|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Witching Hour"
Quarteto caminha para a excelência pop ao mergulhar em temas sombrios
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos anos 80, a melancolia era fator indissociável do rock. Smiths,
Cure, Joy Division: a escuridão
era o caminho da modernidade,
do (não) futuro. Na década seguinte, as roupas escuras foram
trocadas por coloridas camisas
listradas, e as bandas "shoegazer" levaram adiante o legado
tristonho, mas agora envolto
por guitarras distorcidas.
Com "Witching Hour", o
Ladytron dá prosseguimento a
essa tradição inglesa, ao mesmo tempo em que incorpora
seus antecessores. Se nos (ótimos) discos anteriores soava
como um cruzamento entre
Kraftwerk, Human League e
Britney Spears, agora o grupo
abre espaço de vez à sua faceta
dark, sem abandonar a doçura.
Mas trata-se de um peso etéreo, que remete a Cocteau
Twins, Lush e My Bloody Valentine, com guitarras que não
soam como guitarras, mas sim
como sons reprocessados, mais
um elemento eletrônico, após
passar por pedais de distorção.
As "guitarras" só não são a estrela maior do disco porque
Helen Marnie finalmente solta
a (frágil) voz para esquentar o
sangue (frio) da banda. Marnie
proclama que a luz do dia é o
inimigo ("Soft Power"), fala sobre alegrias temporárias e vagas ("Sugar", uma espécie de
Doors/ Kinks distorcidos por
sintetizadores), sobre hedonismo nas tensões entre a sexta e a
segunda-feira ("Weekend") e
vê a destruição ("Destroy
Everything You Touch"). Já
Mira Aroyo esfria a tímida tensão sexual de Hernie, que remete ao rock "bubblegum" dos
anos 60, com um vocal quase
falado, do leste europeu, em
"Fighting in Built Up Areas". O
saudosismo do Ladytron vem
não só no seu humor, mas também no antigo conceito de criar
faixas que compõem uma obra
fechada, um álbum, enfim -algo hoje passadista.
(BYS)
WITCHING HOUR
Artista: Ladytron
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 29,90
Texto Anterior: Ladytron traz ao Brasil seu tecnopop roqueiro Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|