São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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Crítica

Filme mostra imensidão de Fritz Lang

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

À medida que envelhecia, Fritz Lang se interessava cada vez mais por um problema aparentemente banal: o momento em que um homem passa da inocência (ou da normalidade, pode-se dizer com mais propriedade) ao crime.
Esse é o assunto que atravessa uma série de seus filmes, em particular "Suplício de uma Alma" (TCM, 20h35). O filme foi um retumbante fracasso e encerrou a carreira hollywoodiana do diretor, entre outras coisas, porque tudo ali é inverossímil, e os críticos e espectadores acham que os filmes devem ser verossímeis, enquanto Lang pouco se lixava para isso.
"Suplício de uma Alma" narra a história de dois homens, um jornalista e um dono de jornal, ambos contra a pena de morte, que armam uma situação em que o primeiro (Dana Andrews) criaria uma série de provas da própria culpabilidade num caso de assassinato, tendo o cuidado de criar, ao mesmo tempo, contraprovas.
Com isso, na hora do julgamento, ele e seu patrão desmoralizariam a pena de morte, mostrando o quanto a coleta de provas pode ser falível.
As provas são falíveis, mas os homens também. O momento de aderir ao crime não é uma anomalia: é apenas o instante em que nossa intrínseca corrupção ganha uma batalha e se revela à luz do dia.
É desses assuntos que trata, daí por diante, este filme fascinante, em que o rigor e o talento de Lang se mostram em sua integridade e imensidade.


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