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NOVA MÚSICA NOVA
Trompetista alemão deve tocar hoje em SP, no 34º Festival Música Nova
SP importa "som intuitivo" de Markus Stockhausen
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
Se tudo der certo, o trompetista
alemão Markus Stockhausen fará,
hoje, no Itaú Cultural, o concerto
mais esperado do 34º Festival Música Nova.
No dia do 70º aniversário de seu
pai (o compositor Karlheinz Stockhausen), o trompetista e o Ensemble fur Intuitive Musik, de
Weimar, trazem um programa comemorativo.
Entre as obras escolhidas -todas do Stockhausen pai- estão
"Innerhalb" e "Wach", do ciclo
"Fur Kommende Zeiten" (1970).
Há ainda "Eingang und Formel" (1978), "Pietà" (1991), e
"Treffpunkt", do famoso ciclo
"Aus den Sieben Tagen" ("Dos
Sete Dias", de 1968), uma das peças emblemáticas da "música intuitiva", estética que foi fundada
pelo compositor Karlheinz Stockhausen nos anos 60.
Segundo a "música intuitiva",
os intérpretes não devem se guiar
por uma notação convencional,
mas por estímulos verbais, como
"jejuar durante quatro dias", por
exemplo.
Quando concedeu esta entrevista exclusiva, por telefone, à Folha,
da cidade de Colônia (Alemanha),
na última segunda-feira, Markus
Stockhausen mostrou-se muito
preocupado com as circunstâncias
de sua vinda ao Brasil, fazendo críticas pesadas à organização do festival.
"Não há reservas na Varig, em
Frankfurt", disse. "Além disso,
muitas coisas não estão claras, como o transporte dos instrumentos."
Folha - Quais são suas principais
atividades hoje?
Markus Stockhausen - Sou um
solista e musicista free-lance. Trabalho com meu pai, mas não tanto
quanto no passado. Acabo de dar
aulas em Kuerten, sua cidade natal. Também atuo como solista
clássico junto a orquestras e como
improvisador de jazz -não tanto
no estilo "free jazz", dos anos 60,
mas no estilo intuitivo de meu pai.
Folha - Qual seria a principal diferença entre a "música intuitiva"
de seu pai e o que chamamos de
improvisação no jazz?
Stockhausen - A estética da
"música intuitiva" é mais abstrata e menos estilística. Tenta-se evitar misturas com o jazz e outros
tipos de música e ser sempre original e novo, desde que possível.
Folha - O programa que vocês
vão tocar no Brasil é formado basicamente de peças antigas de seu
pai?
Stockhausen - Sim, exceto
"Pietà", que é de 91. De qualquer
forma, a "música intuitiva" é
sempre nova. Só o texto é antigo.
Folha - Ao improvisar, você se
sente também um compositor?
Stockhausen - Um baixista com
quem toquei há dez anos chamava
a improvisação de "composição
instantânea". Mas são palavras
dele. Acho que sentar e escrever
música durante semanas, ou meses, é um negócio diferente de improvisar. Naturalmente, quando
improvisa, a gente compõe sons,
mas chamar-me de compositor só
por improvisar é algo que não vou
fazer.
Folha - E qual é o processo para
se tocar "música intuitiva"?
Stockhausen - Além de entrar na
estética de meu pai é preciso seguir a intuição. Chamo isso de "conexão vertical", em oposição à horizontal. Falando em termos físicos, você tem de ouvir mais o que
vem de cima do que o que vem do
plano do horizonte.
Folha - Como é a sua relação com
a música de outros compositores
contemporâneos?
Stockhausen - Menos intensa.
Interpretei algumas obras de poucos compositores, como o húngaro Kurtag.
Folha - Quais seus próximos planos de gravação?
Stockhausen - Estarei levando
ao Brasil um CD com quatro obras
de meu pai, que acabo de gravar
pela EMI. Tenho mais um projeto
de "música intuitiva", em que toco sozinho em uma igreja, que deve sair pela ECM.
Concerto: Markus Stockhausen
(trompete) e Ensemble fur Intuitive Musik
Quando: hoje, às 21h
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel.
238-1700)
Quanto: entrada franca
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