
coisas muito sinistras que fazem
parte da infância."
Tradução de Clara Allain
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