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FOTOGRAFIA
Premiado com filmes como "Central do Brasil", artista usa lentes para captar "ventura e desventura da vida"
Carvalho busca êxtase em cenas estáticas
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
A busca pelo "êxtase do momento decisivo" da fotografia tem
levado Walter Carvalho, 56, premiado diretor de fotografia de filmes como "Central do Brasil"
(1998) e "Carandiru" (2003), a
trocar com maior frequência a câmera de cinema pela máquina fotógráfica.
Hoje Carvalho lança na Cinemateca Brasileira, às 20h, em São
Paulo, o livro "Fotografias de um
Filme" (Cosac & Naify), com
imagens realizadas no set de filmagem de "Lavoura Arcaica"
(01), longa de Luiz Fernando Carvalho baseado na obra homônima de Raduan Nassar. Durante o
lançamento haverá uma sessão
com o making of do filme.
Além de realizar a direção de fotografia do filme, Carvalho sacou
sua câmera fotográfica, da qual
nunca se separa, para fazer alguns
registros em preto-e-branco durante os intervalos e os ensaios
dos atores. "O mundo colorido eu
gosto de contemplar, para fotografar tem que ser em preto-e-branco. É no preto-e-branco que
está contida a ventura e a desventura da vida", diz.
Parte da ventura de Carvalho
pode ser vista até o dia 28 no Instituto Moreira Salles, em SP, na
mostra "Walter Carvalho, Fotógrafo", em que estão expostas
imagens feitas em viagens e o ensaio "Matadouro Público", no
qual flagra gados sendo abatidos.
Tanto no livro como na exposição fica clara a relação obsessiva
de Carvalho com a câmera e o desejo de documentar tudo o que
está ao seu redor. "Imagino a fotografia estática como um tiro em
que a precisão tem que ser total
para atingir o alvo. Se me precipito ou atraso um segundo para disparar, posso perder o momento.
A idéia de captar esse momento
decisivo me fascina. Fico trêmulo
quando sinto que acertei, que
atingi o zen. Meu coração dispara.
É quando olho, mente e coração
se alinham. No cinema não existe
esse momento crucial", diz.
Decupagem
Preso aos limites da locação,
Carvalho não conseguiu em "Fotografias de um Filme" um resultado tão interessante como nas
descompromissadas imagens da
mostra. No meio termo entre a
documentação clássica e uma leitura menos formal as imagens do
filme não vão muito além de um
making of, termo que o autor diz
detestar. A exceção é a bela sequência colorida do ator Selton
Mello, gerada pelo acaso: Carvalho se confundiu e colocou na câmera um filme colorido já operado anteriormente. A sobreposição de imagens produzida pelo
erro criou uma atmosfera lúdica
que remete a imagens sacras.
Ao caminhar pelas cidades,
Carvalho deixa que algumas imagens se imponham a ele: "A gente
é visto pela cidade ao mesmo tempo que a vemos", diz. Como
quem faz anotações sobre o percurso, segue colecionando imagens que se juntam num fio narrativo imprevisto.
O ensaio dos matadouros parece ser o ponto de equilíbrio entre
o movimento do cinema e a estática da fotografia. Ali o ponto de
vista do fotógrafo consegue, enfim, a decupagem necessária para
alinhar olho, mente e coração ao
mirar homem, boi e morte.
FOTOGRAFIAS DE UM FILME. Autor:
Walter Carvalho. Editora: Cosac & Naify.
Quanto: R$ 55 (124 págs., 61 fotos).
WALTER CARVALHO, FOTÓGRAFO.
Onde: Instituto Moreira Salles (r. Piauí,
844, 1º andar, Higienópolis, São Paulo,
tel. 0/xx/11/3825-2560). Quando: de ter.
a sex., das 13h às 19h; sáb. e dom., das
13h às 18h. Entrada franca. Até 28 de
setembro.
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