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"QUANDO AS MÁQUINAS PARAM"
Espetáculo traz ao palco realidade insuperada
KIL ABREU
CRÍTICO DA FOLHA
Talvez não haja no repertório do dramaturgo Plínio
Marcos um tema tão apropriado
aos dias atuais quanto este de
"Quando as Máquinas Param". A
história do casal enredado na falência financeira e no fracasso
provocado pelo desemprego
reencontra, 30 anos depois da
criação do texto, o perverso eco
histórico que atualiza a fábula e
espelha com urgência dramática a
realidade ainda insuperada.
O que garante o terrível frescor
da obra é a denúncia da alienação
quase animal de seus personagens, e isso sem que haja no texto,
a rigor, uma discussão política da
miséria, ao menos não em seu primeiro plano.
Zé (Edmilson Cordeiro) e Nina
(Cássia Goulart) polarizam um
procedimento importante na fase
criativa mais profícua de Plínio: o
interesse em investigar os limites
existenciais de seres distanciados
de qualquer possibilidade de inserção, que não encontram o espaço em que se possam reconhecer para além do papel de objetos
no jogo social.
E, se não encontram reconhecimento no coletivo, pouco reconhecem a si mesmos. O Zé da história iguala a mulher ao time de
futebol, uma mesma e indiferenciada paixão, e prefere matar a
ver-se sustentado pela sogra. Dividida entre os apelos cotidianos e
o acanhado imaginário habitado
por galãs e concursos de miss, Nina mostra ser capaz, no entanto,
de pensar soluções práticas e de
projetar sua imagem de classe.
O conflito tende a se constituir,
então, na arena aberta entre essa
fala rude, incapaz de interpelar a
si mesma, e o discurso pré-consciente, articulado pela mulher,
que dá argumentos para uma luta
que avança da virulência verbal
para a ameaça física.
A montagem dirigida por Joaquim Goulart pouco contorna as
dificuldades que o texto oferece e
contenta-se em fazer um depoimento cênico que reforça as tintas
da dramaticidade, mas não investiga o meio-tom entre uma e outra sequência da ação.
O texto de Plínio Marcos centraliza sua força em um mesmo mote, dado nos primeiros minutos
da peça, mas acrescenta a ele variações que veremos transformadas no decorrer da narrativa em
importantes elementos de intensificação.
Ao eleger uma dinâmica que
tenta flagrar o clima claustrofóbico do conflito, o diretor mostra
pouco interesse em explorar esse
crescimento e coloca a cena já
desde o início em sua temperatura máxima, alimentada sobretudo
pelo "over acting" de Edmilson
Cordeiro. Alguma compensação
acontece nas intervenções de Cássia Goulart, que não tem pressa na
revelação de sua personagem e é
responsável pelos melhores momentos do espetáculo.
Chapada em um alto volume e
na gestualidade excessiva, a encenação perturba menos pelo significado do drama que pela tentativa permanente, mas nem sempre
frutífera, de convencimento da
platéia.
Quando as Máquinas Param
Texto: Plínio Marcos
Direção: Joaquim Goulart
Com: Edmilson Cordeiro e Cássia Goulart
Onde: teatro Augusta - sala
experimental (r. Augusta, 943, tel. 0/xx/
11/3151-4141)
Quando: sex., às 21h30; sáb., às 22h30, e
dom., às 19h; até 16/12
Quanto: de R$ 10 a R$ 15
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