São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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CRÍTICA

"Ilha" põe o real em molde moralista

NEWTON CANNITO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Poucos notaram, mas "Ilha da Sedução", o "reality show" do SBT, é um dos programas mais moralistas da TV brasileira. O telespectador sintoniza no programa estimulado pelas promessas de exposição sexual, mas assiste a um melodrama conservador. Pode parecer estranho, mas "Ilha" é um programa para a família.
Tematicamente ele expressa, via "reality show", uma outra etapa da vida sexual do público. Foi-se o tempo dos beijinhos românticos de Supla e Bárbara Paz. Os "reality shows" partiram da adolescência romântica da "Casa dos Artistas 1", passaram pela mitológica vida sexual ativa do "solteiro carioca" exposta nos "Big Brothers" e finalmente chegaram à "Ilha da Sedução", que explora as tentações que afligem o casal monogâmico.
Quanto à estrutura, "Ilha" segue a fórmula do melodrama tradicional. Desde o início do século passado, o cinema de David Grifith já defendia a moral conservadora expondo o protagonista a uma série de tentações sexuais. Mesmo se as tentações forem experimentadas, ao final da história o protagonista e o público devem aprender que o que realmente importa é o seu "verdadeiro amor".
O roteiro de "Ilha" tem feito um esforço para encaixar a realidade nesse modelo. Entre os quatro casais, a edição desse domingo deu destaque para Vinicius e Bruna. Vinicius lê o mundo de forma melodramática e de sua boca saem clichês do gênero como: "Isso não é coisa de mulher decente".
O desafio dramático é conquistar para o melodrama a legitimidade do fato histórico documentado, tentando provar que seus modelos narrativos se aplicam na construção do cotidiano. Mais uma vez Vinicius, ao comentar uma "solteira" que julgou perversa, disse a frase ideal, espécie de epígrafe de "Ilha": "Pensei que gente assim só existia em novela".

Newton Cannito é diretor do Instituto de Estudos de Televisão



Ilha da Sedução   
Quando: domingo, às 22h
Onde: SBT




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