São Paulo, sábado, 22 de agosto de 1998

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NOVA MÚSICA NOVA
Trompetista alemão deve tocar hoje em SP, no 34º Festival Música Nova
SP importa "som intuitivo" de Markus Stockhausen

IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

Se tudo der certo, o trompetista alemão Markus Stockhausen fará, hoje, no Itaú Cultural, o concerto mais esperado do 34º Festival Música Nova.
No dia do 70º aniversário de seu pai (o compositor Karlheinz Stockhausen), o trompetista e o Ensemble fur Intuitive Musik, de Weimar, trazem um programa comemorativo.
Entre as obras escolhidas -todas do Stockhausen pai- estão "Innerhalb" e "Wach", do ciclo "Fur Kommende Zeiten" (1970).
Há ainda "Eingang und Formel" (1978), "Pietà" (1991), e "Treffpunkt", do famoso ciclo "Aus den Sieben Tagen" ("Dos Sete Dias", de 1968), uma das peças emblemáticas da "música intuitiva", estética que foi fundada pelo compositor Karlheinz Stockhausen nos anos 60.
Segundo a "música intuitiva", os intérpretes não devem se guiar por uma notação convencional, mas por estímulos verbais, como "jejuar durante quatro dias", por exemplo.
Quando concedeu esta entrevista exclusiva, por telefone, à Folha, da cidade de Colônia (Alemanha), na última segunda-feira, Markus Stockhausen mostrou-se muito preocupado com as circunstâncias de sua vinda ao Brasil, fazendo críticas pesadas à organização do festival.
"Não há reservas na Varig, em Frankfurt", disse. "Além disso, muitas coisas não estão claras, como o transporte dos instrumentos."

Folha - Quais são suas principais atividades hoje?
Markus Stockhausen -
Sou um solista e musicista free-lance. Trabalho com meu pai, mas não tanto quanto no passado. Acabo de dar aulas em Kuerten, sua cidade natal. Também atuo como solista clássico junto a orquestras e como improvisador de jazz -não tanto no estilo "free jazz", dos anos 60, mas no estilo intuitivo de meu pai.
Folha - Qual seria a principal diferença entre a "música intuitiva" de seu pai e o que chamamos de improvisação no jazz?
Stockhausen -
A estética da "música intuitiva" é mais abstrata e menos estilística. Tenta-se evitar misturas com o jazz e outros tipos de música e ser sempre original e novo, desde que possível.
Folha - O programa que vocês vão tocar no Brasil é formado basicamente de peças antigas de seu pai?
Stockhausen -
Sim, exceto "Pietà", que é de 91. De qualquer forma, a "música intuitiva" é sempre nova. Só o texto é antigo.
Folha - Ao improvisar, você se sente também um compositor?
Stockhausen -
Um baixista com quem toquei há dez anos chamava a improvisação de "composição instantânea". Mas são palavras dele. Acho que sentar e escrever música durante semanas, ou meses, é um negócio diferente de improvisar. Naturalmente, quando improvisa, a gente compõe sons, mas chamar-me de compositor só por improvisar é algo que não vou fazer.
Folha - E qual é o processo para se tocar "música intuitiva"?
Stockhausen - Além de entrar na estética de meu pai é preciso seguir a intuição. Chamo isso de "conexão vertical", em oposição à horizontal. Falando em termos físicos, você tem de ouvir mais o que vem de cima do que o que vem do plano do horizonte.
Folha - Como é a sua relação com a música de outros compositores contemporâneos?
Stockhausen -
Menos intensa. Interpretei algumas obras de poucos compositores, como o húngaro Kurtag.
Folha - Quais seus próximos planos de gravação?
Stockhausen -
Estarei levando ao Brasil um CD com quatro obras de meu pai, que acabo de gravar pela EMI. Tenho mais um projeto de "música intuitiva", em que toco sozinho em uma igreja, que deve sair pela ECM.


Concerto: Markus Stockhausen (trompete) e Ensemble fur Intuitive Musik Quando: hoje, às 21h Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 238-1700) Quanto: entrada franca


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