São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2008

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Música

Folk movimenta cena alternativa de São Paulo

Gênero popular nos anos 60 inspira festas e serve de referência para músicos

Studio SP, Bar B e Livraria da Esquina abrigam shows de artistas brasileiros e estrangeiros que usam o folk como inspiração


BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Passam das nove da noite, e pequenos grupos conversam empolgados entre uma cerveja e outra enquanto o show não começa. O lugar é uma livraria, e em meio a um Manuel Bandeira aqui e um Dostoiévski ali -há mais livros nas estantes do que as quase 50 pessoas nas mesas-, os alto-falantes soltam suaves canções de Devendra Banhart e Badly Drawn Boy. Este é o 1º Festival da Canção Trovadélica.
O evento, que aconteceu no último domingo com quatro shows, é um bom exemplo de como o folk, que nos anos 60 teve em Bob Dylan seu mais conhecido expoente, vem movimentando uma pequena porém fiel fatia do circuito alternativo de São Paulo.
O gênero serve de inspiração para o projeto Folk-se, que já levou ao Studio SP (www.studiosp.org) importantes nomes da cena internacional, como Conor Oberst e Bill Callahan, e que em 27/11 apresenta o cultuado Bonnie "Prince" Billy.
Ele também aparece no nome da festa Folk This Town (folkthistown.wordpress.com), que acontece quinzenalmente aos domingos no Bar B.
E, por fim, ele ainda está entre as diversas influências de jovens artistas com audiência já cativa na cidade, como Lulina e Vanguart, além de Juliana R., da novíssima safra.
"O folk é uma espécie de guarda-chuva onde se pode colocar várias outras derivações embaixo", diz o produtor cultural Marcos Boffa, 46, do Folk-se. "Não dá para lançar teorias explicando o porquê desse interesse tanto aqui quanto no exterior. Mas é como se as pessoas estivessem com uma certa ressaca de anos de música eletrônica e procurassem algo mais calmo."
Amauri Stamboroski Jr., 24, da Folk This Town, relativiza: "Dizer que é um "boom" é exagero. Mas as pessoas vêm para realmente ouvir os shows. Não é uma balada tradicional, onde você não consegue nem conversar com os amigos".

Tom pessoal
Foi assim no show de Juliana R., 21, no domingo. Enquanto apresentava, ao lado do guitarrista Rafael Capanema, canções confessionais como "Since I've Met You", recém-lançadas em seu site (www.julianar.com), o público permanecia em reverente silêncio, entre aplausos efusivos e um descontrolado grito ("Você me iluminou") de uma garota na platéia.
"O folk é apenas uma de minhas influências, não quero ficar presa apenas em um estilo. Adoro Bob Dylan, mas o folk já teve sua época", diz a cantora, que pretende lançar um EP e fazer mais shows apenas no ano que vem.
"Tem poucas pessoas aqui, mas você tem que lembrar que foi assim também com o [poeta beatnik] Allen Ginsberg quando ele fez [em 1955] a primeira leitura pública do [poema] "Howl'", diz brincando um dos organizadores do Trovadélica, Stan Molina, 27.
"Mas, há, sim, certa retomada do folk, no trabalho de estrangeiros como o Animal Collective [que toca em 8/11 no festival Planeta Terra, em SP] ou o freakfolk do Devendra Banhart. Houve uma certa falência da lírica na canção, com o "boom" de bandas experimentais de pós-rock ou math-rock. Aqui é diferente de uma discoteca, é quase um sarau, onde as pessoas prestam atenção no que é dito."


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