São Paulo, quarta-feira, 22 de agosto de 2007

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crítica

Câmera do diretor vai à raiz da ação

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O grande drama de Jason Bourne, em "O Ultimato Bourne", é a contradição que há nessa sua correria: ele é perseguido por todos ao mesmo tempo em que está atrás de algo.
E o que busca, no caso, é seu passado, algo bastante penoso para alguém cuja memória foi borrada por uma amnésia.
É uma busca, portanto, bastante difícil, e também dramática, pois o mundo que o diretor Paul Greengrass apresenta na tela é o do inesperado, com acontecimentos em ritmo alucinante, puro caos. Um mundo semelhante, aliás, ao de "Vôo United 93", e não é por menos que a aflição dos passageiros e controladores de vôo desse filme muito lembra a ansiedade de Bourne e de seus perseguidores da CIA.
Essa grave situação, digna do mais tenso thriller dos tempos de Guerra Fria, é muito bem traduzida em imagens neste "O Ultimato Bourne". O casamento dos movimentos de câmera (na mão, e bem atenta, dando zoom no que interessa), trilha incidental (modulada de acordo com o clima no qual a história está) e a montagem (respeitando harmonicamente os deslocamentos, mas bem estilhaçada, selvagem, como é a missão pessoal do herói) é algo acima da média do que é realizado hoje no cinema de ação mundial.
Mas não é bem essa dramaturgia visual quem dá a identidade do filme. É a fidelidade da câmera a seu protagonista, Bourne.
Assim como ele, a lente vai até a raiz das coisas, arrebentando-se contra carros, tremendo em desespero entre rua e outra, correndo, mas sempre atenta ao que de fato interessa na cena.
A imagem e Bourne são uma única coisa. E imagem é a grande identidade da arte cinematográfica.


Avaliação: ótimo

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