São Paulo, sábado, 22 de outubro de 2005

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Chile se entrega na tela grande a dores e amores

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Com boas presenças na Mostra, o Chile parece ter tomado fôlego e gosto pelo cinema. Após o bem-sucedido "Machuca", "Cachimba" e "Apaga y Vámonos" representam a diversificação da produção, que, contudo, ainda se ressente da falta de experiência.
"Cachimba" é um exemplo de que nem tudo gira em torno de Pinochet e política. Em seu sétimo filme, Silvio Caiozzi ("Coronación") pela primeira vez enfrenta a comédia.
Adaptação de "Naturaleza Muerta con Cachimba", de José Donoso (1925-1966), trata de um bancário que, enquanto tenta convencer a namorada a ser mais liberal no sexo, descobre raridades de um obscuro pintor de seu país natal. O humor virá das hipócritas relações sociais, embaladas por dinheiro e prestígio, e da consciência culpada do funcionário, que se ressente "desse pintor insensível que é Deus". "É um retrato cruel da sociedade chilena", diz ele, que se encontra hoje, às 16h, no Conjunto Nacional, com outros latinos.
"Não é possível filmar no Chile sem que seja por amor. Preciso sempre me apaixonar por uma história. Tentar fazer cinema sempre resulta numa quixotada", diz, em alusão ao personagem de Miguel de Cervantes que luta com moinhos de vento imaginando gigantes.
Ele reclama do "drama latino": "O que é nosso chega pouco a outros países. Temos de deixar de lado o preconceito contra a nossa cultura, dominada pela adoração aos EUA".
Segundo ele, essa postura vem da época de Pinochet (não seria possível fugir dele), quando pararam de divulgar a cultura local, associada à figura de Salvador Allende. Com a chegada ao poder do governo democrático, houve apoio à produção e melhoria da aparelhagem técnica das salas. Conseqüência: o público voltou a prestigiar os filmes nacionais.
Agora Pinochet, preso e com graves acusações, está abandonado por todos. "No Chile, se pode explicar um assassino, mas não há justificativa para um ladrão. Não tem perdão."
Voltando às divergências políticas, "Apaga y Vámonos" trata da resistência do povo mapuche contra a colonização. Para tentar barrar o genocídio, os indígenas lutam contra uma multinacional que os expulsaram de suas terras para construir uma hidrelétrica.
Com longos (e às vezes chatos) travellings do curso das águas e depoimentos dos envolvidos (mas nunca dos acusados), Manel Mayol conta a história dessa gente, que vive na clandestinidade, perseguida por acusações de terrorismo.
Aqui, as feridas do Chile parecem sintetizadas na música final: "Faz muito tempo que acabou, mas há coisas que as pessoas não esquecem".


Cachimba
Direção:
Silvio Caiozzi
Quando: hoje, às 17h50, no Frei Caneca Unibanco Arteplex; amanhã, às 19h50, no MIS; e segunda, às 14h, no Cine Bombril

Apaga y Vámonos
Direção:
Manel Mayol
Quando: hoje, às 17h20, no Cineclube Vitrine; e dia 25, às 17h50, no Espaço Unibanco


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