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Chile se entrega na tela grande a dores e amores
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
Com boas presenças na Mostra, o Chile parece ter tomado
fôlego e gosto pelo cinema.
Após o bem-sucedido "Machuca", "Cachimba" e "Apaga
y Vámonos" representam a diversificação da produção, que,
contudo, ainda se ressente da
falta de experiência.
"Cachimba" é um exemplo
de que nem tudo gira em torno
de Pinochet e política. Em seu
sétimo filme, Silvio Caiozzi
("Coronación") pela primeira
vez enfrenta a comédia.
Adaptação de "Naturaleza
Muerta con Cachimba", de José Donoso (1925-1966), trata de
um bancário que, enquanto
tenta convencer a namorada a
ser mais liberal no sexo, descobre raridades de um obscuro
pintor de seu país natal. O humor virá das hipócritas relações sociais, embaladas por dinheiro e prestígio, e da consciência culpada do funcionário,
que se ressente "desse pintor
insensível que é Deus". "É um
retrato cruel da sociedade chilena", diz ele, que se encontra
hoje, às 16h, no Conjunto Nacional, com outros latinos.
"Não é possível filmar no
Chile sem que seja por amor.
Preciso sempre me apaixonar
por uma história. Tentar fazer
cinema sempre resulta numa
quixotada", diz, em alusão ao
personagem de Miguel de Cervantes que luta com moinhos
de vento imaginando gigantes.
Ele reclama do "drama latino": "O que é nosso chega pouco a outros países. Temos de
deixar de lado o preconceito
contra a nossa cultura, dominada pela adoração aos EUA".
Segundo ele, essa postura
vem da época de Pinochet (não
seria possível fugir dele), quando pararam de divulgar a cultura local, associada à figura de
Salvador Allende. Com a chegada ao poder do governo democrático, houve apoio à produção e melhoria da aparelhagem técnica das salas. Conseqüência: o público voltou a
prestigiar os filmes nacionais.
Agora Pinochet, preso e com
graves acusações, está abandonado por todos. "No Chile, se
pode explicar um assassino,
mas não há justificativa para
um ladrão. Não tem perdão."
Voltando às divergências políticas, "Apaga y Vámonos"
trata da resistência do povo
mapuche contra a colonização.
Para tentar barrar o genocídio,
os indígenas lutam contra uma
multinacional que os expulsaram de suas terras para construir uma hidrelétrica.
Com longos (e às vezes chatos) travellings do curso das
águas e depoimentos dos envolvidos (mas nunca dos acusados), Manel Mayol conta a
história dessa gente, que vive
na clandestinidade, perseguida
por acusações de terrorismo.
Aqui, as feridas do Chile parecem sintetizadas na música
final: "Faz muito tempo que
acabou, mas há coisas que as
pessoas não esquecem".
Cachimba
Direção: Silvio Caiozzi
Quando: hoje, às 17h50, no Frei
Caneca Unibanco Arteplex; amanhã,
às 19h50, no MIS; e segunda, às 14h,
no Cine Bombril
Apaga y Vámonos
Direção: Manel Mayol
Quando: hoje, às 17h20, no
Cineclube Vitrine; e dia 25, às 17h50, no Espaço Unibanco
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