São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 2005

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Letras migram de volta para o papel

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo visto, as letras, que antes migravam do papel para o mundo virtual, estão fazendo, cada vez mais, o caminho de volta. Prova disso é o crescente número de publicações que reproduzem textos feitos originalmente para blogs e afins. No ano passado, a editora Barracuda se lançou no mercado com "Wunderblogs.com", coletânea de textos de 11 blogs. Esta semana chegam às prateleiras, além dos relatos de Bruna Surfistinha, o "Blog de Papel", da editora Gênese, e "Blônicas", da editora Jaboticaba.
Os lançamentos parecem um sinal de que a internet não é mais a vilã, mas sim mocinha na formação do leitor. De acordo com o Retrato da Leitura no Brasil, um estudo divulgado na semana passada pela Câmara Brasileira do Livro, o país tem um mercado de leitores potenciais de cerca de 40 milhões de jovens, entre 14 e 29 anos. Numa entrevista para a "Panorama Editorial", publicação da CBL, Paulo Werneck, editor de livros infanto-juvenis da Cosacnaify, defende que "as novas tecnologias estão trazendo um certo retorno com relação à palavra escrita". Alguns blogueiros assinam embaixo.
"Os blogs literários podem sim aquecer o mercado de leitores potenciais, pois esses se tornam visitantes assíduos, com uma fidelidade difícil de se ver hoje em dia", defende Nelson Botter, organizador do "Blônicas".
"Além disso cria-se uma marca, uma já conhecida bandeira, o que comercialmente falando é uma grande vantagem para os editores, pois há a certeza de que se trata de um livro que não parte do zero para a conquista dos leitores", arremata.
Dona da editora Gênese, que se dedica há quatro anos à publicação de escritores revelados na internet, Alê Félix se juntou ao escritor Nelson Natalino no projeto de "Blog de Papel". Félix, que também assina um blog, o www.alexfelix.com.br, diz que é impossível ler alguns blogs e não imaginá-los no papel.
"Nunca tive dúvidas de que, no futuro, grandes nomes da literatura serão de autores que nunca seriam publicados se os seus posts não tivessem caído nas graças dos leitores de blogs", sustenta a editora. "A migração da internet para o papel não só existe como está fazendo o contrário, está provando que a resistência e até mesmo um possível preconceito contra a ferramenta blog são tão estúpidos quanto os que os escritores da época das máquinas de escrever tinham contra computadores."
Natalino, que chegou aos autores compilados em "Blog de Papel" navegando na rede, ressalta que todos se tornaram leitura obrigatória para ele, pelo conteúdo, pela fluência, pela característica narrativa que continham e pela qualidade de seus blogs.
"Entendi que deveria estender os textos dos autores a leitores que não têm o hábito de acessar a internet, mas que gostam de ler um bom livro", diz Natalino, dono do www.sinaleiroamarelo.blogger.com.br.
Marcelino Freire, autor compilado em "Blônicas" e dono do www.eraodito.blogspot.com, acredita que os blogs estimulam a leitura fora da rede e representam uma revolução, como instrumentos de divulgação, sem intermediários.
"É o cara no computador, sozinho, escrevendo o que quiser, e o outro, sozinho no computador, lendo. Os blogs são perfeitos instrumentos de divulgação. Eu mesmo uso o meu para divulgar poucas e boas. Dar furos literários. Fofocar sobre lançamentos. Acontecimentos por aí, enfim."
Já o escritor Santiago Nazarian, autor de "Feriado de Mim Mesmo" e cujo www.santiagonazarian.blogspot.com já teve até 500 visitas por dia, não é tão otimista. Para ele, a força dos blogs foi diluída pela sua proliferação.
"Essa coisa de escritores que são "descobertos pela internet", como foram o [João Paulo] Cuenca, a Clarah [Averbuck] e o [Daniel] Galera, está cada vez mais difícil. Tem gente demais com blog. Muita gente publicando em sites literários. Então as editoras não prestam mais tanta atenção nisso".


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