LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em relações marcadas por desconfiança e intolerância, os ânimos só se apaziguam quando idéias preconcebidas são revistas, generalizações, descartadas, e arquétipos, desmontados. Foi com essa cartilha que a ONG Afroreggae criou, em parceria com os setores público e privado, um projeto de aproximação entre policiais militares e jovens moradores de favelas. Oficinas de teatro, circo e percussão ministradas pelos segundos fariam a vez de "ponte".
O registro da primeira etapa da iniciativa, em batalhões de Belo Horizonte, está no documentário "Polícia Mineira", que o Futura exibe hoje. O filme (cujo título alude à expressão cunhada para designar agentes corruptos) dispensa narrações em off, delegando aos "personagens" o relato de suas próprias histórias.
Assim, o PM vai à rua colher opiniões sobre o trabalho de sua corporação, um instrutor do Afroreggae e um sargento trocam impressões sobre arbitrariedade de uns e rancores de outros e um ex-traficante conhece um batalhão.
O filme ameaça perder o foco ao abrir espaço para a discussão da presença feminina na PM. Um certo estribilho laudatório à la vídeo institucional também incomoda. Mas a mensagem de que a cultura tem poder agregador, ainda que aparentemente demagógica, merece atenção.