CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

De todos os títulos dos livros de Paul Auster, talvez nenhum revele mais sobre sua literatura do que o do romance "A Música do Acaso". O norte-americano de 55 anos já mostrou fartamente seu talento em levar para a área das letras os compassos que o imprevisível faz cada um de nós dançar.
Ainda que de forma tímida, a cantiga do inesperado volta a soar nas livrarias. "The Book of Illusions" (O Livro das Ilusões), com lançamento oficial nos EUA no final deste mês, já começou a chegar às prateleiras americanas.
O trabalho, que deve ser lançado no Brasil em dezembro pela Companhia das Letras, tem como ponto de partida um acidente -a música do acaso de Auster começa em ritmo de marcha fúnebre.
Um avião se espatifa matando a mulher e os dois garotos de David Zimmer. De repente, o professor universitário vira um sozinho.
Das profundezas de meses submersos em álcool, ele consegue às tantas enxergar algo divertido. Espiando um documentário sobre os velhos mestres do cinema mudo Zimmer se percebe seduzido pela graça de um nome secundário dessa arte, o diretor e ator Hector Mann. Recentemente, cada um dos filmes perdidos de Mann começara a chegar aos principais arquivos de cinema do mundo, em envelopes sem remetente.
Zimmer resolve se dedicar a assistir aos filmes do cineasta, viajando para as cidades que guardavam os únicos exemplares de suas películas. O estudo do professor acaba se tornando um livro.
Eis que, sumido há mais de meio século, e tido como morto, o cineasta manda carta para Zimmer, comentando a obra que publicara a seu respeito. É assim que Auster, fã confesso de Jorge Luis Borges, monta o esqueleto de seu labirinto. Basta seguir os fios do acaso para acompanhar a trama.