São Paulo, sábado, 22 de outubro de 2005

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"A QUEDA DO FUJIMORI"

Documentário mergulha na política peruana

FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

Deixemos Hugo Chávez de lado por um momento e voltemos aos anos 90: naquela época, a moda era discutir o polêmico presidente peruano, Alberto Fujimori. Nos dez anos em que esteve no poder, inaugurou a reeleição na América Latina, criou o autogolpe, dissolveu o Congresso e usou esquadrões da morte para derrotar o violento grupo terrorista Sendero Luminoso.
De quebra, protagonizou lances cinematográficos, como a retomada da Embaixada do Japão em Lima, e de realismo fantástico, quando renunciou quando estava no exterior. Não deixa de ser sintomático que, se a oposição hoje acusa o governo Lula de práticas chavistas, os petistas de antanho denunciavam a "fujimorização" do Brasil pelas mãos de FHC.
"Foi um período de loucura", define um melancólico Fujimori, na entrevista concedida do exílio ao revelador documentário "A Queda do Fujimori", da diretora norte-americana Ellen Perry. Editado no formato "pré-Michael Moore", o filme revisita episódios marcantes desse governo temporão com imagens da época entrecortadas por depoimentos de especialistas, personagens e, sobretudo, da família Fujimori. O grande mérito, aliás, é conseguir reviver esse momento dramático da história peruana e, ao mesmo tempo, o drama de uma família de classe média que se esfacela quando o tal poder sobe à cabeça.
A ascensão de Fujimori, em 1990, se parece mais com a de Collor. Engenheiro agrônomo, "el chino" se valeu do discurso populista contra os "políticos tradicionais" para se eleger presidente de um país mergulhado em grave crise econômica e acuado pelo terror senderista. Como é de praxe em governos desse tipo, logo veio a crise com o Congresso, onde tinha a minoria. Mas Fujimori não titubeou: explorando a péssima imagem emanada dos parlamentares, em abril de 1992 promoveu seu famoso autogolpe, dissolvendo o Congresso e intervindo no Poder Judiciário. A medida de exceção contou com ampla aprovação dos peruanos.
Com força renovada e poderes ampliados, intensificou o combate aos senderistas, em que os agentes do Estado usaram métodos tão cruéis quanto os do grupo. Em setembro, o líder máximo do Sendero, Abimael Guzmán, é preso e exposto dentro de uma jaula com roupas listradas inexistentes no sistema carcerário.
Dentro do palácio, no entanto, a união de 16 anos com Susana Higuchi desmoronava. Mesmo casada, denunciava a corrupção de seu marido e chegou a ensaiar sua candidatura à Presidência contra ele, enquanto ainda moravam juntos. Em retaliação, o presidente tirou o "cargo" de primeira-dama e entregou à própria filha.
Recentemente, Fujimori tem ameaçado deixar seu asilo político iniciado em 2000 e se candidatar. Tudo indica, no entanto, que ele já é passado. Ainda bem.


A Queda do Fujimori
   
Direção: Ellen Perry
Quando: hoje, às 16h, no Cineclube Vitrine; e dias 27, às 18h40, Cineclube Vitrine; e 29, às 16h, no Reserva Cultural


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