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Crítica
Filme mostra imensidão de Fritz Lang
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
À medida que envelhecia,
Fritz Lang se interessava cada
vez mais por um problema aparentemente banal: o momento
em que um homem passa da
inocência (ou da normalidade,
pode-se dizer com mais propriedade) ao crime.
Esse é o assunto que atravessa uma série de seus filmes, em
particular "Suplício de uma Alma" (TCM, 20h35). O filme foi
um retumbante fracasso e encerrou a carreira hollywoodiana do diretor, entre outras coisas, porque tudo ali é inverossímil, e os críticos e espectadores
acham que os filmes devem ser
verossímeis, enquanto Lang
pouco se lixava para isso.
"Suplício de uma Alma" narra a história de dois homens,
um jornalista e um dono de jornal, ambos contra a pena de
morte, que armam uma situação em que o primeiro (Dana
Andrews) criaria uma série de
provas da própria culpabilidade num caso de assassinato,
tendo o cuidado de criar, ao
mesmo tempo, contraprovas.
Com isso, na hora do julgamento, ele e seu patrão desmoralizariam a pena de morte,
mostrando o quanto a coleta de
provas pode ser falível.
As provas são falíveis, mas os
homens também. O momento
de aderir ao crime não é uma
anomalia: é apenas o instante
em que nossa intrínseca corrupção ganha uma batalha e se
revela à luz do dia.
É desses assuntos que trata,
daí por diante, este filme fascinante, em que o rigor e o talento de Lang se mostram em sua
integridade e imensidade.
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