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TELEVISÃO
Em litígio com o Ecad, emissora tem festa hoje com show de Caetano e Jorge Mautner e homenagem a Cássia Eller
Alheia à crise, MTV faz entrega de prêmios
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Aparentemente, tudo está perfeito para a MTV no dia em que
acontece a oitava edição de sua
maior festa anual, a premiação do
Video Music Brasil. A rede musical de TV projeta, até o fim do
ano, um crescimento de faturamento de 15% a 20% em relação a
2001. Paradoxalmente, isso acontece em meio a uma das mais fortes crises da história da indústria
fonográfica nacional, a mesma
que ampara a MTV com clipes,
artistas, parcerias etc.
O mercado amarga hoje o crescimento explosivo da pirataria
(estimada em 50% da circulação
total, em 2001), a derrocada de gêneros populares e um encolhimento progressivo do mercado
oficial (entre 2000 e 2001, o consumo de CDs oficiais caiu cerca de
17%, tendência que se agrava em
2002). Para a TV da música, ilha
de tranquilidade em meio ao vendaval, tudo isso passa batido.
"Foi um ano de pouca novidade, apareceram poucas bandas.
Mas a quantidade de videoclipes é
a mesma de 2001. A pirataria não
se reflete na MTV. Nosso faturamento vem do mercado anunciante, que cada vez mais percebe
o retorno que tem ao aparecer
aqui", enumera o presidente da
MTV, André Mantovani, 38.
Outro dos assuntos explosivos
da temporada -o debate sobre
direitos autorais, via polêmica da
numeração de CDs- aparece de
forma enviesada na rede musical.
Há dois anos e meio a emissora
não paga direitos devidos ao Ecad
(Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) pela veiculação de músicas na programação.
E a MTV acaba de vencer, em primeira instância, ação contra o recolhimento pretendido pelo Ecad,
de 2,5% do faturamento total.
O Ecad diz desconhecer a sentença favorável à MTV, mas só
quis se pronunciar à Folha por escrito: "O que é de estranhar é que
a MTV, uma emissora puramente
musical, transmitindo em sua
programação 24 horas de música
diária, esteja justamente caminhando em direção contrária à
maioria das emissoras de TV, que
cumprem o devido pagamento".
Do lado dos artistas, o representante da classe no grupo de trabalho sobre numeração, Roberto
Frejat (que tem indicações para
prêmios e participa hoje à noite
da festa do VMB), não se pronunciou até a conclusão desta edição.
Sobra para o franco-atirador
Lobão, 44: "Eles têm obrigação,
como emisora eminentemente
musical, de no mínimo dar o
exemplo de colaboração com os
artistas, e não de exploração e inadimplência. Quanto a mim, pessoalmente, não perco muito com
isso, pois é ruim de eu tocar lá...".
A MTV se defende. "Não deixamos de recolher por vontade nossa, mas porque o tipo de ação que
movemos determina isso. Achamos que o Ecad não pode se encarar como um poder público, que
cobra imposto e nem precisa negociar. Continuamos pagando as
outras editoras normalmente. Os
valores referentes ao Ecad estão
sendo reservados e são considerados na contabilidade da empresa", afirma o diretor financeiro da
empresa, Eder Peres, 46.
Quanto aos artistas: "Temos
uma relação clara e limpa com a
classe. Eles entendem as razões
dessa ação contra o Ecad".
Logomarcas
Se a MTV não se preparou para
se posicionar em seu VMB sobre
crise, pirataria, numeração ou outras questões candentes da indústria que motiva sua existência, por
outro lado se esforça por não passar imagem de despolitizada ou
pouco atuante no cenário atual.
O fio condutor imaginado para
a cerimônia que começa às 22h é o
do universo das logomarcas, sob
inspiração aparente do polêmico
livro "No Logo", de Naomi Klein.
"As vinhetas farão uma autocrítica da MTV. Será a apoteose das
marcas, com o consumismo desvairado como fio condutor", explica Mantovani. Segundo ele, cada artista concorrente terá logomarca específica, numa "crítica
ao mundo maravilhoso das marcas, ao próprio sistema".
Ele promete também menção às
eleições que se aproximam. "Pirataria é caso de polícia. Não me parece um dos maiores problemas
do Brasil hoje, há muita boca para
alimentar antes. Prefiro usar a
força da MTV para debater assuntos que preocupam os jovens",
diz, citando como exemplo as
eleições. "Continuamos chamando os candidatos a ir ao programa
do João Gordo, até agora só Ciro
Gomes compareceu", alfineta.
Quanto ao cenário catastrófico
várias vezes pintado pelas gravadoras, Mantovani se volta ao umbigo MTV: "Para a gente acabar
tem que acabar a música mundial.
Se a música brasileira parar, tocamos música estrangeira".
Bem, mas aí deixaria de existir o
VMB, que premia a música nacional e é festejado hoje como ponto
culminante da programação
anual da rede de TV e música...
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