São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2005

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CRÍTICA

Zumbis se levantam para invadir a paranóia americana do medo

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Poucos cineastas podem dizer que criaram um gênero. Alfred Hitchcock é um -criou mais, aliás, neologismos como "MacGuffin", distrativo do plot principal plantado no meio da trama. É pelas mãos do britânico de "Psicose" que ganhou status de arte a trama chamada "whodunit", "quem fez" na corruptela em inglês, no sentido de "quem cometeu o crime" (quem pagou o "mensalão", em quais bancos tais fundos de pensão aplicavam seus recursos e coisas assim).
George Romero é outro. Em 1968, mudou o cinema de terror para sempre com o seu "A Noite dos Mortos Vivos", feito com dinheiro de pequenos investidores e amigos, que davam US$ 300 em troca de pequenos papéis, e filmado em sua Pittsburgh, na Pensilvânia, da qual nunca mais saiu. Era horror, tinha mortos-vivos, tinha gente morta comendo gente viva, mas tinha conteúdo. Como Mafalda, Romero também era um contestatário. Queria fazer a revolução pelo cinema.
A revolução veio, mas em outra área. Com seu subtexto social e político e a carnificina digna de um Zé do Caixão sob LSD, o diretor norte-americano, hoje com 65 anos, agradou tanto a academia quanto o fã-pipoca. Virou lenda. Como toda lenda, fez muita bobagem, mas a trilogia que ganharia um novo capítulo a cada década ("O Despertar dos Mortos", 1978, "O Dia dos Mortos", 1985) é definitiva e até hoje o melhor exemplo do "zombie movie".
Ele poderia ter ficado quieto, mas aproveitou o revival do gênero promovido por diretores mais novos fãs seus e retomou o tema com este "Terra dos Mortos", que estréia hoje no Brasil. Aqui, a metáfora são os EUA como império hegemônico, autor e vítima ao mesmo tempo da política do medo, que ele exemplifica muito bem ao dizer de um jeito algo hippie que o mesmo muro que protege é o que prende. No filme, apenas uma cidade ainda não foi tomada por "eles" (os zumbis, os mortos-vivos). "Eles" estão chegando.


Terra dos Mortos
Land of the Dead
    
Direção: George A. Romero
Produção: EUA, 2005
Com: Dennis Hopper, Asia Argento, John Leguizamo
Quando: a partir de hoje, nos cines Cinearte 2, Extra Anchieta, Center Norte Haway e circuito


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