São Paulo, Quarta-feira, 22 de Setembro de 1999
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TELEVISÃO

"Terra Nostra" acerta sem ousar


ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha

Em 1990, Benedito Ruy Barbosa foi para a Rede Manchete para fazer "Pantanal". O ritmo lento da narrativa dirigida por Jayme Monjardim esbanjava tempo nas paisagens bucólicas do Oeste brasileiro. O tema da novela propunha um novo olhar para o território nacional "500 anos depois".
A aposta nas águas límpidas que ainda correm "no coração do Brasil" sintonizou o cansaço do esforço insistente em uma modernização predatória. E legitimou um desejo meio "passé" de tranquilidade que alimenta uma nostalgia da vida no campo.
"Pantanal" repercutiu porque rompeu convenções narrativas consolidadas. "Pantanal" rendeu "Renascer" e "O Rei do Gado", duas das novelas de maior ibope da década de 90. É nesse legado que se apóia "Terra Nostra".
A nova saga de Benedito Ruy Barbosa estreou com pompa. O navio que traz os imigrantes da Itália é monumental nas suas referências cinematográficas de "Potenkim" a "Titanic". O contraste entre o filme preto-e-branco representante da história e o romance colorido embalado ao som da tarantela e da ladainha religiosa dos camponeses que atravessam o Atlântico impressiona.
O primeiro capítulo esbanja informações. Imigrantes italianos bem-sucedidos na avenida Paulista, as fazendas dos barões do café recém-abandonadas pelos escravos após a Lei Áurea, a intimidade ambígua nas relações das mucamas na casa grande, o parto natural sem médico já visto em "Renascer" e "O Rei do Gado".
"Terra Nostra" desenvolve com majestade elementos presentes em suas antecessoras. A alternância do documentário e da ficção, o romance embalado em educação, a sucessão de partes situadas em períodos diferentes -agora três partes distribuídas de maneira mais ou menos uniforme no transcorrer da narrativa.
Ainda é cedo para saber se a novela vai dar um salto e arriscar ir além do luxo. Tem de manter a qualidade de produção mostrada no primeiro capítulo, mas deveria acentuar a preocupação formal e ousar no colorido como ousou no preto-e-branco.
Poderia não se contentar com a transmissão de conhecimentos históricos básicos para encarar a educação de maneira mais provocativa. Poderia radicalizar a dinâmica misturada da ficção e do documentário. Afinal, como mostra "Pantanal", a repercussão vem da ruptura maisdo que da repetição.


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