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"A QUEDA DO FUJIMORI"
Documentário mergulha na política peruana
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
Deixemos Hugo Chávez de
lado por um momento e voltemos aos anos 90: naquela época,
a moda era discutir o polêmico
presidente peruano, Alberto Fujimori. Nos dez anos em que esteve
no poder, inaugurou a reeleição
na América Latina, criou o autogolpe, dissolveu o Congresso e
usou esquadrões da morte para
derrotar o violento grupo terrorista Sendero Luminoso.
De quebra, protagonizou lances
cinematográficos, como a retomada da Embaixada do Japão em
Lima, e de realismo fantástico,
quando renunciou quando estava
no exterior. Não deixa de ser sintomático que, se a oposição hoje
acusa o governo Lula de práticas
chavistas, os petistas de antanho
denunciavam a "fujimorização"
do Brasil pelas mãos de FHC.
"Foi um período de loucura",
define um melancólico Fujimori,
na entrevista concedida do exílio
ao revelador documentário "A
Queda do Fujimori", da diretora
norte-americana Ellen Perry. Editado no formato "pré-Michael
Moore", o filme revisita episódios
marcantes desse governo temporão com imagens da época entrecortadas por depoimentos de especialistas, personagens e, sobretudo, da família Fujimori. O grande mérito, aliás, é conseguir reviver esse momento dramático da
história peruana e, ao mesmo
tempo, o drama de uma família
de classe média que se esfacela
quando o tal poder sobe à cabeça.
A ascensão de Fujimori, em
1990, se parece mais com a de Collor. Engenheiro agrônomo, "el
chino" se valeu do discurso populista contra os "políticos tradicionais" para se eleger presidente de
um país mergulhado em grave
crise econômica e acuado pelo
terror senderista. Como é de praxe em governos desse tipo, logo
veio a crise com o Congresso, onde tinha a minoria. Mas Fujimori
não titubeou: explorando a péssima imagem emanada dos parlamentares, em abril de 1992 promoveu seu famoso autogolpe,
dissolvendo o Congresso e intervindo no Poder Judiciário. A medida de exceção contou com ampla aprovação dos peruanos.
Com força renovada e poderes
ampliados, intensificou o combate aos senderistas, em que os
agentes do Estado usaram métodos tão cruéis quanto os do grupo. Em setembro, o líder máximo
do Sendero, Abimael Guzmán, é
preso e exposto dentro de uma
jaula com roupas listradas inexistentes no sistema carcerário.
Dentro do palácio, no entanto, a
união de 16 anos com Susana Higuchi desmoronava. Mesmo casada, denunciava a corrupção de
seu marido e chegou a ensaiar sua
candidatura à Presidência contra
ele, enquanto ainda moravam
juntos. Em retaliação, o presidente tirou o "cargo" de primeira-dama e entregou à própria filha.
Recentemente, Fujimori tem
ameaçado deixar seu asilo político iniciado em 2000 e se candidatar. Tudo indica, no entanto, que
ele já é passado. Ainda bem.
A Queda do Fujimori
Direção: Ellen Perry
Quando: hoje, às 16h, no Cineclube
Vitrine; e dias 27, às 18h40, Cineclube
Vitrine; e 29, às 16h, no Reserva Cultural
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