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TELEVISÃO
"Terra Nostra" acerta sem ousar
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
Em 1990, Benedito Ruy Barbosa
foi para a Rede Manchete para fazer "Pantanal". O ritmo lento da
narrativa dirigida por Jayme
Monjardim esbanjava tempo nas
paisagens bucólicas do Oeste brasileiro. O tema da novela propunha um novo olhar para o território nacional "500 anos depois".
A aposta nas águas límpidas que
ainda correm "no coração do Brasil" sintonizou o cansaço do esforço insistente em uma modernização predatória. E legitimou um
desejo meio "passé" de tranquilidade que alimenta uma nostalgia
da vida no campo.
"Pantanal" repercutiu porque
rompeu convenções narrativas
consolidadas. "Pantanal" rendeu
"Renascer" e "O Rei do Gado",
duas das novelas de maior ibope
da década de 90. É nesse legado
que se apóia "Terra Nostra".
A nova saga de Benedito Ruy
Barbosa estreou com pompa. O
navio que traz os imigrantes da
Itália é monumental nas suas referências cinematográficas de "Potenkim" a "Titanic". O contraste
entre o filme preto-e-branco representante da história e o romance colorido embalado ao som
da tarantela e da ladainha religiosa dos camponeses que atravessam o Atlântico impressiona.
O primeiro capítulo esbanja informações. Imigrantes italianos
bem-sucedidos na avenida Paulista, as fazendas dos barões do café recém-abandonadas pelos escravos após a Lei Áurea, a intimidade ambígua nas relações das
mucamas na casa grande, o parto
natural sem médico já visto em
"Renascer" e "O Rei do Gado".
"Terra Nostra" desenvolve com
majestade elementos presentes
em suas antecessoras. A alternância do documentário e da ficção, o
romance embalado em educação,
a sucessão de partes situadas em
períodos diferentes -agora três
partes distribuídas de maneira
mais ou menos uniforme no
transcorrer da narrativa.
Ainda é cedo para saber se a novela vai dar um salto e arriscar ir
além do luxo. Tem de manter a
qualidade de produção mostrada
no primeiro capítulo, mas deveria
acentuar a preocupação formal e
ousar no colorido como ousou no
preto-e-branco.
Poderia não se contentar com a
transmissão de conhecimentos
históricos básicos para encarar a
educação de maneira mais provocativa. Poderia radicalizar a dinâmica misturada da ficção e do documentário. Afinal, como mostra
"Pantanal", a repercussão vem da
ruptura maisdo que da repetição.
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