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"Terra dos Mortos" recupera Romero
TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando George Romero finalmente conseguiu dinheiro para
voltar ao gênero que inventou, o
filme de zumbis, pensou logo
num nome para a heroína rebelde
que lidera o bando de resistência
que abre seu caminho rumo ao
norte em meio a mortos vivos desesperados e vivos corruptos, que
é a história principal de "Terra
dos Mortos", que estréia hoje no
Brasil: a filha do chamado "George Romero italiano", Dario Argento, diretor maldito que é referência mundial do cinema marginal europeu.
Romero conheceu Asia Argento
aos 5 anos. A cada vez que a encontrava, o diretor contou à Folha, ele via a tatuagem de anjo que
ela fez no baixo-ventre crescer um
pouco mais. Hoje, com 29, mãe
solteira, dois filmes dirigidos e dezenas de outros em que atuou,
Asia Aria Maria Vittoria Rossa
Argento é mercadoria em alta em
Hollywood. Ela falou à Folha por
telefone, da Itália.
Folha - Fazer um filme de George
Romero é um recado a Hollywood
de que você se vendeu, mas nem
tanto assim?
Asia Argento - Eu não me vendi
nem tanto nem pouco. Odeio
Hollywood, não moro em Los
Angeles, apareço por lá para filmar e volto para a Itália. Não criaria meus filhos lá e não compro
um carro usado de ninguém que
tenha como código postal uma
das ruas da Califórnia.
Folha - Sendo assim, por que você
fez bombas como o filme de ação
"XXX", com Vin Diesel?
Argento - Mas eu também fiz
"Last Days", de Gus Van Sant, em
que interpreto uma personagem
"inspirada" em Courtney Love, e
dirigi e atuo em "The Heart Is Deceitful Above All Things", baseado no livro do JT Leroy, que adoro
e é maravilhoso, entre várias outras atividades. Tenho uma banda. Sou mãe. Tenho amantes. Ou
seja, dá para conciliar várias coisas sem ser rotulada.
Folha - Há algo freudiano em filmar com um diretor que é considerado o "Dario Argento" norte-americano, ou vice-versa, e que a conhece desde que você tinha 5 anos,
não?
Argento - Pode ser, nunca pensei
nisso. Para mim ele sempre foi
"tio George". Mas desde que eu
entrei na vida adulta, aos 14 anos,
ou seja, quando fiz minha primeira tatuagem, pensava em fazer um
filme com ele. O problema é que a
indústria de cinema norte-americana não é das mais inteligentes
do mundo, e arrumar quem bancasse mais um filme de zumbi dirigido pelo pai dos filmes de zumbi demorou mais do que uma década. Enquanto isso, fui fazendo
minhas coisas. Mas o desejo estava lá, sempre esteve.
Folha - Feito e aceito o convite,
como foi o dia-a-dia no set, a convivência com Romero?
Argento - Primeiro, é impressionante a quantidade de coletes
iguais que George tem. Acho que
ele deve manter o mesmo estilista
desde sempre, que faz dezenas de
exemplares parecidíssimos. Segundo, é impressionante o quanto o Canadá pode ser frio [grande
parte de "Terra dos Mortos" foi
filmada em Ontário no inverno].
Ali, batendo o queixo sob um frio
de -20 C, percebi o quanto alguns
milhões de dólares a mais podem
fazer diferença no aquecimento
dos traileres dos atores e das locações ["Terra dos Mortos" custou
US$ 18 milhões, cerca de R$ 42
milhões, um filme de baixo orçamento para os padrões de Hollywood]. Mas quem mais faria algo
assim se não o nosso "tio George"?
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