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LITERATURA
Em evento no Rio, editores e público se encontram e especialistas discutem saídas para crise no mercado editorial
Primavera dos Livros traz propostas para o mercado
JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL
É chegada a primavera! Com
ela, árvores mais verdes, campos
apinhados de flores, animaizinhos trotando pelos vales e qualquer outro clichê da estação que
caiba lembrar. Os livros? Os livros
permanecerão esquecidos nas
prateleiras, mas isso não há de ser
exclusividade do trimestre. Há
tempos, no Brasil, é assim que eles
estão, plastificados e ainda com a
etiqueta que lhes determina o preço, distantes e inacessíveis a qualquer respeitável público.
Que seja concedido cogitar, entretanto, um tempo de páginas
mais fartas, em letras e olhares.
Começa hoje, com a estação que
lhe dá o nome, a 5ª Primavera dos
Livros, no Rio, que neste ano tem
como mote a discussão de alternativas economicamente viáveis
para o mercado editorial brasileiro, em eterna tempestade. Sim,
não custa ser otimista: é possível
que um tempo de bonança esteja
por começar nesta outra primavera. Só é preciso tomar cuidado
para verificar a quem se destinará
a hipotética fartura.
O encontro é organizado pela
Libre (Liga Brasileira de Editoras), que congrega as empresas
menores, de menor visibilidade,
de estandes exangues em qualquer outra feira. Do outro lado
poderiam estar alguns grupos internacionais que têm entrado no
mercado brasileiro. Ao menos de
hoje até domingo, serão as menores as protagonistas.
A Primavera é uma feira, sim,
mas não tem como único intuito
o de vender, e sim o de "colocar
editor e leitor em contato direto,
para que o público possa conhecer todo o trabalho, todo o catálogo dessas editoras menos visíveis", explica Araken Ribeiro Jr.,
que toma posse hoje como presidente da Libre. Ele destaca também o caráter híbrido do evento,
que tem, além de lançamentos diversos e homenagens, palestras e
mesas de debate.
Já de partida, aliás, a ênfase do
encontro vem à tona. A segunda
mesa de hoje tem o ousado título
de "Saindo da crise: propostas para o mercado editorial", com a
participação de dois economistas
que há tempos vêm estudando a
questão, em trabalho relacionado
ao BNDES. Fábio Sá Earp e George Kornis, que apresentaram na
Primavera do ano passado um
amplo estudo estatístico sobre o
tema, agora dão continuidade ao
trabalho formalizando algumas
propostas para o setor.
Devidamente esquematizadas,
Earp resume suas três principais
propostas: em primeiro lugar, a
destinação de mais verbas para as
bibliotecas, com um capital proveniente do recém criado Fundo
Nacional Pró-Leitura; em seguida, a criação de um vale-livro para
estudantes carentes, nos moldes
do vale-transporte, também com
dinheiro do fundo; por fim, uma
ampliação do alcance da Lei
Rouanet, para que seus recursos
possam ir além dos livros de ciências humanas e artes.
Quanto ao fundo, define um detalhe como ponto fulcral de suas
propostas: "Ele poderia receber
diretamente as doações de qualquer pessoa com um abatimento
do imposto de renda e um benefício fiscal, da maneira que se faz
pela Lei do Audiovisual". Com isso, explica, seria desburocratizado o processo, pois não seria mais
necessário que o governo aprovasse projeto por projeto para
conceder o benefício.
Medidas que transformariam o
mercado editorial como um todo,
sem dúvida, mas que poderiam
ser integradas a uma de Ribeiro,
que propõe pela Libre "o estudo e
a viabilização de formas cooperação entre as editoras pequenas,
para diminuir custos e, em conseqüência, os preços que os consumidores têm de pagar".
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