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Em "Rancor", críticos duelam por poder
Texto de Otavio Frias Filho, que opõe visões clássica e radical da arte, é remontado sob a direção de Ivan Feijó
Relato da experiência do jornalista como ator no Teatro Oficina, "O Terceiro Sinal" tem reestreia em São Paulo
LUCAS NEVES
DE SÃO PAULO
No centro da arena, dois
críticos de arte disputam a
ascendência sobre a opinião
pública. A fileira de espectadores convocados alternadamente para afiar armas e
egos de cada lado acomoda o
escritor inseguro, a repórter à
caça de manchete e a bem-nascida que busca lugar nas
altas rodas intelectuais.
O cenário acima sintetiza a
peça "Rancor", que ganha
remontagem a partir de hoje,
em São Paulo. O texto do jornalista e dramaturgo Otavio
Frias Filho, diretor de Redação da Folha, é dirigido por
Ivan Feijó.
Opõe a visão canônica de
Berucci (Roney Facchini) ao
olhar insubordinado de Leon
(Nilton Bicudo), para quem
as doutrinas do outro embotaram jovens autores.
Velado, o conflito assume
outra dimensão quando sai a
tradução do livro "A Angústia da Influência", do crítico
Harold Bloom. Ele sustenta
que a influência de escritores
clássicos sobre novos não
pressupõe conciliação e reverência, mas contestação.
Berucci vê na publicação
da obra seu fim. A repórter
Dadá acusa o baque e tenta
cooptar Leon para levar o
grão-mestre de vez à lona.
O texto é de 1992. "Embora
a peça tenha ressonâncias
implícitas, além das ostensivas, do Bloom, ele entra mais
como pergunta nunca respondida, até cômica: "O que
tem Harold Bloom a ver com
tudo isso?'", diz Frias.
Nesses quase 20 anos, algo
mudou nos salões da intelligentsia? "Mesmo em 1993 [na
primeira montagem], havia
algo de pantomima na ênfase
com que os intelectuais lutam por um poder tão fugidio
[...] Hoje esse efeito deve ficar
acentuado", avalia.
Para Feijó, "o texto é atual,
pois o controle do que pode
ser divulgado, a moldagem
dos desejos pela sociedade
de consumo estão plenos".
Também hoje volta ao cartaz "O Terceiro Sinal", transposição para o palco do ensaio em que Frias rememora,
entremeando imagens de angústia e torpor, a experiência
como ator coadjuvante em
encenação de "Boca de Ouro", de Nelson Rodrigues, no
Teatro Oficina.
Bete Coelho empresta corpo e voz às reminiscências.
RANCOR
QUANDO sex. e sáb., às 21h30;
até 20/11
ONDE Sesc Pinheiros (r.
Paes Leme, 195, tel.
0/xx/11/3095-9400)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
O TERCEIRO SINAL
QUANDO sex., às 21h, e sáb., às
20h; até 13/11
ONDE Sesc Ipiranga (r. Bom Pas-tor, 822, tel. 0/xx/11/3340-2000)
QUANTO R$ 16
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
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