São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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13º FESTIVAL DE CURTAS-METRAGENS DE SÃO PAULO

Terror em minutos


Os ataques terroristas de 11/9, vistos pelos olhos de vários cineastas norte-americanos, passam neste fim de semana; mostra paulistana com 426 curtas de 54 países começa hoje


IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A 20 dias de os ataques terroristas nos EUA completarem um ano, os paulistanos terão a oportunidade de ver como diversos cineastas reagiram à época. Naquela segunda semana de setembro, os cineastas Jay Rosenblatt e Caveh Zahedi pediram para que 180 diretores lhes mandassem curtas sobre os atentados.
Tempos depois, os filmes começaram a chegar. Um deles, "A Voz do Profeta", mostrava uma antiga entrevista com o chefe de segurança de um banco sediado no World Trade Center. Ele alertava para a possibilidade de ataques terroristas em território americano. "Temos que pensar numa bomba no World Trade Center", alertou, quatro anos antes de morrer no próprio prédio com outros quase 3.000 americanos.
Reunidos sob o nome de "Underground Zero", os curtas serão exibidos neste fim de semana, dentro do 13º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. Neste sábado, passa às 20h, no MIS. No domingo, às 12h, no CCBB.
Rosenblatt, 47, premiado no Festival de Sundance, já esteve em São Paulo duas vezes para o evento de curtas. Desta vez, não veio. Mas deu esta entrevista à Folha, por telefone, de São Francisco.

Folha - Qual a importância de exibir um filme como "Underground Zero" em um país do Terceiro Mundo como o Brasil?
Jay Rosenblatt -
Acho que o filme é importante para o Brasil por mostrar diversas vozes. É uma alternativa para os meios de comunicação de massa, que produzem basicamente uma só voz. É bom para o Brasil perceber que nem todos na América pensam como o governo. Somos vários.

Folha - O senhor acha que o cinema americano mudou após o 11/9?
Rosenblatt -
Definitivamente, Hollywood está fazendo o mesmo. Lembro que eles seguraram um filme do Schwarzenegger às vésperas da estréia. Mas depois de um tempo, o exibiram normalmente. Foi tudo temporário.

Folha - Mas em "Homem-Aranha", por exemplo, as torres gêmeas foram cortadas.
Rosenblatt -
Mudanças mínimas como essas. Infelizmente eu não acho que este país aproveitou as possibilidades de olhar para si mesmo, para sua própria sociedade. No começo, as pessoas ficaram tão desconcertadas... Mas, depois, todos voltaram a fazer o que faziam normalmente, aos seus velhos hábitos. Perdemos a chance.

Folha - Como surgiu esse filme?
Rosenblatt -
Estávamos nos sentindo oprimidos. Uma semana após o 11/9, eu e meu colega resolvemos pedir para que as pessoas replicassem a isso. Contactamos 180 pessoas, cineastas, que já tivessem feito ao menos uma fita.

Folha - O sr. conhecia todos?
Rosenblatt -
Conhecíamos eles ou o trabalho deles. E o mais importante: tínhamos seus e-mails.

Folha - Importante por quê?
Rosenblatt -
Porque queríamos trabalhar muito rápido. Nós não tínhamos a energia, tempo, nem dinheiro para ficarmos fazendo telefonemas ou mandando cartas. O e-mail fazia mais sentido.

Folha - E qual foi o resultado?
Rosenblatt -
Desses 180, 65 mandaram, uma boa porcentagem. Dos 65, escolhemos 13 para o "Programa 1" e 18 para o "Programa 2" [o festival de SP selecionou 9]. Escolhemos os mais fortes. Fizemos uma seleção como se fosse um pequeno festival de curtas. Um processo semelhante, só que sem cobrar entrada.

Folha - O festival de curtas de São Paulo também não cobra entrada.
Rosenblatt -
Ah, isso é ótimo.


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