São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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Festival destaca obra de Bertolucci

Lançado em 1970, "A Estratégia da Aranha" faz ponte entre clássicos e contemporâneos em mostra que revê a herança fascista na Itália

Longas de vertente política de Bertolucci e Carlo Lizzani são destaques da mostra Venezia Cinema Italiano, no Cine Bombril e no CCSP

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

O diretor e roteirista Bernardo Bertolucci mal havia completado 30 anos quando "O Conformista" e "A Estratégia da Aranha", ambos lançados em 1970 e tendo o fascismo como pano de fundo, consolidaram-no como um dos principais talentos de sua geração, talvez a última a manter o prestígio do cinema italiano no patamar do neo-realismo no Pós-Guerra e mantido até o ciclo político dos anos 60 e 70.
Com as deformações do circuito exibidor, sob o controle da indústria norte-americana, a oportunidade de comparar essa forte tradição italiana com a produção contemporânea do país tornou-se restrita a festivais e mostras como a Venezia Cinema Italiano, cuja terceira edição será aberta hoje e vai até o dia 29/11, no Cine Bombril e no Centro Cultural São Paulo.
A programação traz sete longas exibidos no Festival de Veneza deste ano. Caberá a Bertolucci fazer a ponte entre a produção de ontem e a de hoje com a exibição de cópia restaurada de "A Estratégia da Aranha", que venceu o Leão de Ouro no 75º aniversário do festival.
Inspirado no conto "Tema do Traidor e do Herói", do argentino Jorge Luis Borges, o filme acompanha o retorno de um jovem (Giulio Brogi) à pequena cidade onde foi assassinado o pai, que não conheceu. À medida que investiga a morte, o filho descobre o que talvez preferisse ignorar, sobretudo porque a história já foi estabelecida e não cabe reescrevê-la.
Ainda mais veterano do que Bertolucci, no entanto, é Carlo Lizzani, 85, nome importante na revitalização do próprio Festival de Veneza, na década de 1980. Diretor de "Os Amantes de Florença" (1953) e "Fontamara" (1980), ele terá exibido pela mostra seu longa mais recente, "Hotel Meina", que também se debruça, como "A Estratégia da Aranha" e os filmes do próprio Lizzani aqui mencionados, sobre o fascismo.
Baseado em história verídica reconstituída em livro de Marco Nozza, o filme se ambienta em 1943, no hotel do título, no lago Maggiore, que pertence a um judeu com passaporte turco. A neutralidade do lugar - que, em tese, protegeria um grupo de judeus italianos- é ameaçada por uma divisão de soldados nazistas que se instala ali depois do armistício entre italianos e aliados.
A vertente política também está presente em "O Horário de Pico", de Vincenzo Marra, que acompanha a inescrupulosa escalada social de um jovem fiscal da receita (Michele Lastella), e em "O Doce e o Amargo", de Andrea Porporati, sobre duas décadas na vida de um mafioso (Luigi Lo Cascio).

Outros destaques
Os demais títulos da Venezia Cinema Italiano estiveram recentemente na programação da Mostra Internacional de São Paulo. Em "A Garota do Lago", de Andréa Molaioli (ator em filmes de Nanni Moretti como "Aprile" e "O Quarto do Filho"), policiais investigam os laços obscuros que levam a crimes em uma pequena comunidade.
A comédia "Não Pense Nisso" (exibido na Mostra como "Nem Pensar!"), de Gianni Zanasi, mostra o reencontro de um músico de rock (Valerio Mastandrea) com os pais e os irmãos. E o virtuosístico "Valzer" (na Mostra, "A Valsa"), de Salvatore Maira, usa um único plano-seqüência de 90 minutos para alinhavar as histórias de diversos personagens que circulam em um hotel.


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