|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Eleição sem trilha
Artistas da MPB discutem prós e contras da lei que proíbe os showmícios
Fernando Santos - 26.jun.84/Folhapress
|
|
Musa da campanha das Diretas-Já, a cantora Fafá de Belém participa de comício na praça da Sé, em SP, em junho de 1984
AMANDA QUEIRÓS
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO
"Por que foi mesmo que se
proibiram os showmícios?"
A pergunta é de Caetano Veloso, que já cantou em palanques quando isso era permitido e, segundo diz, faria o
mesmo na eleição deste ano.
Prática que ganhou força a
partir do movimento das Diretas, em 1984, os showmícios foram proibidos pelo
TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2006, numa reforma que também aboliu a distribuição de brindes por candidatos aos eleitores.
Com o assunto de volta à
pauta, a Folha ouviu o que
pensam a respeito os artistas
que já se envolveram nesse
tipo de adesão política.
"A presença de um artista
querido pode ser tomada como um brinde ao eleitor",
disse Caetano, por e-mail.
"Mas não é necessariamente
isso: pode ser apoio político
deliberado por parte do artista e, mesmo quando pago,
pode ser parte da mensagem
do candidato."
Segundo o cantor, a liberação de brindes materiais pode ser tomada como abertura
para a compra de votos,
"mas uma canção cantada
por alguém querido não é algo que você leva para casa".
Musa do movimento das
Diretas, Fafá de Belém considera a proibição "uma farsa".
Ela argumenta que a música
é componente agregador e,
se não for feita ao vivo, será
tocada mecanicamente.
"Estando ou não o artista
lá, a música dele está rolando
-sem autorização e, muitas
vezes, nem o Ecad [direitos
autorais] é pago", diz.
Veterano dos showmícios,
tendo cantado nas campanhas de Tasso Jereissati, Ciro
Gomes, Aécio Neves e Mario
Covas, o cantor Raimundo
Fagner apoia a proibição.
Para ele, é preciso haver
alguma relação ideológica
entre o artista e o candidato.
"Muito artista grande não
tem nenhum critério, troca
de palanque como quem troca de camisa e vai pelo dinheiro mesmo", opina.
É mais ou menos o que
pensa Lobão, que se apresentou na campanha de Lula à
Presidência, em 1989. Ele
lembra que, naquele ano,
aconteceu de uma mesma
banda fazer shows para partidos de ideologias opostas.
"Essa indústria tem que
parar, é coisa de sem-vergonha", diz. "Ser pago para fazer isso faz do artista uma espécie de marqueteiro, que é
um parasita da política."
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Frases Índice
|