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Música
Folk movimenta cena alternativa de São Paulo
Gênero popular nos anos 60 inspira festas e serve de referência para músicos
Studio SP, Bar B e Livraria da Esquina abrigam shows de artistas brasileiros e estrangeiros que usam o folk como inspiração
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Passam das nove da noite, e
pequenos grupos conversam
empolgados entre uma cerveja
e outra enquanto o show não
começa. O lugar é uma livraria,
e em meio a um Manuel Bandeira aqui e um Dostoiévski ali
-há mais livros nas estantes do
que as quase 50 pessoas nas
mesas-, os alto-falantes soltam suaves canções de Devendra Banhart e Badly Drawn
Boy. Este é o 1º Festival da Canção Trovadélica.
O evento, que aconteceu no
último domingo com quatro
shows, é um bom exemplo de
como o folk, que nos anos 60 teve em Bob Dylan seu mais conhecido expoente, vem movimentando uma pequena porém fiel fatia do circuito alternativo de São Paulo.
O gênero serve de inspiração
para o projeto Folk-se, que já
levou ao Studio SP (www.studiosp.org) importantes nomes
da cena internacional, como
Conor Oberst e Bill Callahan, e
que em 27/11 apresenta o cultuado Bonnie "Prince" Billy.
Ele também aparece no nome da festa Folk This Town
(folkthistown.wordpress.com), que acontece quinzenalmente aos domingos no Bar B.
E, por fim, ele ainda está entre as diversas influências de
jovens artistas com audiência
já cativa na cidade, como Lulina
e Vanguart, além de Juliana R.,
da novíssima safra.
"O folk é uma espécie de
guarda-chuva onde se pode colocar várias outras derivações
embaixo", diz o produtor cultural Marcos Boffa, 46, do Folk-se. "Não dá para lançar teorias
explicando o porquê desse interesse tanto aqui quanto no exterior. Mas é como se as pessoas estivessem com uma certa
ressaca de anos de música eletrônica e procurassem algo
mais calmo."
Amauri Stamboroski Jr., 24,
da Folk This Town, relativiza:
"Dizer que é um "boom" é exagero. Mas as pessoas vêm para
realmente ouvir os shows. Não
é uma balada tradicional, onde
você não consegue nem conversar com os amigos".
Tom pessoal
Foi assim no show de Juliana
R., 21, no domingo. Enquanto
apresentava, ao lado do guitarrista Rafael Capanema, canções confessionais como "Since
I've Met You", recém-lançadas
em seu site (www.julianar.com), o público permanecia
em reverente silêncio, entre
aplausos efusivos e um descontrolado grito ("Você me iluminou") de uma garota na platéia.
"O folk é apenas uma de minhas influências, não quero ficar presa apenas em um estilo.
Adoro Bob Dylan, mas o folk já
teve sua época", diz a cantora,
que pretende lançar um EP e
fazer mais shows apenas no
ano que vem.
"Tem poucas pessoas aqui,
mas você tem que lembrar que
foi assim também com o [poeta
beatnik] Allen Ginsberg quando ele fez [em 1955] a primeira
leitura pública do [poema]
"Howl'", diz brincando um dos
organizadores do Trovadélica,
Stan Molina, 27.
"Mas, há, sim, certa retomada do folk, no trabalho de estrangeiros como o Animal Collective [que toca em 8/11 no
festival Planeta Terra, em SP]
ou o freakfolk do Devendra Banhart. Houve uma certa falência da lírica na canção, com o
"boom" de bandas experimentais de pós-rock ou math-rock.
Aqui é diferente de uma discoteca, é quase um sarau, onde as
pessoas prestam atenção no
que é dito."
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