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Análise
Era digital torna difícil ser um liberal autêntico
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O que adquirimos quando
compramos um livro ou outro
bem cultural por vias eletrônicas? Tornamo-nos proprietários dos bits que o compõem ou
obtemos apenas o direito de
desfrutar da obra?
No mundo pré-informático,
a resposta era simples. Éramos
donos do produto e poderíamos fazer com ele o que bem
entendêssemos. Ninguém poderia me censurar por picotar
de um livro de minha propriedade as páginas de que não gosto, mesmo que isso, ao fim do
processo, resulte numa deturpação do pensamento do autor.
Agora que as possibilidades
de reproduzir obras e intervir
sobre elas ficaram quase ilimitadas, a questão se torna mais
complexa. Até que ponto é preciso respeitar direitos do autor
e a própria integridade da obra?
Em 2005, os EUA baixaram
uma lei que autoriza empresas
a adquirir DVDs e deles retirar
palavrões e "cenas fortes" para
revendê-los a um público religioso que prefere não ver essas
coisas. A "sanitização" pode ser
feita à revelia do autor.
Se achamos que criadores
podem reclamar, então defendemos uma noção menos forte
de propriedade -e a Amazon
também pode confiscar o livro
irregular. Se enfatizamos a posse material, então eu poderia
comprar a Mona Lisa e pintar-lhe bigodes ou destruí-la, privando toda a humanidade desse retrato. Parece cada vez mais
difícil ser um liberal autêntico.
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