São Paulo, sábado, 22 de agosto de 1998

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Os Beatles tocam hoje em São Paulo

ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

Quem? Isso mesmo. Para nós, os Beatles estão no Brasil: o Prodigy toca hoje à noite em São Paulo, após uma espera tão curta quanto o pavio de sua explosão. O grupo que é o principal nome da música eletrônica do planeta responde pela proeza de ter estreitado o litígio entre tecno e rock. Agora vamos ver como é que isso funciona, na prática e na porrada.
Com muito barulho, extremo domínio de palco, iluminação que agrada ravers e roqueiros, atitude punk e visual (no mínimo) pós-moderno, o Prodigy se apresenta na madrugada (previsão de entrar no palco à 1h30).
Na cena da chamada dance music, eles já são véios de guerra. Foi em 91 que o grupo chamou a atenção, vindo de Essex (Inglaterra), com o hino "Charly" -ruídos, vozes de criança e um trecho de desenho junto às batidas do estilo hardcore, então celebrado no circuito inglês das raves. No Brasil, quem ia ao Sra. Krawitz, um úmido porão no centro de São Paulo, também vai registrar.
A revolução sonora do grupo já começava a se caracterizar, já que, feito ímã, o Prodigy foi pegando limalhas de gêneros como o hip hop e o reggae.
Dois anos depois, outra bomba, "Music for the Jilted Generation", e eles ganham status de pop star: os quatro caras (o palhação Keith Flint; o assustador vocalista Maxim Reality; o mentor e tecladista Liam Howlett; o faz-nada e dançarino Leeroy Thornhill) tornam-se também porta-vozes de uma geração acossada pelo reacionarismo britânico.
Vêm dessa época (94) os megahits "Poison" e "Voodoo People", histórica e histérica, xamânica e enlouquecida.
Mas o grande lance de dados só viria em 97. O Prodigy conquista a América -foi a manchete de dez entre dez revistas de música naquele período. A conquista tinha mais do que os elementos da "Cool Brittania" que veríamos depois, ou apenas o sucesso de mais um grupo inglês na América.
Tratava-se de fazer os americanos engolirem goela abaixo o tecno inventado lá mesmo e até então menosprezado pela indústria pop. Muitas guitarras, um hip hop agressivo e o arrebatador videoclipe de "Breathe" (premiado como a Escolha do Público naquele ano) colaboraram para conquistar também um público universitário, não necessariamente afeito a manifestações sob a luz estrobo, tirando o Prodigy de um suposto "mundinho club" internacional.
Assim, de lá para cá, o Prodigy puxou a cena eletrônica para outros patamares, tirando-a do gueto com esse excepcional "The Fat of The Land". Liam Howlett diz que quer que o público brasileiro corresponda ao Prodigy. Bem... vai ser fácil. Let it be.



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