São Paulo, sábado, 22 de outubro de 2005

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OUTRO LADO

Editora diz que herdeiros barram modernização

DA REPORTAGEM LOCAL

A Brasiliense afirma que os herdeiros de Monteiro Lobato impedem a modernização de sua obra infantil e adulta. A seguir, leia trechos da resposta da editora enviada à Folha por e-mail e assinada por Maria Teresa de Lima, sócia-diretora e vice-presidente, e Célia Rogalski, diretora editorial.
"As obras de Monteiro Lobato nunca foram negligenciadas pela Brasiliense. Projetos de colorização e modernização da obra corriam bem até 1997, ano do primeiro processo ajuizado (e perdido) pelos herdeiros contra a editora.
Em 1998, processos foram abertos e, a partir daí, fomos bombardeados por uma avalanche de medidas cautelares e processos de rescisão contratual. Também em 98, os herdeiros se recusaram a receber seus direitos autorais, o que ensejaria, caso não os pagássemos, em rescisão contratual (....)
Mesmo assim, em 98, concluímos o que seria o primeiro livro infantil com um novo formato, contendo as ilustrações de André Le Blanc colorizadas. Na época, ele ainda estava vivo, residindo no exterior e autorizou a colorização. O texto original foi mantido na íntegra, e introduzimos nas laterais das páginas, como se fossem links, verbetes que explicavam palavras ou expressões utilizadas por Monteiro Lobato e que caíram em desuso (...) Na data do lançamento, que aconteceria na biblioteca infantil Monteiro Lobato, em São Paulo, os herdeiros do autor obtiveram um mandado de busca e apreensão, acompanhados de oficial de Justiça e advogados, interromperam o lançamento e apreenderam os exemplares disponíveis no local. O fato foi amplamente divulgado na mídia (...) Desnecessário comentar o constrangimento e prejuízo financeiro e de imagem que tivemos perante nosso parceiro, clientes, fornecedores e demais autores da Brasiliense (...)
A proposta de modernização das obras infantis ficou suspensa. Altos investimentos já haviam sido realizados: dos 24 títulos infantis de autoria de Monteiro Lobato, 14 já estavam com os seus trabalhos editoriais concluídos (...) Foram os herdeiros de Monteiro Lobato que nos impediram de qualquer tentativa de modernização os livros. Vale ressaltar que, em nenhum momento, o texto original do autor foi adulterado ou houve, da nossa parte, intenção de fazê-lo (...)
Desconhecemos quais foram os especialistas consultados pela Folha. No entanto, concordamos com eles e com a opinião dos livreiros: a obra infantil de Monteiro Lobato não é atraente para as crianças. Mas nós tentamos, sem sucesso, dar seguimento ao nosso projeto. Sobre a obra adulta, não chegou a ser uma causa criminal, mas ainda é objeto de ações cíveis. Seria de pouca (ou quase nenhuma) visão empresarial, Brasiliense optar por manter em estoque exemplares: a) das obras adultas de Lobato sem revisão ortográfica, com capas com um padrão gráfico da década de 70/80 e que nenhum livreiro quer em suas prateleiras (os pedidos, quando acontecem, servem para atender encomendas); b) das obras infantis impressas em uma cor, sem um glossário para expressões e palavras em desuso, disputando espaço nas prateleiras das livrarias com livros coloridos e convidativos para às crianças."
(LM)


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