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Festival destaca obra de Bertolucci
Lançado em 1970, "A Estratégia da Aranha" faz ponte entre clássicos e contemporâneos em mostra que revê a herança fascista na Itália
Longas de vertente política de Bertolucci e Carlo Lizzani são destaques da mostra Venezia Cinema Italiano, no Cine Bombril e no CCSP
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O diretor e roteirista Bernardo Bertolucci mal havia completado 30 anos quando "O
Conformista" e "A Estratégia
da Aranha", ambos lançados
em 1970 e tendo o fascismo como pano de fundo, consolidaram-no como um dos principais talentos de sua geração,
talvez a última a manter o prestígio do cinema italiano no patamar do neo-realismo no Pós-Guerra e mantido até o ciclo
político dos anos 60 e 70.
Com as deformações do circuito exibidor, sob o controle
da indústria norte-americana,
a oportunidade de comparar
essa forte tradição italiana com
a produção contemporânea do
país tornou-se restrita a festivais e mostras como a Venezia
Cinema Italiano, cuja terceira
edição será aberta hoje e vai até
o dia 29/11, no Cine Bombril e
no Centro Cultural São Paulo.
A programação traz sete longas exibidos no Festival de Veneza deste ano. Caberá a Bertolucci fazer a ponte entre a produção de ontem e a de hoje com
a exibição de cópia restaurada
de "A Estratégia da Aranha",
que venceu o Leão de Ouro no
75º aniversário do festival.
Inspirado no conto "Tema do
Traidor e do Herói", do argentino Jorge Luis Borges, o filme
acompanha o retorno de um jovem (Giulio Brogi) à pequena
cidade onde foi assassinado o
pai, que não conheceu. À medida que investiga a morte, o filho
descobre o que talvez preferisse ignorar, sobretudo porque a
história já foi estabelecida e
não cabe reescrevê-la.
Ainda mais veterano do que
Bertolucci, no entanto, é Carlo
Lizzani, 85, nome importante
na revitalização do próprio
Festival de Veneza, na década
de 1980. Diretor de "Os Amantes de Florença" (1953) e "Fontamara" (1980), ele terá exibido
pela mostra seu longa mais recente, "Hotel Meina", que também se debruça, como "A Estratégia da Aranha" e os filmes
do próprio Lizzani aqui mencionados, sobre o fascismo.
Baseado em história verídica
reconstituída em livro de Marco Nozza, o filme se ambienta
em 1943, no hotel do título, no
lago Maggiore, que pertence a
um judeu com passaporte turco. A neutralidade do lugar -
que, em tese, protegeria um
grupo de judeus italianos- é
ameaçada por uma divisão de
soldados nazistas que se instala
ali depois do armistício entre
italianos e aliados.
A vertente política também
está presente em "O Horário de
Pico", de Vincenzo Marra, que
acompanha a inescrupulosa escalada social de um jovem fiscal
da receita (Michele Lastella), e
em "O Doce e o Amargo", de
Andrea Porporati, sobre duas
décadas na vida de um mafioso
(Luigi Lo Cascio).
Outros destaques
Os demais títulos da Venezia
Cinema Italiano estiveram recentemente na programação
da Mostra Internacional de São
Paulo. Em "A Garota do Lago",
de Andréa Molaioli (ator em filmes de Nanni Moretti como
"Aprile" e "O Quarto do Filho"),
policiais investigam os laços
obscuros que levam a crimes
em uma pequena comunidade.
A comédia "Não Pense Nisso" (exibido na Mostra como
"Nem Pensar!"), de Gianni Zanasi, mostra o reencontro de
um músico de rock (Valerio
Mastandrea) com os pais e os
irmãos. E o virtuosístico "Valzer" (na Mostra, "A Valsa"), de
Salvatore Maira, usa um único
plano-seqüência de 90 minutos
para alinhavar as histórias de
diversos personagens que circulam em um hotel.
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