São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 2006

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Freak folk

Estrela do novo folk, a dupla CocoRosie mostra suas raízes hippies em SP e Recife

ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Thank you God for this, oh, this fine day" ou, em bom português, "Obrigada Deus por esse ótimo dia". Esse é o primeiro verso de "Noah's Ark" (Arca de Noé), nome da canção que batiza o segundo álbum da dupla norte-americana CocoRosie.
Deve ser mais ou menos assim que os fãs das irmãs Bianca e Sierra Casady estão agradecendo aos céus pelos shows que elas fazem no Brasil, na próxima semana. Numa daquelas sacadas que poucos têm, dois festivais -veja o quadro ao lado- trazem as moças ao país no auge de sua ainda curta, mas muito badalada carreira.
Bianca "Coco", 24, e Sierra "Rosie", 26, juntaram seus apelidos de infância em 2003, depois de uma temporada trancadas num apartamento, em Paris, gravando todo tipo de esquisitices que lhes passava pela cabeça. O resultado de oito meses de tardes regadas a champanhe francês foi um registro em CDR, que elas passaram a distribuir para os amigos.
Até aí, nenhuma novidade em gravar umas fitinhas e presentear os chegados. Só que quando estes são músicos bambambãs como Devendra Banhart, namorado de Bianca, e Antony, do Antony and the Johnsons, há o risco de sua piração ir parar numa gravadora -e foi o que aconteceu.
O selo canadense Touch and Go ouviu o CDR, adorou e lançou "La Maison de Mon Rêve", disco que passou a integrar a cena "neofolk" ou "freak folk" [leia à pagina 2], cujo expoente mais famoso é Devendra Banhart, atração do Tim Festival, em outubro.
"La Maison" chamou a atenção da imprensa internacional, que amou, e também odiou, os vocais etéreos, às vezes sussurrados, e a atmosfera onírica, que as duas irmãs imprimiram a sua estréia em CD.

Hippies
Além do interesse musical, a infância das duas rendeu uma porção de histórias -e também de lendas-, por conta da mãe, artista nômade, descendente de índios americanos, e do pai, que as levava para sessões de xamanismo regadas a chás alucinógenos. Na adolescência, as duas se separaram: Sierra foi para Paris estudar ópera e Bianca ficou em Nova York, dando aulas de poesia. Sabendo disso tudo, dá para entender porque o álbum é tão "freak" e elas, tão hippies.
"A maneira como fizemos o primeiro disco provavelmente chocaria você", falou Sierra à Folha. "Esse CD é inspirado pela música clássica e pelo gangsta rap. Quando gravamos, estávamos fazendo algo hardcore, duro e cruel. Mas, quando finalmente ele veio ao mundo, as pessoas pensaram o oposto: acharam vulnerável e gentil."
Com a intensão de serem duronas, as duas teceram uma sonoridade "soft", utilizando harpas, teclados, barulhos de colheres, de chacoalhar de jóias.
"Os instrumentos não eram importantes. O que importava era a força por trás das histórias. Algumas vezes, usamos somente a voz, com pequenos objetos que encontrávamos no apartamento", explica Sierra.
"Foi um processo de documentação daquela experiência pessoal", afirma ela. "Fizemos uma viagem astral e nos envolvemos numa espécie de jornada psicodélica através de nossa imaginação. Experimentamos os diferentes sons do mundo."
Ainda que algumas letras sejam contundentes e outras, polêmicas, como "Jesus Loves Me", que alguns consideram "racista", o que impressiona são os vocais, que, no segundo disco, "Noah's Ark", ganharam reforço de Antony, cantando a belíssima "Beautiful Boyz"; de Devendra, em "Brazilian Sun" -um sonho de Sierra com "o alvorecer no Brasil"-; e do MC francês Spleen, que participa dos shows da dupla no país.
Ao vivo, diz Sierra, o som é muito diferente do CD. "Para nós, a performance é como um ritual, uma cerimônia. Ficamos intensamente fascinadas e envolvidas." Pela descrição, dá para imaginar o que vem por aí...


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