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Letras migram de volta para o papel
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo visto, as letras, que antes
migravam do papel para o mundo virtual, estão fazendo, cada vez
mais, o caminho de volta. Prova
disso é o crescente número de publicações que reproduzem textos
feitos originalmente para blogs e
afins. No ano passado, a editora
Barracuda se lançou no mercado
com "Wunderblogs.com", coletânea de textos de 11 blogs. Esta semana chegam às prateleiras, além
dos relatos de Bruna Surfistinha,
o "Blog de Papel", da editora Gênese, e "Blônicas", da editora Jaboticaba.
Os lançamentos parecem um sinal de que a internet não é mais a
vilã, mas sim mocinha na formação do leitor. De acordo com o
Retrato da Leitura no Brasil, um
estudo divulgado na semana passada pela Câmara Brasileira do Livro, o país tem um mercado de
leitores potenciais de cerca de 40
milhões de jovens, entre 14 e 29
anos. Numa entrevista para a "Panorama Editorial", publicação da
CBL, Paulo Werneck, editor de livros infanto-juvenis da Cosacnaify, defende que "as novas tecnologias estão trazendo um certo
retorno com relação à palavra escrita". Alguns blogueiros assinam
embaixo.
"Os blogs literários podem sim
aquecer o mercado de leitores potenciais, pois esses se tornam visitantes assíduos, com uma fidelidade difícil de se ver hoje em dia",
defende Nelson Botter, organizador do "Blônicas".
"Além disso cria-se uma marca,
uma já conhecida bandeira, o que
comercialmente falando é uma
grande vantagem para os editores, pois há a certeza de que se trata de um livro que não parte do
zero para a conquista dos leitores", arremata.
Dona da editora Gênese, que se
dedica há quatro anos à publicação de escritores revelados na internet, Alê Félix se juntou ao escritor Nelson Natalino no projeto de
"Blog de Papel". Félix, que também assina um blog, o www.alexfelix.com.br, diz que é impossível
ler alguns blogs e não imaginá-los
no papel.
"Nunca tive dúvidas de que, no
futuro, grandes nomes da literatura serão de autores que nunca
seriam publicados se os seus posts
não tivessem caído nas graças dos
leitores de blogs", sustenta a editora. "A migração da internet para o papel não só existe como está
fazendo o contrário, está provando que a resistência e até mesmo
um possível preconceito contra a
ferramenta blog são tão estúpidos
quanto os que os escritores da
época das máquinas de escrever
tinham contra computadores."
Natalino, que chegou aos autores compilados em "Blog de Papel" navegando na rede, ressalta
que todos se tornaram leitura
obrigatória para ele, pelo conteúdo, pela fluência, pela característica narrativa que continham e pela
qualidade de seus blogs.
"Entendi que deveria estender
os textos dos autores a leitores
que não têm o hábito de acessar a
internet, mas que gostam de ler
um bom livro", diz Natalino, dono do www.sinaleiroamarelo.blogger.com.br.
Marcelino Freire, autor compilado em "Blônicas" e dono do
www.eraodito.blogspot.com,
acredita que os blogs estimulam a
leitura fora da rede e representam
uma revolução, como instrumentos de divulgação, sem intermediários.
"É o cara no computador, sozinho, escrevendo o que quiser, e o
outro, sozinho no computador,
lendo. Os blogs são perfeitos instrumentos de divulgação. Eu
mesmo uso o meu para divulgar
poucas e boas. Dar furos literários. Fofocar sobre lançamentos.
Acontecimentos por aí, enfim."
Já o escritor Santiago Nazarian,
autor de "Feriado de Mim Mesmo" e cujo www.santiagonazarian.blogspot.com já teve até 500
visitas por dia, não é tão otimista.
Para ele, a força dos blogs foi diluída pela sua proliferação.
"Essa coisa de escritores que são
"descobertos pela internet", como
foram o [João Paulo] Cuenca, a
Clarah [Averbuck] e o [Daniel]
Galera, está cada vez mais difícil.
Tem gente demais com blog. Muita gente publicando em sites literários. Então as editoras não prestam mais tanta atenção nisso".
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