São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002
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Paixões a óleo
EXPOSIÇÃO MARCA CEM ANOS DE REBOLO ALEXANDRA MORAES DA REDAÇÃO Francisco Rebolo (1902-1980), lembrado frequentemente por conjugar futebol e artes plásticas em uma só paixão, faria cem anos hoje. A data é lembrada com a abertura de uma exposição no MAM de São Paulo, "Rebolo - 100 anos", que reúne 160 óleos produzidos pelo artista e ex-jogador de futebol em quase 50 anos dedicados à pintura, através de paisagens, naturezas-mortas ou personagens do cotidiano brasileiro. Com curadoria de Lisbeth Rebollo Gonçalves, 55, presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte e filha do artista, a mostra faz parte de uma série de eventos que lembram o centenário, iniciada com o lançamento de um site (www.uol.com.br/franciscorebolo) dedicado à vida e à obra de Rebolo, em maio deste ano. Além disso, está programada a reedição de um livro de 1986 sobre o artista, com reproduções de obras, textos críticos e cartas, algumas inéditas, e um depoimento também inédito sobre o futebol, concedido no começo dos anos 70, aos sociólogos José Rodrigues Barbosa e Antônio Gonçalves. O volume deve ser lançado em setembro, numa parceria entre a Edusp e a Editora Unesp. As obras da retrospectiva vêm, em sua maioria, de instituições como o próprio MAM, o MAC, a Faap e o Museu Nacional de Belas Artes e são todas pinturas a óleo, produzidas entre 1932 e 1980, ano da morte de Rebolo. "Por causa da limitação do espaço, tivemos de optar entre organizar a exposição por linguagens ou mostrar o trajeto de sua pintura. Como ele foi essencialmente pintor, achamos importante privilegiar o segundo aspecto", diz a curadora. Esses 160 óleos perpassam as diversas temáticas encontradas na obra de Rebolo, entre auto-retratos, retratos da família, paisagens urbanas e suburbanas, naturezas-mortas, nus (resultado das sessões de modelos vivos realizadas pelo grupo Santa Helena, do qual Rebolo fez parte) e seu "olhar sobre as pessoas, como o jogador de futebol, o operário, os personagens que povoam o cotidiano", enumera Lisbeth. Há trabalhos com histórias peculiares, como "Cena de Jogo num Bar" (1938), que fez parte de sua primeira individual, em 44, pertenceu a Sérgio Milliet, depois a Ciccilo Matarazzo, sendo doada por este ao MAC. "Casario", de 1954, participou do Salão em Preto e Branco, mostra coletiva que protestava contra a alta taxa de importação das tintas, taxadas pelo governo Getúlio Vargas como "artigo de luxo". A mostra ainda traz a experiência italiana, em pesquisas feitas no país na década de 60, nas quais, influenciado pela arte etrusca, Rebolo passa a enfatizar a variedade de texturas e volume da tinta. No centro do espaço expositivo, um grande anel redondo cercado por cortinas abriga nove obras representativas da trajetória do pintor e faz que, segundo Lisbeth, "o público seja "abraçado" pelas obras", numa espécie de reconstituição física da análise que o crítico carioca Walmir Ayala fez, em 73, sobre a obra de Rebolo, quando a classificou como um "anel lírico", por sua estrutura circular: o Rebolo dos anos 70 reencontraria aquele dos anos 30. Haverá também projeções de "O Anel Lírico", curta de 1975 feito por Olívio Tavares de Araújo sobre o artista. Para Lisbeth, a exposição tem sentido duplo. "É resgatar não só o personagem histórico, mas também a figura afetiva do pai." REBOLO - 100 ANOS. Onde: MAM (pq. Ibirapuera, portão 3, São Paulo, tel:0/xx/ 11/5549-9688). Quando: hoje, às 19h; ter., qua. e sex., das 12h às 18h; qui., das 12h às 22h; sáb. e dom., das 10h às 18h; até 6/10. Quanto: R$ 5. Patrocinadores: Secretaria de Estado da Cultura, TCO Celular, Cobra, Governo do Estado de SP e Imprensa Oficial de SP. Texto Anterior: Contardo Calligaris: As eleições e a famosa falta de debate de fundo Próximo Texto: Crítica: Poucos são tão brasileiramente modernos Índice |
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