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CRÍTICA
"Ilha" põe o real em molde moralista
NEWTON CANNITO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Poucos notaram, mas "Ilha
da Sedução", o "reality show"
do SBT, é um dos programas mais
moralistas da TV brasileira. O telespectador sintoniza no programa estimulado pelas promessas
de exposição sexual, mas assiste a
um melodrama conservador. Pode parecer estranho, mas "Ilha" é
um programa para a família.
Tematicamente ele expressa, via
"reality show", uma outra etapa
da vida sexual do público. Foi-se o
tempo dos beijinhos românticos
de Supla e Bárbara Paz. Os "reality
shows" partiram da adolescência
romântica da "Casa dos Artistas
1", passaram pela mitológica vida
sexual ativa do "solteiro carioca"
exposta nos "Big Brothers" e finalmente chegaram à "Ilha da Sedução", que explora as tentações
que afligem o casal monogâmico.
Quanto à estrutura, "Ilha" segue
a fórmula do melodrama tradicional. Desde o início do século
passado, o cinema de David Grifith já defendia a moral conservadora expondo o protagonista a
uma série de tentações sexuais.
Mesmo se as tentações forem experimentadas, ao final da história
o protagonista e o público devem
aprender que o que realmente importa é o seu "verdadeiro amor".
O roteiro de "Ilha" tem feito um
esforço para encaixar a realidade
nesse modelo. Entre os quatro casais, a edição desse domingo deu
destaque para Vinicius e Bruna.
Vinicius lê o mundo de forma
melodramática e de sua boca
saem clichês do gênero como: "Isso não é coisa de mulher decente".
O desafio dramático é conquistar para o melodrama a legitimidade do fato histórico documentado, tentando provar que seus
modelos narrativos se aplicam na
construção do cotidiano. Mais
uma vez Vinicius, ao comentar
uma "solteira" que julgou perversa, disse a frase ideal, espécie de
epígrafe de "Ilha": "Pensei que
gente assim só existia em novela".
Newton Cannito é diretor do Instituto
de Estudos de Televisão
Ilha da Sedução
Quando: domingo, às 22h
Onde: SBT
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