São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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Eleição sem trilha

Artistas da MPB discutem prós e contras da lei que proíbe os showmícios

Fernando Santos - 26.jun.84/Folhapress
Musa da campanha das Diretas-Já, a cantora Fafá de Belém participa de comício na praça da Sé, em SP, em junho de 1984

AMANDA QUEIRÓS
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

"Por que foi mesmo que se proibiram os showmícios?" A pergunta é de Caetano Veloso, que já cantou em palanques quando isso era permitido e, segundo diz, faria o mesmo na eleição deste ano.
Prática que ganhou força a partir do movimento das Diretas, em 1984, os showmícios foram proibidos pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2006, numa reforma que também aboliu a distribuição de brindes por candidatos aos eleitores.
Com o assunto de volta à pauta, a Folha ouviu o que pensam a respeito os artistas que já se envolveram nesse tipo de adesão política.
"A presença de um artista querido pode ser tomada como um brinde ao eleitor", disse Caetano, por e-mail. "Mas não é necessariamente isso: pode ser apoio político deliberado por parte do artista e, mesmo quando pago, pode ser parte da mensagem do candidato."
Segundo o cantor, a liberação de brindes materiais pode ser tomada como abertura para a compra de votos, "mas uma canção cantada por alguém querido não é algo que você leva para casa".
Musa do movimento das Diretas, Fafá de Belém considera a proibição "uma farsa". Ela argumenta que a música é componente agregador e, se não for feita ao vivo, será tocada mecanicamente.
"Estando ou não o artista lá, a música dele está rolando -sem autorização e, muitas vezes, nem o Ecad [direitos autorais] é pago", diz.
Veterano dos showmícios, tendo cantado nas campanhas de Tasso Jereissati, Ciro Gomes, Aécio Neves e Mario Covas, o cantor Raimundo Fagner apoia a proibição.
Para ele, é preciso haver alguma relação ideológica entre o artista e o candidato.
"Muito artista grande não tem nenhum critério, troca de palanque como quem troca de camisa e vai pelo dinheiro mesmo", opina.
É mais ou menos o que pensa Lobão, que se apresentou na campanha de Lula à Presidência, em 1989. Ele lembra que, naquele ano, aconteceu de uma mesma banda fazer shows para partidos de ideologias opostas.
"Essa indústria tem que parar, é coisa de sem-vergonha", diz. "Ser pago para fazer isso faz do artista uma espécie de marqueteiro, que é um parasita da política."


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