São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2005

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"Terra dos Mortos" recupera Romero

TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando George Romero finalmente conseguiu dinheiro para voltar ao gênero que inventou, o filme de zumbis, pensou logo num nome para a heroína rebelde que lidera o bando de resistência que abre seu caminho rumo ao norte em meio a mortos vivos desesperados e vivos corruptos, que é a história principal de "Terra dos Mortos", que estréia hoje no Brasil: a filha do chamado "George Romero italiano", Dario Argento, diretor maldito que é referência mundial do cinema marginal europeu.
Romero conheceu Asia Argento aos 5 anos. A cada vez que a encontrava, o diretor contou à Folha, ele via a tatuagem de anjo que ela fez no baixo-ventre crescer um pouco mais. Hoje, com 29, mãe solteira, dois filmes dirigidos e dezenas de outros em que atuou, Asia Aria Maria Vittoria Rossa Argento é mercadoria em alta em Hollywood. Ela falou à Folha por telefone, da Itália.

 

Folha - Fazer um filme de George Romero é um recado a Hollywood de que você se vendeu, mas nem tanto assim?
Asia Argento -
Eu não me vendi nem tanto nem pouco. Odeio Hollywood, não moro em Los Angeles, apareço por lá para filmar e volto para a Itália. Não criaria meus filhos lá e não compro um carro usado de ninguém que tenha como código postal uma das ruas da Califórnia.

Folha - Sendo assim, por que você fez bombas como o filme de ação "XXX", com Vin Diesel?
Argento -
Mas eu também fiz "Last Days", de Gus Van Sant, em que interpreto uma personagem "inspirada" em Courtney Love, e dirigi e atuo em "The Heart Is Deceitful Above All Things", baseado no livro do JT Leroy, que adoro e é maravilhoso, entre várias outras atividades. Tenho uma banda. Sou mãe. Tenho amantes. Ou seja, dá para conciliar várias coisas sem ser rotulada.

Folha - Há algo freudiano em filmar com um diretor que é considerado o "Dario Argento" norte-americano, ou vice-versa, e que a conhece desde que você tinha 5 anos, não?
Argento -
Pode ser, nunca pensei nisso. Para mim ele sempre foi "tio George". Mas desde que eu entrei na vida adulta, aos 14 anos, ou seja, quando fiz minha primeira tatuagem, pensava em fazer um filme com ele. O problema é que a indústria de cinema norte-americana não é das mais inteligentes do mundo, e arrumar quem bancasse mais um filme de zumbi dirigido pelo pai dos filmes de zumbi demorou mais do que uma década. Enquanto isso, fui fazendo minhas coisas. Mas o desejo estava lá, sempre esteve.

Folha - Feito e aceito o convite, como foi o dia-a-dia no set, a convivência com Romero?
Argento -
Primeiro, é impressionante a quantidade de coletes iguais que George tem. Acho que ele deve manter o mesmo estilista desde sempre, que faz dezenas de exemplares parecidíssimos. Segundo, é impressionante o quanto o Canadá pode ser frio [grande parte de "Terra dos Mortos" foi filmada em Ontário no inverno]. Ali, batendo o queixo sob um frio de -20 C, percebi o quanto alguns milhões de dólares a mais podem fazer diferença no aquecimento dos traileres dos atores e das locações ["Terra dos Mortos" custou US$ 18 milhões, cerca de R$ 42 milhões, um filme de baixo orçamento para os padrões de Hollywood]. Mas quem mais faria algo assim se não o nosso "tio George"?


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