São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2010

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Em "Rancor", críticos duelam por poder

Texto de Otavio Frias Filho, que opõe visões clássica e radical da arte, é remontado sob a direção de Ivan Feijó

Relato da experiência do jornalista como ator no Teatro Oficina, "O Terceiro Sinal" tem reestreia em São Paulo

LUCAS NEVES
DE SÃO PAULO

No centro da arena, dois críticos de arte disputam a ascendência sobre a opinião pública. A fileira de espectadores convocados alternadamente para afiar armas e egos de cada lado acomoda o escritor inseguro, a repórter à caça de manchete e a bem-nascida que busca lugar nas altas rodas intelectuais.
O cenário acima sintetiza a peça "Rancor", que ganha remontagem a partir de hoje, em São Paulo. O texto do jornalista e dramaturgo Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, é dirigido por Ivan Feijó.
Opõe a visão canônica de Berucci (Roney Facchini) ao olhar insubordinado de Leon (Nilton Bicudo), para quem as doutrinas do outro embotaram jovens autores.
Velado, o conflito assume outra dimensão quando sai a tradução do livro "A Angústia da Influência", do crítico Harold Bloom. Ele sustenta que a influência de escritores clássicos sobre novos não pressupõe conciliação e reverência, mas contestação.
Berucci vê na publicação da obra seu fim. A repórter Dadá acusa o baque e tenta cooptar Leon para levar o grão-mestre de vez à lona.
O texto é de 1992. "Embora a peça tenha ressonâncias implícitas, além das ostensivas, do Bloom, ele entra mais como pergunta nunca respondida, até cômica: "O que tem Harold Bloom a ver com tudo isso?'", diz Frias.
Nesses quase 20 anos, algo mudou nos salões da intelligentsia? "Mesmo em 1993 [na primeira montagem], havia algo de pantomima na ênfase com que os intelectuais lutam por um poder tão fugidio [...] Hoje esse efeito deve ficar acentuado", avalia.
Para Feijó, "o texto é atual, pois o controle do que pode ser divulgado, a moldagem dos desejos pela sociedade de consumo estão plenos".
Também hoje volta ao cartaz "O Terceiro Sinal", transposição para o palco do ensaio em que Frias rememora, entremeando imagens de angústia e torpor, a experiência como ator coadjuvante em encenação de "Boca de Ouro", de Nelson Rodrigues, no Teatro Oficina. Bete Coelho empresta corpo e voz às reminiscências.

RANCOR

QUANDO sex. e sáb., às 21h30; até 20/11
ONDE Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 16 anos



O TERCEIRO SINAL

QUANDO sex., às 21h, e sáb., às 20h; até 13/11
ONDE Sesc Ipiranga (r. Bom Pas-tor, 822, tel. 0/xx/11/3340-2000)
QUANTO R$ 16
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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